Professor emérito na USP, ele é uma das figuras mais importantes para a reflexão e crítica cultural no Brasil. Velório será realizado neste domingo (13), na Cinemateca Brasileira, entre 13h e 17h.
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Jean-Claude Bernardet, cineasta, professor e crítico de cinema, morre em SP — Foto: Lívia Machado/G1 |
O cineasta, escritor, professor e crítico de cinema Jean-Claude Bernardet morreu neste sábado (12), em São Paulo, aos 88 anos. Nascido na Bélgica e de família francesa, ele passou a infância em Paris e veio para o Brasil aos 13 anos, onde se naturalizou brasileiro.
Bernardet tinha câncer de próstata e, há algum tempo, decidiu que não se submeteria mais a tratamentos. No livro "O corpo crítico", de 2021, ele discute a decisão de parar com a quimioterapia e fala sobre seu diagnóstico soropositivo, tornado público na década de 1990.
Um amigo da família confirmou a morte do cineasta à TV Globo. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na capital, e de acordo com documentos obtidos, a causa da morte foi um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O velório será realizado neste domingo (13), na Cinemateca Brasileira, entre 13h e 17h, instituição na qual o cineasta foi um dos parceiros fundamentais durante a vida.
"Na instituição, passou por diversas funções, sempre com foco no seu desenvolvimento e fortalecimento. Ele teve uma capacidade excepcional de análise de forma totalizante, acreditando na interlocução entre a crítica e a produção cinematográfica", diz trecho da nota emitida pela Cinemateca.
Professor emérito na Universidade de São Paulo (USP), Bernardet é reconhecido por ser um dos nomes fundamentais na crítica cultural brasileira. Ele morou por anos no topo do Edifício Copan, no Centro.
Como professor, Bernardet influenciou diretamente a produção e o estudo do cinema no Brasil, contribuindo para o cinema ser entendido como prática artística, política e social. Além disso, alavancou a arte para o campo acadêmico, político e cultural.
Nas redes sociais, escritores, artistas e intelectuais brasileiros lamentaram a morte do cineasta. A antropóloga, historiadora, professora da USP Lilia Schwarcz, imortal da Academia Brasileira de Letras, escreveu que "numa época em que tudo virou superficial e sem espaço, Jean-Claude fez outra escola".
"Morreu o Jean-Claude Bernardet, esse ícone da crítica de cinema, numa época em que existia esse gênero (a crítica) e que ele era levado a sério."
Função social do cinema
A obra do cineasta também discutiu a estética e a função social do cinema, especialmente em relação à produção nacional-popular e às tensões entre arte e mercado.
Para ele, o cinema não funciona somente como uma arte estética, mas como um instrumento de intervenção política e social. Ou seja, o cinema deveria dialogar diretamente com a realidade brasileira, refletindo e questionando as estruturas sociais, políticas e econômicas do país — em especial as contradições da classe média e a ausência de um cinema popular genuíno.
Bernardet criticava o uso recorrente da miséria como tema estético em documentários. Em diversas entrevistas, como à revista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o cineasta argumentava que essa abordagem, quando estetizada, despolitiza a questão social e cria um discurso de consenso que não provoca mudanças reais.
Na obra de Bernardet, se destacam filmes que ele co-roteirizou como:
O caso dos irmãos Naves (1967)
Brasília: contradições de uma cidade nova (1968)
Um céu de estrelas (1995)
Ele também co-dirigiu títulos como:
Paulicéia fantástica (1970)
Eterna esperança (1971)
Além disso, atuou em Filmefobia (2009), Periscópio (2013), Fome (2015), entre outros. A trajetória como pesquisador reúne dois ensaios poéticos dirigidos por ele: São Paulo, Sinfonia e Cacofonia (1994) e Sobre Anos 60 (1999).
Em dezembro de 2023, a Cinemateca Brasileira, que abriga o maior acervo cinematográfico da América do Sul, exibiu uma seleção de seis filmes dele com curadoria do próprio cineasta.
Fonte: G1