Mais casos em mulheres e pessoas que nunca fumaram alertam para atenção a sinais persistentes
O câncer de pulmão é o tipo de tumor que mais mata no mundo e, no Brasil, o cenário segue preocupante. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 32,5 mil novos casos devem ser diagnosticados em 2025. Apenas em 2021, a doença foi responsável por mais de 28 mil mortes no país.
Apesar desses números, não temos apenas más notícias. Hoje, contamos com mais recursos para diagnosticar precocemente e tratar de forma personalizada, aumentando as chances de controle e até de cura da doença.
De vilão conhecido a desafio inesperado
O tabagismo (incluindo vapes) ainda é o principal fator de risco, associado a cerca de 80% dos casos no Brasil. No entanto, cresce o número de diagnósticos em não fumantes. Entre as possíveis causas estão:
- Exposição à poluição do ar;
- Gás radônio (substância radioativa natural, presente em algumas construções);
- Contato ocupacional com substâncias cancerígenas;
- Histórico familiar;
- Alterações genéticas adquiridas.
Nos últimos anos, vemos um aumento nos casos em mulheres e em pessoas sem histórico de tabagismo, como destacou uma recente reportagem publicada aqui mesmo no Estadão. Isso muda completamente a percepção de risco e mostra que o câncer de pulmão não é uma doença exclusiva de fumantes.

Número de casos de câncer de pulmão em não fumantes tem aumentado Foto: Anat art/Adobe Stock/Gerado com IA
Sintomas que não devem ser ignorados
Tosse persistente, dor no peito, falta de ar, presença de sangue no escarro, perda de peso e apetite, além de fadiga intensa devem ser investigados mesmo que o paciente nunca tenha fumado.
O segredo é não normalizar sintomas duradouros. Quando o câncer de pulmão é diagnosticado em fases iniciais, as chances de tratamento curativo aumentam de forma significativa. Porém, ainda melhor é o diagnóstico quando este câncer ainda não gerou sintomas, ou seja, com exame de rastreamento.
Como se faz o rastreamento?
As sociedades brasileiras de Cirurgia Torácica e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por imagem publicaram, em 2024, um consenso sobre o rastreamento do câncer de pulmão no Brasil. Apesar disso, esse rastreio ainda não está incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Neste consenso, recomendam a tomografia computadorizada com baixa dose de radiação para pessoas entre 50 e 80 anos com histórico de tabagismo atual (20 anos-maço) ou que pararam há menos de 15 anos.
O rastreamento salva vidas e precisa ser direcionado para quem tem maior risco. É uma conversa que deve ser feita entre paciente e médico, avaliando riscos, benefícios e acesso ao exame. O diagnóstico precoce, reforço, aumenta as chances de cura do câncer de pulmão.
A era da medicina personalizada
Nem todo câncer de pulmão tem origem em fatores externos. Alterações genéticas específicas podem disparar o crescimento descontrolado das células. Hoje, testes moleculares conseguem identificar mutações como EGFR, ALK e ROS1, permitindo o uso de terapias-alvo, que atuam diretamente nessas alterações, com menos efeitos colaterais e maior eficácia.
A incorporação de terapias-alvo e da imunoterapia transformou a história da doença. Pacientes que antes tinham poucos meses de expectativa hoje podem viver anos com qualidade de vida.
Para finalizar, algumas mensagens importantes:
- Parar de fumar é sempre benéfico, em qualquer idade;
- Não fumar não significa estar imune ao câncer de pulmão;
- Sintomas persistentes merecem investigação imediata;
- Informação, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos modernos mudam o destino da doença.
O câncer de pulmão não pode ser visto como uma sentença. Com a medicina atual, muitos casos podem ser curados e outros controlados por longo prazo. Mas, para isso, precisamos vencer a barreira do diagnóstico tardio.
Fonte: Estadão