Nilson de Almeida Gogge, de 54 anos, foi levado pela família até o Hospital Evangélico em Vila Velha e depois para Pronto Atendimento da Glória, escoltado pela Guarda Municipal. Homem morreu no trajeto e família afirma que enfermeiras de hospital negaram atendimento.
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Nilson de Almeida Gogge, de 54 anos, morreu a caminho de Pronto Atendimento em Vila Velha, Espírito Santo — Foto: Reprodução/Redes sociais
Um homem de 54 anos morreu após a família procurar atendimento médico em um hospital de Vila Velha, na Grande Vitória, e ser orientada a procurar um Pronto-Atendimento (PA). Segundo o Boletim de Ocorrência (BO) da Polícia Militar, Nilson de Almeida Gogge foi escoltado pela Guarda Municipal até a unidade no bairro da Glória, mas já chegou morto ao local. O caso foi registrado pela família como omissão de socorro.
A equipe médica do PA tentou reanimar o marceneiro por 50 minutos, mas o homem teve a morte confirmada às 22h04.
Familiares da vítima afirmaram que duas enfermeiras do Hospital Evangélico se negaram a fazer o atendimento ao marceneiro Nilson de Almeida Gogge.
As profissionais de 22 e 36 anos foram levadas para a Delegacia Regional de Vila Velha para prestar depoimento.
Chegada ao hospital
A sobrinha da vítima, Mara Rubia de Almeida, contou que o tio sofria com problemas cardíacos desde o final do ano passado e foi internado no Hospital Evangélico.
Na época, um médico recomendou que se o marceneiro passasse mal novamente, a família deveria buscar o hospital.
"Na hora que nós chegamos para fazer a triagem a enfermeira simplesmente olhou ele e falou que ele estava bem, que ele não estava mal. E era nítido que ele não estava bem. Ela simplesmente disse que não poderia atender ele, que eu teria que ir para uma unidade de saúde, um PA (Pronto Atendimento) porque o hospital não era portas abertas para isso, só para cardíaco. Eu informei para ela que ele já tinha ficado no hospital internado mediante ao problema do coração dele. Que o próprio médico que quando atendeu ele falou que qualquer intercorrência que tivesse que podia levar ele direto para o Evangélico", comentou a sobrinha.
Nesta quinta-feira, Nilson começou a passar mal e com isso, os parentes levaram o homem para o hospital. Mas segundo a família, ao chegarem ao local, duas enfermeiras disseram que não poderiam realizar o atendimento e orientaram que o marceneiro fosse levado para o Pronto Atendimento.
"Me negaram o atendimento. Eu conversei com a enfermeira, falei com ela, supliquei, falei: 'Pelo amor de Deus, pelo menos um médico para ver ele. Ela disse: 'Senhora, não posso, é procedimento do hospital. Eu perdi meu tio porque o hospital se negou a dar o primeiro atendimento. Hoje eu vou correr atrás para poder enterrar o meu tio, só que eu peço que isso não se repita, porque meu tio era um ser humano, estava depressivo, precisava de ajuda e eu fui ali buscando ajuda, e eu não tive essa ajuda do hospital", disse.
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Pronto Atendimento da Glória, em Vila Vila Velha, Espírito Santo. — Foto: Cedoc/TV Gazeta
Guarda fez escolta até PA
Abalada, a sobrinha narrou que a Guarda Municipal passava próximo ao local no momento e a família pediu ajuda aos agentes que levaram Nilson no carro enquanto os guardas escoltavam a trajeto.
Mas o marceneiro não resistiu e faleceu durante o caminho. O inspetor Salomão da Guarda Municipal disse que presenciou o pedido de socorro da família ainda no hospital.
"A guarnição ela quando se deparou com a situação, de imediato chegou até as enfermeiras informando da gravidade. As enfermeiras mais uma vez se negaram a dar o primeiro atendimento para o seu Nilson. Uma das enfermeiras ainda informou que ali não era o SUS. A guarnição diante da situação, vendo que havia necessidade de urgência de deslocamento, abriu caminho para o carro da família, a família seguiu logo atrás da viatura até o PA da Glória. Questão de oito minutos a guarnição já estava com a família dentro do posto de atendimento da Glória, mas infelizmente seu Nilson não resistiu", comentou o inspetor.
Investigações
O Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV) informou que o caso está sendo apurado, lamentou profundamente o desfecho e manifestou solidariedade à família.
Por volta de 12h, a Polícia Civil informou que a ocorrência estava em andamento no plantão vigente da Delegacia Regional de Vila Velha e que somente após a conclusão das oitivas da ocorrência teríam informações sobre o procedimento que será adotado pelo delegado da Central de Teleflagrante.
O Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) informou que tomou conhecimento, por meio da imprensa, de suposto caso de omissão de socorro envolvendo enfermeiras.
Embora a denúncia não tenha sido formalmente comunicada a esta Autarquia Federal, o Coren-ES, na condição de órgão fiscalizador do exercício profissional da enfermagem no Estado, adotará as medidas cabíveis para apuração dos fatos. Caso sejam comprovadas irregularidades na assistência, será instaurado, por ofício, o procedimento administrativo competente para apuração das responsabilidades.
O Coren ressaltou que a enfermagem exerce papel fundamental na assistência à saúde da população, regida pela Lei nº 7.498/86 e pelo Código de Ética da Enfermagem, que estabelece, entre seus deveres, o exercício profissional pautado pela justiça, compromisso, equidade, resolutividade, dignidade, competência e responsabilidade.
“O Coren-ES, como Autarquia Federal regulamentada pela Lei nº 5.905/73, mantém seu compromisso de zelar pelo exercício ético e seguro da enfermagem, garantindo à sociedade um serviço de qualidade. Determinaremos a apuração rigorosa do caso, reforçando que situações isoladas não representam a atuação da categoria, reconhecida pelo papel essencial que desempenha em prol da saúde da população”, afirma o presidente do Coren-ES, Dr. Wilton José Patrício.
Denúncias podem ser registradas diretamente no canal de Ouvidoria do Coren-ES, disponível 24 horas no site www.coren-es.org.br. É fundamental que sejam encaminhadas com o máximo de detalhes possíveis, incluindo nome da unidade, local, data e, se houver, documentos que indiquem indícios ou provas dos fatos relatados.
Fonte: G1 ES