Com mais de 200 estúdios de gravação, centro de formação Community Creators Academy quer profissionalizar mercado de influencers e aproximá-los das marcas.
A cidade de São Paulo ganhou no início deste mês um centro de formação de influencers e criadores de conteúdo digitais. O local é um grande estúdio, com direito a praia artificial e banheiros instagramáveis.
Chamada pelos executivos da empresa de "primeira universidade de criação de conteúdo do Brasil", a Community Creators Academy foi instalada num enorme galpão na Vila Leopoldina, na Zona Oeste da capital. A área tem 14 mil m² e mais de 200 estúdios diferentes, para os alunos poderem criar seus conteúdos e jorrá-los nas redes sociais.
Com cursos que variam de R$ 25 mil a R$ 35 mil, a Creators Academy promete transformar o jeito com que os atuais influencers se portam nas redes sociais, para melhorar a atração das marcas e a comunicação com o público.
A ideia foi do empresário baiano Fabio Duarte, dono de uma agência de publicidade na capital paulista especializada em comunicação digital, a Agência California.
Ele buscou uma parceria com o grupo educacional Ânima Educação – dono da Universidade Anhembi Morumbi – para formatar o espaço e o programa dos cursos, de olho em um "mercado trilionário", segundo Duarte. Fabio diz terem sido investidos cerca de R$ 40 milhões na ideia.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/S/n/If2HCGTbapxP8nDPA1ng/fotojet-4-.jpg)
Banheiro instagramável com estúdio e praia artificial dentro da Community Creators Academy, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de SP. — Foto: Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues, Lucas Amorim e Albert Rodrigo
“A 'created economy' é um mercado gigantesco no mundo, que deve movimentar mais de US$ 1 trilhão nos próximos anos no mundo. E a criação de conteúdo está virando uma grande 'skill' [habilidade] valorizada pelo mercado. Antes se exigia datilografar, Pacote Office, inglês. Hoje a criação de conteúdo e a IA [inteligência artificial] são 'skills' importantes para aceleração de qualquer carreira”, afirmou Fabio.
“Atualmente, 75% dos jovens querem ser influencers no Brasil. Então, essa é uma profissão, ou uma habilidade, que vem crescendo muito e vai gerar muitos negócios. E não existia no mundo um local focado na formação dessa habilidade que 1 bilhão de pessoas querem ser nos próximos anos. E daí veio o insight [ideia] de transformar isso num grande hub”, disse.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/N/G/QKrVivTOSAjPGe8VxdIQ/praia.webp)
Praia artificial dentro da Community Creators Academy, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Lucas Amorim/Divulgação
Curso presencial
As aulas na Creators Academy começaram na primeira semana de agosto, e a "faculdade" conta com cerca de 200 alunos matriculados.
Os cursos oferecidos são segmentados por área e variam de três a seis meses, com aulas presenciais de duas a três vezes por semana.
Médicos, advogados, dentistas, arquitetos e profissionais liberais, por exemplo, têm aulas focadas na atuação para conquistar novas fontes de receita e fisgar os clientes através das redes sociais.
Os alunos participam e produzem videochats, podcasts, aprendem a melhor forma de fazer tutoriais de saúde, moda e qualidade de vida, entre outros.
Os estúdios têm até salão de cabeleireiro e maquiagem, salas de atendimento dermatológico e academia para gravar conteúdos de atividade física.
Segundo a empresa, as aulas são em formato de mentoria, dadas por nomes badalados do mercado, como Igor Coelho, fundador do podcast Flow, e Sarah Fonseca, da plataforma Skin Quer.
Com disciplinas como ética, responsabilidade social, direito digital, empreendedorismo e storytelling, a empresa promete profissionalizar a relação entre marcas e influencers, segundo o CEO.
“Muitos influenciadores começaram de maneira muito orgânica. No improviso, foram fazendo, por terem um sonho de trabalhar com conteúdo, e só depois perceberam que aquilo era um trabalho. E como todo trabalho, você precisa se educar e se formar. A gente quer que o aluno comece desde o início sabendo que conteúdo é um negócio”, afirma Fábio Duarte.
“A proposta é aproximar o aluno do mercado. A gente sabe que o mundo está precisando de mais conexões. Então, a ideia de criar um espaço físico veio dessa necessidade da presença física acelerar a presença digital”, comentou.
O curso mais caro é voltado para executivos que desejam se desenvolver melhor para participar de apresentações, Ted Talks, entrevistas e podcasts.
Banheiro ‘instagramável’
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/z/B/ojTHbNR5aa5GxFDqQz2A/dsc2407.jpg)
Estúdio montado dentro do banheiro da Community Creators Academy, a escola de influencers da Vila Leopoldina. — Foto: Lucas Amorim e Albert Rodrigo/Divulgação
Entre os mais de 200 cenários criados no espaço, o mais usado pelos alunos é o de "social commerce", onde os alunos produzem conteúdo para a venda de produtos em Instagram, TikTok ou Facebook.
Mas o banheiro instagramável é, de longe, o que mais faz sucesso, por conta do ambiente de intimidade que facilita os bate-papos entre as "creators", segundo o empresário.
“Outro dia eu li uma reportagem de uma universidade que estava proibindo gravação de conteúdo nos banheiros para não expor a intimidade de que não deseja aparecer. Mas no banheiro é onde as mulheres vão para se maquiar, ajeitar a roupa, se produzir e falar sobre um produto com a amiga, um encontro, uma desilusão. Então eu resolvi que ia trazer os estúdios no banheiro para facilitar esse clima. E acho que é uma das áreas mais usadas da escola”, disse Fabio.
‘Vestibular americano'
Embora seja uma escola que diz que aceita qualquer tipo de influencer ou criador de conteúdo digital, o ingresso na escola tem um processo seletivo pago, inspirado no modelo de universidades internacionais.
"Nele, o candidato envia uma carta de intenção e um vídeo explicando seus objetivos e motivações para participar do programa. Caso seja aprovado na primeira etapa por nossos especialistas, será convidado para uma entrevista, onde poderá ou não ser selecionado", explica Fabio.
Nesse primeiro momento, a escola diz que está dando preferência para alunos que já tenham familiaridade com o ambiente digital e desejam aprimorar seus conhecimentos e se profissionalizar, diz a entidade.
“A gente tem diversos produtos, mas o público principal é o que já entende que o conteúdo faz parte do seu dia a dia. Então, a gente acelera de creators que estão no início da carreira, até creators que já têm a carreira um pouco consolidada com conteúdo, mas sabem que precisam transformar aquela audiência e seguidores em negócio."
Sobre o valor dos cursos, o executivo da empresa diz estar alinhado com o mercado internacional.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/w/o/XuhnRSRKChAB2bgcWKuA/sala-de-podcast.jpg)
Sala de podcasts da Community Creators Academy, em São Paulo. — Foto: Lucas Amorim e Albert Rodrigo/Divulgação
Num mundo em que os jovens tendem a desistir das carreiras tradicionais para tentar a vida na frente dos celulares, Fabio Duarte diz que a profissionalização dos influencers é um caminho essencial para o sucesso nas redes, mas que não pode descartar a formação tradicional de uma universidade.
"Para mim, é inquestionável o poder da educação. A questão de um diploma universitário é importante e vai continuar sendo importante para a vida [do influencer do futuro]. Mas existe um novo mercado, dos cursos livres, de segmentação de ensino para carreiras que estão precisando dessa nova habilidade, que é o conteúdo. Sou um entusiasta do ‘life is learning’, que é a vida inteira você se aprimorar e aprender algo”, afirma.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/u/p/zzQ7DTTxyg0hTxdXzATQ/20250812-121537.jpg)
Praia artificial dentro da Community Creators Academy, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1
Fonte: G1