PF e MPF desmontam esquema de agiotagem em terras indígenas do ES com indenizações do desastre de Mariana


Foram cumpridas medidas cautelares de prisão e busca dentro da Terra Indígena Tupiniquim-Guarani.


Nessa quinta-feira (25/09), a Polícia Federal prestou apoio ao Ministério Público Federal do Espírito Santo no cumprimento de medidas cautelares de prisão e busca dentro da Terra Indígena Tupiniquim-Guarani.

A ação teve como objetivo combater a prática ilegal de agiotagem na região. Para garantir a execução das medidas de forma segura e dentro da normalidade, foram mobilizados 50 policiais federais.

De acordo com o MPF, a organização criminosa fazia empréstimos a juros abusivos, a título de antecipação das indenizações pagas pela Fundação Renova para os atingidos pelo desastre ambiental em Mariana (MG).

Foram realizados 11 mandados de busca e apreensão em Aracruz, Ibiraçu e nas comunidades indígenas de Caieiras Velha e Irajá. Entre os presos, três são indígenas. Os nomes dos alvos da operação não foram divulgados. O MPF informou que a Fundação Renova não tem relação com o esquema criminoso.

A investigação começou após o MPF receber a informação de que os indígenas estavam sendo vítimas de exploração financeira por receberem o pagamento do auxílio e indenização da Fundação Renova, decorrentes do rompimento da Barragem de Fundão em 2015. Entre 2019 e 2022, a Fundação Renova repassou mais de R$ 113 milhões para as associações que representam os indígenas.

De acordo com a investigação do MPF, o esquema criminoso contou com a participação de ex-dirigentes de associações que facilitaram a atuação de agiotas no território. Os recursos provenientes das indenizações eram desviados para o pagamento de dívidas abusivas contraídas com os suspeitos.

Alguns indígenas chegavam a acumular dívidas superiores ao valor da indenização.


Como o esquema funcionava

👤 Indígenas cooptados informavam agiotas sobre beneficiários
💰 Agiotas adiantavam indenizações com juros abusivos
🏦 Indenizações eram pagas via associações ligadas ao esquema
💸 Dívidas eram descontadas antes de os indígenas receberem o dinheiro
❗Cobrança de dívidas envolvia ameaças e violência


Grupos de agiotagem

Cheques apreendidos durante a Operação Pyatã em combate a agiotagem em terras indígenas no ES — Foto: Divulgação/Ministério Público Federal (MPF)

Foram identificados dois grupos de criminosos que atuavam de forma paralela nos territórios indígenas. O primeiro era chefiado por um homem identificado como o principal agiota. Acompanhado dos filhos, ele concedia empréstimos com juros abusivos, que levavam famílias indígenas ao endividamento permanente.

Para dar aparência de legalidade às operações ilícitas, o grupo simulava contratos de compra e venda e de prestação de serviços, mascarando a verdadeira prática de agiotagem.

O segundo grupo era chefiado por outro homem, que também explorava financeiramente indígenas da região por meio de práticas de agiotagem, impondo juros abusivos. A atuação deles contribuía para ampliar a exploração econômica das comunidades Tupiniquim e Guarani.

A cobrança das dívidas era realizada de forma direta ou por meio de intermediários, que usavam indígenas para desempenhar o papel de cobradores. Esses agentes ameaçavam e eram violentos ao exigir o pagamento das dívidas, o que impunha de medo e coagia os indígenas dentro das próprias comunidades.


Bloqueio de contas

A pedido do MPF, a Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 9,9 milhões em nome dos agiotas e de uma empresa. Também foram bloqueados cerca de R$ 850 mil em nome de ex-integrantes da Associação Indígena Tupiniquim e Guarani.

O MPF e a Polícia Federal pedem que outras vítimas e testemunhas da atuação dos grupos denunciem. Os órgãos reforçam o compromisso com a proteção dos direitos e da integridade dos povos indígenas.


A operação foi batizada de Pyatã, palavra de origem tupi-guarani que significa pedra dura, pé firme e coragem.


Da Redação / Com informações do g1 ES 




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