A alta velocidade e o alerta sonoro são indicados para ocorrências específicas
Nem sempre as ambulâncias precisam correr ou usar a sirene para abrir o caminho. Em certas situações, o melhor é justamente o contrário, ou seja, dirigir devagar e com o alarme sonoro desligado.

Nem sempre é indicado que a ambulância trafegue em alta velocidade e com a sirena ligada Foto: AlfRibeiro/Adobe Stock
Em casos de fratura na coluna, por exemplo, esse cuidado é essencial. Afinal, qualquer solavanco durante o trajeto pode causar sequelas irreversíveis. O mesmo vale para quadros de choque emocional ou hipovolêmico, em que o barulho da sirene e a condução acelerada podem intensificar o problema.
“Outro exemplo é o transporte envolvendo crianças, principalmente os neonatos (recém-nascidos). Esse público tem uma fragilidade no tecido cerebral e a configuração das nossas vias sempre envolve trepidação”, explica Bruno Vilela Angeli, responsável técnico pela área de enfermagem e coordenador do núcleo de educação da SMB Gestão em Saúde, operadora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em diversas regiões do Paraná.
Ainda que os bebês sejam transportados em incubadoras, Angeli informa que a movimentação faz com que o tecido cerebral deles chacoalhe, “o que pode gerar lesões, como hemorragias intracranianas e lesões adicionais difusas, em casos mais críticos.”
O grupo dos cardiopatas também exige um deslocamento tranquilo. “Eles não precisam ir para o hospital com a sirene ligada. Pelo contrário: é interessante que sejam transportados de forma mais sutil e delicada para que mantenham os sinais vitais mais contidos, com pressão arterial e frequências cardíaca e respiratória mais baixas”, detalha Angeli.
A mesma lógica se aplica a pacientes com crises de pânico ou ansiedade intensa. Nessas circunstâncias, o som estridente e as luzes piscando podem agravar os sintomas, enquanto o silêncio contribui para a estabilização do indivíduo. Na verdade, Bruno Ricardy de Miranda Ângelo, médico intervencionista do Samu São Paulo, destaca que a estratégia é imprescindível ao lidar com qualquer quadro mais delicado de saúde mental, em que a prioridade é não expor a vítima nem gerar mais tensão fora e dentro da ambulância.
“Nesses casos, buscamos evitar qualquer exposição, tanto do paciente quanto da família. Por isso, procuramos não ligar a sirene nem chamar atenção. Essa postura aproxima o profissional de saúde do paciente, o que permite um acolhimento e um atendimento melhor”, adiciona.
Vale destacar que, muitas vezes, os estímulos externos são gatilhos diretos, como quando sons e luzes podem precipitar uma crise de convulsão.
Quando é hora de acelerar
Alta velocidade, sirenes e giroflex, aquele sinal luminoso, são recursos para ocorrências críticas, quando cada minuto pode salvar uma vida — como em paradas cardiorrespiratórias ou acidentes graves. Nesse cenário, o som é um indicativo de que motoristas e pedestres devem liberar a passagem com urgência.
A estratégia adotada para o transporte é definida pelo próprio time da ambulância. “Nós trabalhamos em equipe. O médico, que é o líder, avalia e fala como vai ser a abordagem: ‘Não vamos ligar a sirene’, ‘o paciente está agressivo, vamos ter que acionar policiamento para ajudar na conteção’. Toda essa articulação acontece antes do atendimento começar”, explica Ângelo.
As ambulâncias são equipadas para prestar socorro imediato e transportar pacientes em segurança até o hospital. A formação varia: os veículos mais simples costumam contar com um motorista e um técnico ou enfermeiro. Já nas ambulâncias de suporte avançado, temos o motorista, um médico e um enfermeiro ou técnico de enfermagem, além dos equipamentos necessários para manter o paciente estável durante o trajeto.
Fonte: Estadão