Dois óbitos ocorreram em São Bernardo do Campo e um na capital paulista, onde autoridades investigam outros dez casos de intoxicação
A Prefeitura de São Bernardo do Campo confirmou nesta segunda-feira (29/9) a terceira morte suspeita por consumo de bebidas alcoólicas "batizadas" com metanol na Grande São Paulo. Dois óbitos ocorreram no município do ABC Paulista e um na capital paulista, onde ainda há dez casos sob investigação com a mesma suspeita.
Em São Bernardo, a Secretaria da Saúde informou que um homem de 38 anos faleceu em 24 de setembro após atendimento no Hospital de Urgência. O segundo caso se refere a um paciente de 45 anos que morreu em 28 de setembro após receber atendimento na rede particular de saúde.
O que é metanol
O metanol, conhecido como "álcool da madeira", é uma substância altamente tóxica com odor semelhante ao álcool etílico comum. A identificação visual ou por cheiro dificulta-se quando misturado a bebidas alcoólicas, o que aumenta o risco para consumidores de produtos adulterados.
Trata-se de um produto químico industrial encontrado em fluidos anticongelantes e limpadores de para-brisa, não sendo destinado ao consumo humano. O metanol tem aparência e sabor semelhantes ao álcool comum, e os primeiros efeitos também são parecidos — pode causar embriaguez e enjoo, fazendo com que as pessoas inicialmente não percebam que há algo errado.
A ingestão desta substância pode causar intoxicações graves e potencialmente fatais. Os sintomas incluem ataxia (perda de coordenação muscular), sedação, desinibição, dor abdominal, náuseas, vômitos, dor de cabeça, taquicardia, convulsões e visão turva, manifestando-se principalmente após o consumo de bebidas de origem desconhecida.
O dano mais grave ocorre horas depois, quando o corpo tenta eliminar a substância, metabolizando-a no fígado. Este processo gera subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formiato e ácido fórmico, que se acumulam, atacando nervos e órgãos, podendo levar à cegueira, ao coma e à morte.
Início dos casos
Na capital paulista, a fatalidade é um homem de 54 anos, morador da Zona Leste. O paciente começou a apresentar sintomas em 9 de setembro e faleceu seis dias depois, conforme informou a secretaria municipal da Saúde de SP.
O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do estado de São Paulo divulgou que, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol em todo o estado, resultando em dois óbitos - um em São Bernardo do Campo e outro na capital.
Na última sexta-feira (26/9), o Sistema de Alerta Rápido (SAR) do Ministério da Justiça e Segurança Pública emitiu alerta após a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos receber "notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcoólica adulterada".
Os casos foram classificados como "considerados fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol".
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas registrou inicialmente os nove casos e os encaminhou ao Comitê Técnico do SAR. Nos últimos dois anos, o Ciatox havia documentado casos de intoxicação por metanol, principalmente relacionados ao consumo de combustíveis, geralmente associados à população em situação de rua.
Diferentemente dos casos anteriores, as intoxicações recentes ocorreram em ambientes sociais como bares, envolvendo diferentes tipos de bebidas, incluindo gin, whisky e vodka. Esses registros são considerados inéditos pelo centro toxicológico, que alerta para a possibilidade de subnotificação.
Como se proteger
Para se proteger do envenenamento por metanol, recomenda-se comprar bebidas alcoólicas apenas em lojas licenciadas, adquirir drinques somente em bares e hotéis licenciados, evitar bebidas alcoólicas de fabricação caseira, verificar se o lacre da garrafa está intacto e checar a qualidade de impressão ou erros de ortografia no rótulo.
Em caso de suspeita de intoxicação, o CVS recomenda que a pessoa busque imediatamente atendimento médico de emergência. A população pode localizar o serviço de saúde mais próximo através da plataforma oficial disponibilizada pelas autoridades sanitárias do estado de São Paulo. Também é recomendado acionar o Disque-Intoxicação (0800 722 6001), serviço da Anvisa.
O Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) funciona como um subsistema do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas, sendo gerenciado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos e vinculado ao Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas.
Fonte: O Tempo