Cardeal americano celebra Missa Tridentina no Vaticano sob atenção de setores conservadores
Nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos, o rito tridentino se transformou em motivo de divisão entre católicos
O cardeal norte-americano Raymond Burke celebrará neste sábado (25) uma Missa Tradicional em Latim, também conhecida como Missa Tridentina, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A cerimônia, acompanhada de perto por alas tradicionalistas da Igreja Católica, segue o rito estabelecido no Concílio de Trento, no século XVI, com base nos livros litúrgicos anteriores ao Concílio Vaticano II, realizado nos anos 1960.
Nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos, o rito tridentino tem sido motivo de divisões entre católicos, acentuadas após o falecido papa Francisco (2013–2025) impor restrições à celebração desse tipo de missa. O país abriga uma ala conservadora influente, da qual Burke, ex-arcebispo de St. Louis, é um dos principais representantes.
Esses grupos pressionam o novo pontífice, Leão 14, a rever as limitações e permitir novamente o uso mais amplo da Missa Tridentina. Após uma audiência com Burke em agosto, o papa autorizou a celebração deste sábado — decisão vista como um gesto de tolerância, embora sem sinalizar mudanças na política adotada por Francisco.
O papa Leão 14, nascido Robert Francis Prevost em Chicago e eleito em maio, é o primeiro americano a comandar a Igreja Católica. Enquanto progressistas esperam que ele mantenha o espírito reformista de Francisco, os setores conservadores apostam em uma condução mais tradicional.
Para o teólogo Massimo Faggioli, da Trinity College (Irlanda), o tema serve como um “teste” para o novo papa. “Muitos conservadores imaginaram que Leão 14 seria o ‘anti-Francisco’, mas estão percebendo que não é o caso”, afirmou.
Um rito antigo que divide opiniões
Além do latim, o rito tridentino mantém características históricas, como o padre voltado para o altar, o uso de cantos gregorianos e a Comunhão recebida de joelhos. A celebração deste sábado integra a peregrinação Summorum Pontificum, evento anual que reúne fiéis de todo o mundo devotos da liturgia anterior ao Concílio Vaticano II.
Nos últimos dois anos, o grupo não havia obtido permissão para realizar a missa, em razão das restrições impostas por Francisco em 2021, através do documento Traditionis custodes, que limitou o rito e exigiu autorização episcopal prévia.
As missas em latim praticamente desapareceram após o Concílio Vaticano II, que buscou aproximar os fiéis da liturgia, permitindo o uso das línguas locais. O rito foi parcialmente retomado por João Paulo II, e ampliado por Bento 16, mas restringido novamente por Francisco, que criticou o uso “ideológico” da missa antiga.
Entre fé e política
Nos Estados Unidos, o debate sobre o rito tridentino mistura motivação espiritual e política. Muitos fiéis destacam a beleza da cerimônia, mas analistas observam que o rito se tornou símbolo de resistência às reformas do Vaticano II e do papa Francisco.
De acordo com Michael Sean Winters, colunista do National Catholic Reporter, parte dos adeptos vê a missa como uma experiência estética e devocional, enquanto outros a utilizam como forma de protesto político.
Nos últimos anos, a oposição às reformas de Francisco cresceu entre católicos ligados ao Partido Republicano, incluindo o atual vice-presidente americano J.D. Vance, convertido ao catolicismo em 2019 e admirado por tradicionalistas.
Estilo próprio de Leão 14
Ao assumir o pontificado, Leão 14 destacou o desejo de unir a Igreja e adotar um tom conciliador. Seus primeiros meses foram discretos, mas sua decisão de usar vestes mais tradicionais e se mudar para o Palácio Apostólico — abandonado por Francisco — foi bem recebida pelos conservadores.
Ainda assim, suas falas recentes mostram que as diferenças entre ele e Francisco são mais de estilo do que de visão. Leão 14 tem defendido os migrantes, os pobres e o combate às mudanças climáticas, mantendo o foco social de seu antecessor.
Para Faggioli, é cedo para afirmar se a permissão concedida a Burke indica uma mudança de rumo. “Por enquanto, parece que o papa tenta lidar com os setores conservadores de forma mais diplomática”, avalia.
Winters acrescenta que Leão 14 pode buscar reaproximação com críticos de Francisco, mas sem abandonar o caminho das reformas. “Ele pode suavizar restrições, mas continuará guiando a Igreja na mesma direção traçada por seu antecessor”, conclui.
Da redação com informações da BBC News


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