Questionado no início se poderia rever o tarifaço sobre o Brasil ainda neste domingo, Trump disse que estavam abertos a “avançar rápido” nesta discussão.
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| Trump e Lula fazem reunião na Malásia Foto: Felipe Frazão/Estadão |
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump se encontraram na tarde deste domingo (26), madrugada no horário de Brasília, na Malásia.
Trump negou que sejam injustas as razões para aplicar o tarifaço ao Brasil, como defende o governo brasileiro. “Não, acho que tudo é justo. Temos muito respeito pelo seu presidente e pelo Brasil. Provavelmente faremos alguns acordos”, respondeu Trump. “Eles podem oferecer muita coisa, e nós podemos oferecer muita coisa”
“É uma grande honra estar com o presidente do Brasil. É um país grande e bonito e vai muito bem. Acho que seremos capazes de fazer alguns bons acordos para os dois países. Vou deixar isso para Jamieson, Scott e Marco”, disse Trump. “Vamos acabar tendo uma relação muito boa, sempre tivemos.”
Trump desconversou quando questionado sobre quais eram as condições que o fariam reduzir as tarifas ao Brasil: “Vamos discutir por um tempo e provavelmente chegaremos a uma conclusão muito rapidamente”.
Ele negou ter interesse em falar sobre a crise na Venezuela, a não ser que Lula desejasse pautar o assunto. Questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump afirmou apenas que “sempre gostou dele” e que se entristeceu com a condenação por golpe de Estado.
“Eu sempre gostei dele, fiquei muito mal com o que aconteceu com ele”, respondeu o americano, sem dizer se desejava tratar do tema.
O Estadão quesitonou se Trump estava preocupado a relação privilegiada do Brasil com a China, principal parceiro comercial do País e rival dos EUA, mas Trump disse apenas que vai se reunir com a China depois.
“Acho que teremos um acordo com a China. Vou me reunir com o presidente Xi na Coreia do Sul. Eles querem fazer um acordo e nós queremos fazer um acordo. Vamos nos encontrar depois na China e nos EUA em Mar-a-Lago, Palm Beach. Tivemos muitas conversas antes de nos reunir, tivemos conversas com o Brasil. Acho que terminaremos com um bom acordo para os dois países, com a China isso vai acontecer. As pessoas parecem estar muito interessadas na China, acho que teremos uma reunião muito justa com a China.”
Lula afirmou que tinha uma pauta por escrito para entregar a Trump. Ele mostrou a pasta e disse que deixaria a cópia com o americano.
A conversa com jornalistas ocorreu antes de a discussão entre eles começar. Aparentemente desconfortável com a situação, o petista pediu que a imprensa fosse retirada da sala, para que não perdessem tempo de negociação. Trump concordou e reclamou que as perguntas estavam entendiantes.
“A imprensa vai ter boas notícias assim que acabar a reunião. Antes, são só suposições. O Brasil tem interesse em ter uma relação extraordinária com os EUA, como temos há 201 anos. Não há nenhuma razão para desavença entre Brasil e EUA”, afirmou o petista. “Quando dois presidentes sentam na mesa, cada um coloca os seus problemas, a tendência natural é encaminhar para um acordo. Antes de vir aqui eu disse que estava muito otimista com a possibilidade para avançarmos para ter uma relação mais civilizada com os EUA e pretendemos manter.”
Em princípio, participariam da reunião apenas Lula e Trump e assessores diretos, além de intérpretes. Após o fim do encontro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deverá se pronunciar a respeito da conversa, conforme o Palácio do Planalto.
Na sala 410, Trump estava acompanhado de Marco Rubio (secretário de Estado), Scott Bessent (secretário do Tesouro) e Jamieson Greer (USTR). Com Lula, participaram o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), o embaixador Audo Faleiro (Assessoria Especial) e o secretário-executivo Márcio Elias Rosa (MDIC).
Antes da conversa, Trump chegou a dizer que poderia baixar o tarifaço de 50% sobre a pauta de exportações brasileira, sob certas condições. Lula disse que um acordo amplo talvez não fosse atingido agora.
A conversa terá teor eminentemente político e busca discutir problemas e diferenças. Empresários com negócios nos EUA também esperam que Trump e Lula desobstruam canais de diálogo e comuniquem posteriormente um processo de negociação estruturada.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que um acerto levará ainda algum tempo de negociação. “Acreditamos que, a longo prazo, é benéfico para o Brasil nos tornar seu parceiro comercial preferencial em vez da China – por causa da geografia, por causa da cultura, por causa de um alinhamento em muitos aspectos”, disse Rubio.
A declaração reflete uma preocupação de fundo com a influência chinesa na América Latina. Se Trump decidir apelar e pedir um afastamento de projetos da China, deverá ouvir de Lula um sonoro “no way”, segundo um estrategista do governo brasileiro.
Essa pressão os EUA fizeram com a Argentina, para um socorro financeiro ao governo Javier Milei, e sobre o Panamá, com a ameaça de retomar o controle do canal. Mas a diplomacia aposta que a não-adesão brasileira à Nova Rota da Seda pode atenuar.
“Obviamente, temos alguns problemas com o Brasil, particularmente como eles têm tratado alguns de seus juízes, têm tratado o setor digital nos Estados Unidos, os indivíduos localizados nos Estados Unidos por meio de postagens nas redes sociais. Teremos que trabalhar nisso também. Isso se tornou um emaranhado em tudo isso. Mas o presidente vai explorar se há maneiras de superar tudo isso, porque achamos que será benéfico fazê-lo. Vai levar algum tempo”, afirmou o chefe da diplomacia dos EUA.
Fonte: Da Redação / Com informações do Estadão


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