A escritora Stephanie Peirolo conta como participar de um festival realizado nas florestas de Oregon mudou sua relação com o corpo e a ajudou a aceitar as mudanças trazidas pela idade
Stephanie Peirolo conta como a experiência mudou sua relação com o corpo — Foto: Reprodução/ The GuardianCrescer mulher significa enfrentar padrões de beleza, às vezes, quase inatingíveis. Para a coach executiva e escritora Stephanie Peirolo, hoje com 62 anos, essa pressão a acompanhou por décadas, até que uma experiência no Oregon, nos Estados Unidos, transformou completamente sua relação com o próprio corpo.
Em um relato publicado pelo The Guardian, ela conta que aos 15 anos viveu uma mudança física brusca: cresceu 23 centímetros em apenas nove meses. “Meus ossos doíam à noite. Cresci tão rápido que minhas roupas ficaram pequenas, deixando meus tornozelos à mostra”, lembra. De uma adolescente de estatura média, tornou-se a mais alta da turma.
"Eu já me sentia desconfortável na minha própria pele mesmo antes disso. Cresci nos Estados Unidos no final dos anos 70, e meu tipo de corpo não era considerado bonito. Eu tinha curvas em lugares que não eram valorizados, com coxas e bumbum que se destacavam de maneiras que me incomodavam."
Ainda na adolescência, a escritora passou a fazer dietas. "As críticas das mulheres aos seus próprios corpos, e aos corpos dos outros, rapidamente se tornaram uma constante na minha juventude. Eu carreguei a narrativa de que meu corpo era feio e precisava ser mudado até a vida adulta."
A experiência que mudou tudo
Essa percepção só começou a mudar aos 30 e poucos anos, já divorciada e mãe de dois filhos. Naquele verão, com as crianças passando as férias na Europa com o pai, ela aceitou o convite de um amigo para dirigir de Seattle até a Feira Rural do Oregon, onde um festival de música e arte estava sendo realizado em meio à floresta.
"Eu não sou muito fã de atividades ao ar livre, mas meu amigo e eu montamos uma barraca na área de camping dos artistas, junto com os amigos dele, que eram acrobatas e artistas de circo. Passamos dias vivendo na floresta, ouvindo música e ficando acordados até tarde em volta da fogueira", conta. A experiência, vivida entre artistas circenses, se tornaria um divisor de águas. “As mulheres eram fortes, acrobatas, desinibidas. Estar com elas me transformou".
Além disso, estar longe da rotina a fez permitir sentir o próprio corpo de outra maneira. "Meus ombros relaxaram. Senti meus pés tocarem o chão de uma forma nova, o cheiro da fogueira no meu cabelo e nas minhas roupas. Eu era escritora, ainda não publicada, trabalhando em um romance até tarde da noite, quando meus filhos dormiam. Mas essa foi a primeira vez que passei um período prolongado com outros artistas, e foi uma experiência inebriante. Foi como ter um passe de acesso aos bastidores de um paraíso que eu nem sabia que existia."
O momento mais marcante veio nos chuveiros públicos do festival. Cercada pela floresta, a princípio ela hesitou diante da cena que viu.
"Eram provavelmente umas 50 pessoas – tomando banho sem um pedaço de roupa sequer à vista [...] Havia um box privativo, mas era preciso pagar para usá-lo, e todos usavam os chuveiros públicos. Eu estava relutante, esperando ter flashbacks das constrangedoras aulas de educação física da minha juventude."
Incentivada pelos amigos, Stephanie resolveu experimentar dividir o chuveiro. "Ninguém parecia constrangido: a vibe hippie do festival se estendia até aquele espaço; jovens, idosos, todos os tipos de corpos, raças e gêneros. Éramos apenas seres humanos, despojados dos símbolos culturais das roupas, naquele momento juntos na floresta."
"Passei sabão na pele, sentindo um profundo alívio. Um jovem que não conseguia andar era carregado por dois amigos, todos nus, até um espaço aberto debaixo de uma torneira. Pude ver em seu rosto que ele sentia a mesma liberdade e acolhimento. Seu corpo também era apenas mais uma das muitas expressões do ser humano."
Tomar aquele banho foi, para ela, um gesto de libertação. "Foi um momento profundamente espiritual para mim e o início de uma prática espiritual de honrar meu corpo como um veículo de conexão, compreensão, prazer e orientação."
'Nossos corpos são todos diferentes, e isso é maravilhoso'
Hoje, aos 62 anos, Stephanie Peirolo vive reconciliada com o corpo que por tanto tempo tentou controlar. “Essa perspectiva me ajudou a fazer as pazes com as mudanças que a idade traz ao corpo. Não faço mais dieta, aproveito a explosão de doçura das framboesas que crescem no meu jardim quando as coloco na boca sob o sol de verão."
Com dois netos pequenos, ela torce para que cresçam em um mundo diferente daquele que a ensinou a se envergonhar de si. “Sou grata por meu corpo ainda me permitir nadar com a força de uma flecha, forte e longe. Tenho dois netos pequenos e espero que eles cresçam com uma mentalidade diferente: que nossos corpos são todos diferentes, e isso é maravilhoso."
Fonte: Revista Marieclaire

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