O
preço da arroba do boi gordo, que em São Paulo teve aumento real de 35% em um
mês, não vai mais retornar ao patamar anterior. A afirmação é da ministra da
Agricultura, Tereza Cristina. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,
ela disse que a alta das exportações para a China teve forte impacto na
valorização da carne. O que também ajudou a puxar o aumento, segundo ela, teria
sido a falta de reajuste nos preços nos últimos três anos.
O
presidente Jair Bolsonaro, em transmissão pela internet, declarou que a
ministra garantiu que, daqui a três ou quatro meses, o preço da carne voltaria
à normalidade.
Algumas
redes de supermercados têm afirmado que a exportação de carne está limitando a
oferta da proteína no País, além de inflacionar o produto. A rede paraense
Líder colocou cartazes em suas 20 lojas de supermercados alertando os
consumidores sobre problemas com o abastecimento de carne bovina, a alta dos
preços e a falta dos produtos nas lojas.
Nos
avisos, é informado que os frigoríficos sobem os preços diariamente alegando
aumento nas exportações. "Recebíamos tabelas de preços dos fornecedores
duas vezes por mês", diz Oscar Rodrigues, diretor do Grupo Líder.
"Agora, elas chegam de dois em dois dias, com a carne sempre mais
cara."
Segundo
ele, o grupo abateu todas as cabeças de gado de suas fazendas para minimizar o
impacto da alta do preço. Havia cerca de 1.000 cabeças que estavam em condições
de abate. "Nossas margens estão bastante reduzidas e fizemos o informativo
em respeito ao cliente que, quando perceber o aumento, pode se sentir
enganado", diz Rodrigues. "Nosso cliente é muito fiel e prezamos pela
transparência."
A
ministra nega falta de oferta para o mercado nacional. "Não é verdade.
Primeiro, o Brasil tem 215 milhões de cabeças de gado. Então, não é um rebanho
para acabar amanhã. Segundo, realmente o mercado chinês mexeu com as
exportações, e não só da carne brasileira, mas da carne argentina, paraguaia,
uruguaia. É muito grande a necessidade da China."
"Além
de o Brasil abrir as exportações, temos de lembrar que o boi tinha um preço
represado há três anos. O pecuarista estava tendo prejuízo nesse período",
declarou a ministra. "Antes, o produtor vendia uma arroba por R$ 140, em
média. O que aconteceu é que, nesse primeiro momento de abertura, com a China
pagando um preço muito bom, houve esse momento, digamos, de euforia. Em São
Paulo, uma arroba está sendo vendida a R$ 231."
Em
menos de três meses, o contrafilé registrou índices de aumento acima de 50% e o
coxão mole, de 46%, no preço de custo que acaba sendo repassado ao consumidor,
segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
O
Ministério da Agricultura afirmou que está acompanhando de perto a situação e
acredita que o mercado "vai encontrar o equilíbrio". "Não é
papel do Ministério intervir nas relações de mercado. Os preços são regidos
pela oferta e procura. Neste momento, o mercado está sinalizando que os preços
da carne bovina, que estavam deprimidos, mudaram de patamar", afirmou, em
nota.
Questionada
se continua a consumir carne vermelha, Tereza Cristina respondeu em tom de
brincadeira: "Estou comendo frango. Agora, é só frango".
Inflação
Na
avaliação de economistas, a alta não só da carne bovina como de outras
mercadorias agrícolas - como feijão (de 38,1%, no atacado, até a metade de
novembro), café (5,6%) e frango (3,2%) - deve colaborar para uma aceleração da
inflação nos próximos meses. "Deve haver alguma pressão na inflação",
diz Fabio Silveira, da Macro Sector. Ele estima que as altas dos preços dos
alimentos, somadas aos dos combustíveis e energia elétrica, devem fazer com que
2020 comece com uma inflação de 4% a 4,2%.
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.