O dia
17 de dezembro de 2019 marca a data em que Vânia Cristina viu pela última vez o
filho Alisson, de 17 anos. O jovem, que se despediu da família para ir a um
curso, nunca mais voltou para casa. Este é um caso entre os mais de 600
desaparecimentos registrados no Espírito Santo somente em 2019. Ao longo dos
dez últimos anos, o Estado já registrou mais de 20 mil ocorrências.
A mãe
não desiste de buscar pelo filho, mas esbarra em um problema levantado pelo
Conselho Estadual de Direitos Humanos: a falta de estrutura da polícia.
A
última lembrança que Vânia tem de Alisson é de seu "até logo" poucos
minutos antes de o jovem sair de casa com destino a um curso de poesia, que
fazia na Ufes.
No
entanto, a saída casual acabou se tornando um martírio quando soube que Alisson
nunca chegou ao seu destino. "Quando deu 14h, a professora me ligou
falando que ele não tinha ido", lembra a mãe.
Vânia
procurou por todos os cantos e tentou encontrá-lo através de imagens de
câmeras, mas não conseguiu. Alisson é casado e pai de uma bebê de dois meses.
"Eu
não acredito que ele está por aí, deixando a filha dele, a nossa família
aflita. E com tantos compartilhamentos que a gente fez, tanto apelo, não é
possível que ninguém tenha visto meu filho", desespera-se Vânia.
A mãe
já foi a polícia, registrou ocorrência, prestou depoimento, espalhou cartazes e
até agora não tem nem pistas do filho. Alisson, até o momento, se transformou
em estatística. Como mais de 600 casos de pessoas desaparecidas foram
registrados em 2016, estima-se que por mês haja em média 52 desaparecimentos.
Casos do Espírito Santo
Dos
600 desaparecidos, 496 pessoas foram encontradas, sendo que 31 estavam mortas.
Outras 100 continuam desaparecidas.
De
acordo com a presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Verônica
Bezerra, em 10 anos o Estado registrou 21.550 casos de desaparecimento de
pessoas. Para ela, a polícia capixaba ainda não tem uma equipe especializada
para investigar e amparar as famílias.
"É
importante que a gente tenha essa pronta resposta do Estado adequada e
sensível, a partir da ética do cuidado, de você olhar para aquela pessoa não
como um número, mas como uma pessoa que está em um momento de sofrimento
profundo e precisa, em um primeiro momento, ser acolhida, ser atendida e ser entendida",
diz Verônica.
Essa é
justamente a situação da Vânia, que continua à espera de respostas. "Eu já
passei todas informações que eu tinha para o investigadores da delegacia de
desaparecidos, mas até agora nada foi feito, não tive nenhuma resposta",
lamenta ela.
No
entanto, a Polícia Civil informou que nesta sexta-feira (10) que acontece mais
uma diligência em busca de Alisson.
Índices
O
índice de pessoas encontradas ano passado no Espírito Santo foi de 83%. Neste
ano, até esta sexta, já foram registrados 27 casos de pessoas desaparecidas,
das quais oito foram encontradas e uma morreu.
O
delegado Arthur Borgoni falou também sobre as críticas feitas pelo Conselho de
Direitos Humanos.
"O
nosso dia-a-dia aqui no departamento de homicídios e também na delegacia de
pessoas desaparecidas nos dá impressão de que o desespero de quem não sabe o
que aconteceu com o familiar chega a ser maior do que a dor de quem tem a
certeza que perdeu um familiar. Então, os familiares nunca estarão satisfeitos
enquanto seu ente querido não for encontrado", analisa.
Contudo,
Borgoni garante que os profissionais da delegacia de desaparecidos são
capacitados. "Temos aqui profissionais que atendem com a maior atenção, o
maior carinho, a maior disponibilidade possível. O nosso atendimento é bom, o
que acontece é que enquanto nós não encontramos o ente querido o familiar
sempre vai estar ansioso para que mais diligências sejam feitas",
justifica.
Fonte: G1 Espirito Santo