As chuvas que
atingiram o Espírito Santo em janeiro causaram um prejuízo estimado de mais de
R$ 88 milhões na agropecuária capixaba. Entre as principais atividades afetadas
estão a cafeicultura, a fruticultura e a horticultura. A bovinocultura tanto de
leite quanto de corte também foi impactada.
A estimativa foi
apurada em um levantamento feito pelo Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) em parceria com as prefeituras
municipais, sindicatos rurais, federações, associações e cooperativas.
O levantamento foi
feito com base nas informações colhidas nos 22 municípios onde foram decretados
Situação de Emergência e Estado de Calamidade Pública. Nestes, os prejuízos são
da ordem de R$ 64 milhões. Também foram identificadas perdas em cinco
municípios limítrofes ou localizados na mesma região daqueles relacionados nos
decretos, que somam mais de R$ 23 milhões de reais.
Os cinco municípios
que mais tiveram prejuízos nas atividades rurais foram: Iúna, Anchieta, Piúma,
Vargem Alta e Muniz Freire. “Vale lembrar que esta é uma estimativa, um
levantamento preliminar. As informações são atualizadas na medida em que seja
possível acessar áreas e comunidades rurais que não tiveram, ainda, seus
prejuízos contabilizados”, destacou Rachel Quandt Dias, que responde pela
Gerência de Assistência Técnica e Extensão Rural (Gater) do Incaper.
Providências
Diante da situação a
Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio
do Incaper, Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) e Instituto de
Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), juntamente com as
federações e outros parceiros, desenvolve estratégias que possam contribuir
para a retomada do desenvolvimento da agricultura capixaba nestas regiões e
mitigar as perdas dos agricultores de base familiar.
O diretor-presidente
do Incaper, Antônio Carlos Machado, destacou que as equipes estão mobilizadas e
atentas às necessidades específicas dos produtores nos municípios mais
afetados. “Procuramos restabelecer a estrutura do Instituto, que também sofreu
danos, para continuar prestando assistência adequada aos agricultores dentro
das nossas possibilidades. O Governo do Estado está sensível às demandas da
agricultura e, juntamente com a Secretaria Estadual de Agricultura, pode
inclusive acionar parcerias para propor novas soluções. Infelizmente, alguns
prejuízos são incalculáveis”, lamentou.
Machado disse ainda
que inicialmente, o Instituto disponibilizou toda a equipe para elaboração dos
relatórios das perdas. “Em seguida, a orientação foi para que nossas unidades
priorizassem o atendimento a esses produtores afetados, no que se refere à
emissão de laudos técnicos a fim de dotá-los da documentação necessária para
que possam pleitear seguros, se tiverem, e solicitar a prorrogação de
contratos. Já estamos em contato com agentes financeiros para que analisem as
possibilidades de atendimento prioritário a esses agricultores”, detalhou.
Problemas na produção
O comprometimento da
produção impacta no mercado. “Conversei com o diretor-presidente da Ceasa,
Fernando Rocha. Ele já observou que, em função da diminuição da oferta, houve
um acréscimo de 35% a 40% no preço da banana prata, por exemplo”, afirmou
Antônio Carlos Machado.
Mas que tipo de dano
o excesso de chuva causa às atividades rurais? Renato Taques, gerente de
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (GPDI) do Incaper, explicou que os
prejuízos são diversos: “Na bovinocultura, as pastagens alagadas ficam comprometidas.
Na horticultura, alguns tubérculos podem ter problemas por conta do excesso de
umidade do solo. Mas, talvez o maior de todos os problemas seja a dificuldade
no escoamento da produção”, esclareceu.
Por ser uma cultura bastante representativa nos municípios afetados, a cafeicultura foi a atividade agrícola que mais sofreu prejuízos. Alguns produtores relatam que perderam, inclusive, sacas do grão que estavam estocadas em armazéns. Mas, para Taques, as consequências destas perdas não devem afetar tanto a produção capixaba de café.
Por ser uma cultura bastante representativa nos municípios afetados, a cafeicultura foi a atividade agrícola que mais sofreu prejuízos. Alguns produtores relatam que perderam, inclusive, sacas do grão que estavam estocadas em armazéns. Mas, para Taques, as consequências destas perdas não devem afetar tanto a produção capixaba de café.
É o que também
acredita o pesquisador da Embrapa Café/Incaper, Aymbiré Fonseca. Ele aponta
perdas expressivas em áreas de cultivo em várzeas, onde as águas se acumulam
mais facilmente, deve haver perdas significativas de plantas e comprometer as
próximas. “Contudo, as chuvas não deverão provocar tanto impacto na
cafeicultura do Estado como um todo, visto que a maioria das lavouras de café
do Estado, encontra-se em áreas de relevo mais acidentado. Quando
cultivado seguindo-se as boas práticas conservacionistas, essas lavouras não
sujeitas ao encharcamento e em locais com chuvas melhor distribuídas, por
outro lado, não deverão sofrer perdas significativas de produtividade.”
Taques acrescentou
que o Incaper oferece condições aos agricultores de adotar práticas
conservacionistas com foco na sustentabilidade. !”Propriedades ambientalmente
mais adequadas suportam melhor esses eventos extremos, como seca ou chuva
excessivas. O produtor sofre menos quando adota as tecnologias desenvolvidas e
recomendadas pelo Incaper, como manejo correto do solo, práticas de conservação
de água, plantio em curva de nível, entre muitas outras.”
Impactos na pesquisa agrícola
A chuva também afetou
a pesquisa científica. Três fazendas onde são implementados os experimentos do
Incaper foram alagadas: Fazenda Experimental de Linhares, Fazenda Experimental
e Bananal do Norte e Fazenda Experimental de Alfredo Chaves.
Entre as atividades
de pesquisa mais impactadas estão: experimentos de café, cacau e sistemas
agroflorestais; bancos ativos de germoplasma de pimenta-do-reino, banana;
vitrine de forrageiras e outras atividades de pecuária.
“São anos de pesquisa
científica, de trabalhos que promovem soluções aos agricultores familiares do
Espírito Santo. Este prejuízo é incalculável”, comentou Renato Taques.
Volume de chuva
A Coordenação de
Meteorologia do Incaper levantou o volume de chuva registrado em vários
municípios capixabas entre os dias primeiro e 28 de janeiro. “Em quase todos os
municípios capixabas o total de chuva do mês de janeiro superou a média
climatológica, confirmando o prognóstico divulgado no início do mês”, ressaltou
o coordenador de Meteorologia do Incaper, Hugo Ramos.
O volume de
precipitação foi significativo especialmente na região sul do Espírito Santo. O
acumulado de chuva registrado em Alfredo Chaves (508,6mm) neste período foi
três vezes a acima da média (153,4mm). Deste volume registrado, 356,4mm foram
entre os dias 17 e 28.
Na região serrana,
choveu 277,2mm em Afonso Cláudio, o que representa 145,3% da média histórica,
que é de 190,8mm. No norte, São Mateus registrou 278,8mm de chuva, sendo que a
média para o mês é de 122,8mm (desvio de 227%). Em Vitória, a precipitação
acumulada no período foi de 264,6mm e a média histórica na capital é de 130,9mm
(desvio de 202,2%).
De acordo com o
meteorologista, a chuva comprometeu, inclusive, o registro das informações
meteorológicas em vários municípios. “Não foi possível levantar o volume de
chuva em todos os municípios. Isso porque as estações meteorológicas instaladas
na maioria das localidades são convencionais, não enviam dados
automaticamente”, contou Hugo Ramos.
Segundo Ramos,
fenômenos meteorológicos que atuaram no Estado e provocaram tanta chuva: “Havia
uma frente fria semiestacionária no mar, na altura do Espírito Santo. Houve uma
mudança na direção dos ventos (vórtice ciclônico), que trouxe a umidade do mar
para o continente. Este foi o primeiro fenômeno que impactou Iconha, Alfredo
Chaves, Vargem Alta e Rio Novo do Sul. Na semana seguinte, configurou-se um
episódio da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), o que provocou
aumento das chuvas não apenas na região já atingida, mas também em outras áreas
do Estado. Durante o desenvolvimento das ZCAS, iniciou-se também o processo de
formação de um ciclone subtropical, o que acabou potencializando as chuvas e
seus impactos. Foi quando os demais municípios capixabas foram afetados e
também o norte do Rio de Janeiro e o leste de Minas Gerais. As chuvas em Minas
contribuíram para a elevação do nível do Rio Doce, por isso, houve
transbordamentos nos municípios capixabas mesmo sem o registro de volumes
expressivos de chuva.”.
Na próxima semana, a
Coordenação de Meteorologia do Incaper deve divulgar a previsão climática para
o mês de fevereiro. A equipe está atenta às condições do tempo, e mantém
atualizações constantes na página: https://meteorologia.incaper.es.gov.br/
Prejuízos também no Incaper
Servidores do Incaper
que vivem nos municípios afetados estão entre os milhares de capixabas
impactados pela chuva. O levantamento feito pela Gerência de Pessoas (GP)
apontou que 19 famílias de servidores ativos e aposentados foram afetadas,
principalmente nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Alfredo Chaves.
“Estes servidores
estão sendo assistidos de perto pela Gerência de Pessoas, com o apoio da Gater,
da GPDI e da Diretoria. Neste primeiro momento, estão sendo providos os itens
básicos que os próprios servidores apontaram como sendo de primeira
necessidade, como cestas básicas, roupas de cama e de banho, produtos de
limpeza e higiene pessoal. Posteriormente, serão desenvolvidas outras ações a
fim de tentar restabelecer as condições de vida e trabalho destes colegas”,
informou a gerente de Pessoas do Incaper, Raphaela Effgen Koelher.
O Instituto perdeu
oito carros. Várias unidades do Incaper também foram tomadas pela água. Além
das três Fazendas Experimentais, o Escritório Local de Desenvolvimento Rural
(ELDR) de Muniz Freire também ficou debaixo d’água.
Texto: Juliana
Esteves
Coordenação de Comunicação e Marketing do Incaper