Dados do governo do Amazonas mostram que o crescimento
acentuado, ou a “primeira onda”, começou a se desenhar no fim de março, com
pico no início de maio
Ainda é cedo para
dizer que uma “segunda onda” do novo coronavírus atingiu Manaus, mas o momento
é de atenção. A afirmação é do pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do
sistema Infogripe, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em
parceria com o Ministério da Saúde e ativo desde 2014. Segundo ele, o aumento
de casos na cidade é um fato que deve ser encarado com atenção, mas sem pânico.
“Falar de segunda
onda pode ficar mais claro mais à frente, caso volte a ter um crescimento
descontrolado, uma aceleração no contágio. A gente não está nessa fase, é um
crescimento lento. Não é uma situação de pânico, porque não estamos na situação
anterior, mas inspira cuidados”, disse ele.
Segundo o
pesquisador, os dados mais recentes coletados pela Fiocruz mostram que a
capital amazonense tem mostrado um crescimento no número de casos que, apesar
de não ser rápido e intenso para caracterizar uma segunda onda do vírus na
cidade, deve ser visto com preocupação.
“O que temos de dados
apontam para esse cenário de ter, de fato, um sinal muito sugestivo de retomada
de crescimento [nas contaminações], mas esse crescimento ainda é, felizmente,
lento. É melhor aproveitar que ainda é lento e agir, reavaliar as medidas de
flexibilização já tomadas e ver no que, eventualmente, deve se recuar”, opinou.
Dados do governo do
Amazonas mostram que o crescimento acentuado, ou a “primeira onda”, começou a
se desenhar no fim de março, com pico no início de maio. Após uma forte queda
em números de hospitalizações e óbitos pelo vírus, os números voltaram a subir
a partir do início de agosto, mas ainda em uma proporção muito inferior ao
registrado em maio. “Ainda não é uma situação catastrófica, mas os cuidados
precisam redobrados neste momento para que a gente não chegue [ao estágio
anterior]", disse.
A prefeitura de
Manaus já percebeu esse movimento ascendente de contaminações. Em 18 de
setembro, o prefeito da cidade, Arthur Virgílio, decidiu fechar a praia do
Complexo Turístico Ponta Negra, principal ponto turístico da capital. A
prefeitura também ampliou, de 11 para 18, o número de Unidades Básicas de Saúde
(UBS) para atendimento preferencial de casos de covid-19.
“Desde que os números
de casos confirmados de covid-19 e de internações em hospitais da cidade por
causa da doença cresceram, a prefeitura de Manaus vem tomando medidas para a
proteção da população”, disse a assessoria de imprensa da prefeitura.
O prefeito também é
favorável a um lockdown (confinamento) na cidade por, pelo menos,
duas semanas. Mas só adotará a medida se houver apoio do governo do estado, uma
vez que o município não tem efetivo policial suficiente para fazer valer as
ações, caso sejam tomadas.
O aumento de casos de
covid-19 em Manaus põe à prova a tese de que a população da cidade já estaria,
em sua grande parte, imune ao vírus, uma vez que muitos já tiveram contato com
ele, a chamada “imunidade de rebanho”. Mais uma vez, o pesquisador da Fiocruz
entende que é cedo para tirar essa conclusão.
“A gente não pode
afirmar com certeza que Manaus já está com imunidade de grupo. Existem alguns
trabalhos sugerindo isso, mas são resultados com limitações e incertezas e,
portanto, devem ser interpretados com muita cautela. O risco de apostar todas
as fichas na imunidade de grupo é relaxar e descobrir que não estava. E aí pode
ser tarde demais”, afirmou.
Outras cidades que já
passaram por um pico de contágio e reduziram esses números em seguida podem ter
uma situação parecida com a de Manaus.
O Rio de Janeiro, por
exemplo, tem experimentado um crescimento nos números de covid-19, mas sem o
mesmo viés de alta de Manaus. “O vírus não foi embora e caiu porque a gente
agiu. Atenção e cuidado ainda são extremamente necessários”, finalizou o pesquisador.
Com informações da Agência Brasil