As principais ameaças às plantas, segundo a Lista
Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza são a
agricultura e aquicultura (32,8%), a utilização como recurso natural (21,1%) e
modificações no habitat (10,8%)
A cada cinco espécies
de plantas no planeta, duas estão ameaçadas de extinção, estima relatório
divulgado nessa terça-feira (29) pelo Jardim Botânico Real do
Reino Unido. O estudo conta com a participação de pesquisadores de 42 países,
incluindo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O relatório alerta
para a necessidade de acelerar a identificação das espécies ameaçadas para
protegê-las a tempo. Segundo o documento, 39,4% das plantas estão sob risco,
patamar que é quase o dobro do estimado em 2016, quando estava em 21%. O estudo
explica que o salto se deve à adoção de avaliações mais sofisticadas e
abordagens mais precisas. Entre as mais de 36 mil espécies de plantas
catalogadas no Brasil, 3.934 estão ameaçadas, segundo a pesquisadora Rafaela
Forzza, do Jardim Botânico do Rio. A bióloga pondera que o número real, na
verdade, é bem maior, porque faltam informações para avaliar a situação de
parte das espécies catalogadas. “As pessoas sabem que as baleias estão
ameaçadas, que os golfinhos e os micos-leões-dourados estão ameaçados. Mas a
sociedade é muito menos empática ao número de plantas ameaçadas. E as plantas
nos cercam a todo momento. Nossa vida depende muito delas", alerta a
bióloga, que ressalta que ainda há muito a ser descoberto em países tropicais
como o Brasil. "Estamos destruindo uma biodiversidade que nem conhecemos
ainda". O relatório também trouxe dados sobre os fungos ameaçados de
extinção, destacando o grande desconhecimento que ainda existe sobre esses
seres vivos. As 148 mil espécies de fungos catalogados não representam nem 10%
do número estimado de mais de 2 bilhões de espécies no planeta. As principais
ameaças às plantas, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a
Conservação da Natureza são a agricultura e aquicultura (32,8%), a utilização
como recurso natural (21,1%) e modificações no habitat (10,8%). Já no
caso dos fungos, o desenvolvimento de áreas comerciais e residenciais (18,7%)
vem em primeiro lugar, seguido do uso como recurso natural (13,9%) e da
agricultura e pecuária (12,9%).
Desde 2008, o Brasil
descobre cerca de 10% das novas espécies de plantas catalogadas em todo o
mundo. Em 2019, o país foi, mais uma vez, o que mais identificou espécies, com
216 novos registros, enquanto a China descobriu 195, e a Colômbia, 121. O
Brasil descobriu ainda 87 novas espécies de fungos no ano passado, segundo o
relatório. A pesquisadora do Jardim Botânico do Rio, que integrou o trabalho
divulgado hoje, destaca que o país não descobre apenas pequenas
espécies de plantas, mas conta com 33 árvores na lista de novas espécies
registradas em 2019. As descobertas também incluem vegetais frutíferos, como 24
variedades silvestres de mirtáceas, a mesma família da goiaba, da jabuticaba e
da pitanga.Apesar da grande destruição de sua área original, da qual
restaram apenas cerca de 10%, a Mata Atlântica foi o bioma em que mais
espécies foram encontradas. "Se só no ano passado a gente foi capaz de
descrever 71 novas espécies de Mata Atlântica, só no que restou de Mata
Atlântica, imagine o que a gente perdeu de espécies que foram dizimadas antes
de catalogar. Isso não tem como reverter", lamenta a pesquisadora, que
relata ainda 46 espécies no Cerrado, 32 na Amazônia, 10 na Caatinga, cinco nos
Pampas e duas no Pantanal. As outras 50 espécies descobertas ocorrem em mais de
um bioma. Na discussão sobre a preservação da biodiversidade, Rafaela explica
que o Brasil ocupa posição central, por concentrar o maior número de espécies
do mundo. As 36 mil plantas catalogadas no Brasil são mais de 10% das 350 mil
espécies conhecidas em todo o planeta. “Quase 50% das espécies de plantas do
Brasil só ocorrem no país. Se a gente não proteger, não tem como outros países
protegerem. Então, é nossa obrigação com o nosso povo e com a humanidade",
reforça. "A gente é muito importante para a conservação da biodiversidade mundial,
que é um bem da humanidade sob-responsabilidade de cada uma das nações, e a
Constituição Brasileira diz que a biodiversidade pertence a todos os
brasileiros. Quando você destrói biodiversidade para meia dúzia de pessoas
lucrar em cima disso, você está tirando de mais de 200 milhões de pessoas,
porque a biodiversidade é de todos e das futuras gerações, inclusive",
disse.
Entre os dados em
destaque na pesquisa, está a estimativa de que 723 espécies de plantas
medicinais estão ameaçadas. O número corresponde a 13% das 5,4 mil plantas
medicinais que foram avaliadas quanto ao risco de extinção. A pesquisa pondera
que o número de plantas medicinais catalogadas, no entanto, chega a 25 mil.
Segundo o relatório,
cerca de 4 bilhões de pessoas dependem de medicamentos fitoterápicos como sua
principal fonte de saúde. Na China, país mais populoso do planeta, esses
medicamentos representam 40% dos serviços de saúde.
A demanda por
medicamentos fitoterápicos cresce aliada a fatores como o aumento da
prevalência de doenças crônicas, e a perda de biodiversidade causa impacto
ainda em outros países, como a África do Sul. A pesquisa exemplifica que o
número de espécies medicinais comercializadas no país caiu de 700, em 1998,
para 350, em 2013. Entre as preocupações estão à colheita excessiva e o uso
insustentável de plantas medicinais silvestres.
A pesquisa relata
ainda que há um potencial inexplorado para a produção de biocombustíveis e para
diversificar o consumo de alimentos. Segundo o relatório, enquanto existem mais
de 7 mil espécies de plantas comestíveis com potencial para produção de
alimentos, apenas 15 espécies vegetais fornecem 90% da energia alimentar
ingerida pela humanidade.
Com Informações Noticias ao Minuto