“Mulata”, “Dia de branco”, “A coisa tá
preta”: você conhece ou usa essas expressões? Então, precisamos debater sobre racismo.
Neste Novembro Negro, a Secretaria de Direitos Humanos
(SEDH) está com uma agenda de atividades que busca promover o
enfrentamento ao preconceito, à desigualdade e à violência contra a população
negra. Dessa forma, esta publicação traz o significado de algumas expressões
racistas para fazer refletir e assim moldar o vocabulário do cotidiano.
A
gerente Estadual de Promoção da Igualdade Racial da SEDH, Edineia Conceição de
Oliveira, explicou que muitas expressões são reproduzidas sem que as pessoas
tenham o conhecimento histórico. O fato de ainda serem usadas mostra o quanto o
problema segue enraizado nos costumes da sociedade.
“O uso
dessas expressões é algo que as pessoas naturalizaram. Como, por exemplo, falar
que é ‘coisa de preto’ tem o sentido de que algo não é bom, algo que não dá
certo. Então, acredito que as pessoas talvez não saibam o que significam essas
expressões ao pé da letra, pela história, mas sabem que a ideia é ofender, isso
é fato. Acho que com o conhecimento, algumas retirem essas palavras e
expressões de seu vocabulário, mas outras vão continuar usando conscientemente.
Infelizmente, só no dia que essas ofensas forem entendidas como crime de
racismo, e não como injúria racial, então pode haver alguma mudança efetiva”,
explicou a gerente Edineia de Oliveira.
Confira algumas expressões racistas e
seus significados:
“Meia
tigela”: Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre
conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição
apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que
hoje significa algo sem valor e medíocre.
“Mulata”: Na
língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com
jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando
se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra
como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.
“Cor
do pecado”: Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra
sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade
pautada na religião, como a brasileira.
“Não
sou tuas negas”: A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo”
indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo.
Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas
para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram
ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é
carregado de machismo.
“Denegrir”: Sinônimo
de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e
ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
“A
coisa tá preta”: A fala racista se reflete na associação entre “preto” e
uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
“Serviço
de preto”: Mais uma vez a palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez,
representa uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação
racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
“Mercado
negro, magia negra, lista negra e ovelha negra”: Entre outras inúmeras
expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial,
ilegal.
“Inveja
branca”: Mais uma expressão que associa o negro ao comportamento negativo.
Inveja é algo ruim, mas se ela for branca é suavizada.
“Amanhã
é dia de branco”: Essa expressão tem muitas explicações. De acordo com
estudiosos e por explicações do senso comum, tal afirmação foi criada em alusão
ao uniforme da marinha. Outra justificativa para a declaração é feita com
menção a nota de mil cruzeiros, que possuía a estampa do Barão do Rio Branco e,
portanto, usava trajes brancos. Resumindo, dizer que o dia posterior é "de
branco" significa que é um dia de trabalho ou de ganhar dinheiro. Mas,
sabe-se que tal dito popular foi ganhando sentidos preconceituosos, uma maneira
de demonstrar a "inferioridade dos negros".
“Criado-mudo”: O
nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos
papéis desempenhados pelos escravos dentro da casa dos senhores brancos: o de
segurar as coisas para seus “donos”. Como o empregado não poderia fazer barulho
para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Logo essa expressão se
refere a esses criados.
“Doméstica”: Domésticas
eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e
eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais
e por isso precisavam ser domesticados através da tortura.
“Nasceu
com um pé na cozinha”: Expressão que faz associação com as origens. “Ter o
pé na cozinha” é literalmente ter origens negras. A mulher negra é sempre
associada aos serviços domésticos, já que as escravas podiam ficar dentro das
casas grandes na parte da cozinha, onde, inclusive, dormiam no chão (sua
presença dentro da casa grande facilitava o assédio e estupro por parte dos
senhores).
“Barriga
suja”: Outro termo que faz relação à origem é usado quando a mulher tem um
filho negro. Se ela teve um filho negro, algo impuro — como uma “barriga suja”
— explica esse fato.
“Cabelo
ruim ou cabelo duro”: São falas racistas mais usadas, principalmente na
fase da infância, pelos colegas. No entanto, elas se perpetuam até a vida
adulta. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo.
“Feito
nas coxas”: A origem da expressão popular "feito nas coxas" deu-se na
época da escravidão brasileira, onde as telhas eram feitas de argila, moldadas
nas coxas de escravos.
“Samba
do crioulo doido”: Título do samba que satirizava o ensino de Historia do
Brasil nas escolas do País nos tempos da ditadura, composto por Sergio Porto
(ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a
expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um
estereótipo e a discriminação aos negros.
“Crioulo/Negão”: Era
a designação do filho de escravizados, é um termo extremamente pejorativo e
discriminador do indivíduo negro ou afrodescendente.
“Tem
caroço nesse angu”: A expressão possui origem em um truque realizado pelos
escravizados para melhor se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de
fubá, o que acontecia com frequência. A escravizada que lhes servia, por vezes,
conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu.
“Nhaca”: Desde
o português do Brasil Colônia, vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro,
forte odor, no entanto Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem
até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.
“Disputar
a nega”: Possui sua origem não só na escravização, como também na
misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o
prêmio era uma escravizada negra.
“Preto
de alma branca”: Tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência
à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
“Macumbeiro/Galinha
de macumba/ Chuta que é macumba”: Expressão que discrimina as(os)
praticantes de religiões de matriz africana.
Assessoria de Comunicação da SEDH