Pazuello afirmou aos senadores que o Brasil não está atrasado.
O ministro
da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira, 17, que o governo federal
prevê receber 24,5 milhões de doses de vacinas em janeiro. Dessas, 9 milhões
são da Coronavac, imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria
com a farmacêutica chinesa Sinovac. Em audiência no Senado, o ministro disse
que está "partindo para um contrato" com o laboratório ligado ao
governo de São Paulo para compra do imunizante. Na quarta-feira, Pazuello havia
dado uma nova estimativa para início da vacinação no País e disse que a
previsão é começar em "meados de fevereiro".
Pazuello
afirmou aos senadores que o Brasil não está atrasado, mas na
"vanguarda" no processo de imunização contra a covid-19. Segundo o
ministro, das 24,5 milhões doses que o País deverá receber em janeiro, 500 mil
são da Pfizer, 15 milhões da AstraZeneca/Oxford, além das 9 milhões do
Butantã/Sinovac.
O
ministro citou que há um acordo assinado com o Butantan para comprar 46 milhões
de doses ao todo. O memorando, que não obriga a aquisição, foi firmado em
outubro. À época, o ministro chamou o produto de "a vacina
brasileira", mas o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro por
causa de disputa política com o governador João Doria (PSDB). Na ocasião,
Pazuello recuou e negou o negócio.
Na
audiência, o ministro ainda repetiu que a Fiocruz deve entregar mais de 200
milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca em 2021. No plano nacional de
imunização contra a covid-19 apresentado nesta quarta-feira, o governo afirma
que terá mais de 350 milhões de doses de vacinas em 2021, sendo que a
imunização exige a aplicação em duas etapas.
Pelo
calendário da pasta, além das 24,5 milhões de doses em janeiro, a previsão é
receber outras 37,2 milhões em fevereiro, sendo 500 mil da Pfizer, 15,2 milhões
da AstraZeneca/Oxford e 22 milhões do Butantan. Em março, 31 milhões. "A
partir daí equilibra o número", disse Pazuello, sem detalhar o cronograma.
Após
estimar o início da vacinação em fevereiro ontem, Pazuello voltou a condicionar
a data ao registro de uma vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). "Estamos realmente com as previsões prontas. Temos de ter em
mente é que estamos presos à entrega e ao registro", disse. No plano
nacional, a ideia é vacinar os grupos prioritários ainda no primeiro semestre.
Em
nota divulgada nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde negou que está definido
o começo da vacinação no fim de janeiro. A previsão foi citada ontem por
governadores da oposição que se reuniram com Pazuello. "O Ministério da
Saúde esclarece que não estabeleceu qualquer data para o início da vacinação
contra a covid-19 no Brasil. Isso porque não existe sequer pedido de registro
realizado por nenhum laboratório junto à Anvisa. Assim, as notícias veiculadas
que citam o dia 21 de janeiro como uma possível data para o início da campanha
de imunização não são verdadeiras. A desinformação não contribui e apenas
confunde a população brasileira. Por isso, enfatiza-se a importância de os
cidadãos, a imprensa e os formadores de opinião acompanharem atentamente os
canais oficiais do Ministério da Saúde."
Críticas à Pfizer
Durante
a reunião no Senado, Pazuello fez críticas à farmacêutica Pfizer, que negocia
com o governo federal a distribuição de 70 milhões de doses de vacina contra a
covid-19 em 2021. O laboratório americano já conseguiu o aval de autoridades
sanitárias dos Estados Unidos e do Reino Unido, que já começaram a utilizar o
imunizante para vacinar sua população.
Pazuello
reclamou do número de doses oferecidas pela empresa para os primeiros meses do
próximo ano, além da exigência de assinar cláusula para isentar a empresa de
responsabilidade sobre efeitos colaterais que a vacina ou de julgamentos em
tribunais brasileiros. "Pasmem, estamos pensando em aceitar. É uma
realidade, isso, claro, precisa passar pela decisão do governo e chancela do
Congresso", disse o ministro.
Segundo
ele, as condições apresentadas pela empresa durante a negociação para compra da
vacina "foram realmente muito duras". "Isenção completa de
qualquer responsabilidade de efeitos colaterais da empresa. 100% de isenção. A
Pfizer também não quer ser julgada nos nossos tribunais", afirmou.
Pazuello
ainda reclamou sobre a quantidade de doses oferecidas: "Só 500 mil em
janeiro, 500 mil em fevereiro, e 1 milhão em março. Essa foi a proposta
inicial. A segunda proposta, só mudou pela caixa de isopor", disse ele,
referindo-se a uma caixa de armazenamento a -70º Celsius que a empresa se
comprometeu a entregar ao ministério.
Como
mostrou o Estadão, antes de firmar um memorando de entendimento com a
Pfizer, Pazuello chegou a comentar nos bastidores, de forma irônica, que a
proposta da farmacêutica não servia nem para imunizar Brasília, que tem cerca
de 3 milhões de habitantes. Segundo plano de imunização apresentado na quarta
pelo governo federal, a Pfizer entregará 70 milhões de doses em 2021, sendo 2
milhões no primeiro trimestre. No semestre, a soma será de 8,5 milhões. Outras
32 milhões de unidades chegariam no terceiro trimestre e 29,5 milhões no
restante do ano.
O
ministro reforçou que Reino Unido e Estados Unidos ainda não registraram a
vacina da Pfizer, o que permitiria a vacinação em massa, mas apenas liberaram o
uso emergencial. "Os números são pífios, como é o número emergencial. Não
sou contra o uso emergencial, sou a favor", disse Pazuello.
O
ministro afirmou que telefonou a um representante da Pfizer no Brasil e pediu
para que a empresa tentasse o aval de uso emergencial no País. Segundo
Pazuello, uma reunião entre a Pfizer e a Anvisa foi feita na segunda-feira, mas
não houve acerto. O representante do laboratório teria dito que a "agência
é detalhista", afirmou Pazuello.
Em
nota, a Pfizer afirma que não comenta negociações em curso com o governo.
"O que podemos comentar é que dados os riscos associados ao
desenvolvimento de uma vacina, muitos governos estão fazendo novas leis que
conferem proteção aos fabricantes de vacinas", disse a empresa.
Com Informações Notícias ao Minuto