Um
formato inovador de divulgação de pesquisa científica será lançado
pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
(Incaper). Os resultados da pesquisa sobre o cultivo de café
sombreado serão apresentados, neste mês de janeiro, por meio da
divulgação de uma série de quatro vídeos pelas redes sociais do Instituto. A
pesquisa foi desenvolvida pelo Incaper e por parceiros que compõem a Rede de
Estudos Ambientais e Socioeconômicos em Sistemas de Produção Agroecológicos.
Os
estudos foram desenvolvidos, ao longo de três anos, na Fazenda
Experimental de Bananal do Norte, do Incaper, em Cachoeiro de Itapemirim. A
pesquisa consistiu na avaliação de diversos aspectos da plantação de café
consorciada com gliricídia, banana, ingá e pupunha, sendo composta por quatro
projetos que avaliaram: a dinâmica da água, a produtividade e análise
econômica; análise de qualidade e as árvores com potencial
econômico. A comparação do cultivo de café sombreado foi feita
entre as quatro culturas e o café sozinho, plantado a pleno sol, de modo
tradicional.
A
pesquisa foi realizada em rede, com parceria entre o Incaper, a
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito
Santo (Ifes) e a Universidade Vila Velha (UVV), com financiamento da Fundação
de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e da Secretaria
da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio do Edital
Fapes/Seag PPE Agro 06/2015.
A
série com os resultados da pesquisa de café sombreado é
composta por quatro vídeos, com média de quatro minutos de duração. O principal
objetivo da divulgação dos resultados pelos vídeos é simplificar a linguagem
técnico-científica, principalmente para o cafeicultor, de acordo com a
pesquisadora do Incaper e coordenadora de um dos projetos da pesquisa, Penha
Padovan. “A equipe da pesquisa avaliou que as informações integradas dos quatro
projetos seriam de maior utilidade para o público em geral pelo formato em
vídeo, especialmente, para os agricultores interessados na adoção do sistema
agroflorestal”, frisou.
O
biólogo do Incaper e responsável pela produção dos vídeos, Almir Bressan,
destacou que um dos principais objetivos é divulgar os resultados, de
maneira que o conteúdo chegue ao cafeicultor com uma linguagem acessível. “Era
um desafio para nós divulgar o resultado de uma pesquisa ao público final que
são os agricultores. Por isso, pensamos em estratégias para apresentar o
conteúdo científico de maneira simplificada e objetiva. Encontramos nos vídeos
essa solução que pode ser compartilhada nos canais digitais com maior facilidade”.
O
primeiro vídeo da série trata da dinâmica da água em café sombreado,
seguido pelo resultado sobre a produtividade e análise econômica do sistema
agroflorestal. O terceiro vídeo aborda a qualidade do café cultivado com as
culturas em análise. A série é finalizada com o vídeo que destaca a
potencialidade econômica das árvores utilizadas no sombreamento do café.
Confira
abaixo alguns destaques sobre os resultados da pesquisa que indicam como
plantar café sombreado e os benefícios dessa técnica.
Dinâmica da água
Em
cafés cultivados com árvores, a dinâmica da água é influenciada tanto pelos
cafeeiros quanto pelas outras culturas. Os estudos das condições ambientais em
sistemas agroflorestais estimaram a quantidade de chuva interceptada pela copa
das árvores de gliricídia, ingá e bananeira, utilizadas no sombreamento do
café.
Foram
identificados diferentes aspectos relacionados à distribuição da água da
chuva, de acordo com as espécies de árvores, conforme descreveu Penha
Padovan, que é doutora em Sistemas Agroflorestais. “A pesquisa mostrou que a
arquitetura das plantas, as características das folhas e o manejo podem
influenciar nos sistemas de sombreamento do café. Vimos que a água da
chuva pode tomar diferentes caminhos e o que queremos é diminuir as perdas
nesse processo, deixando mais água disponível para o café”, explicou.
De
acordo com o pesquisador do Incaper, Renato Taques, o estudo comparativo do
teor de umidade do solo no sistema de café sombreado com as árvores de
gliricídia, bananeira, ingá e a pleno sol demonstrou uma diferença
significativa entre os cultivos.
“Observamos
que o teor de umidade varia de acordo com a espécie utilizada no sombreamento.
No estudo, a gliricídia apresentou a maior conservação de água no solo, seguida
do ingá e da banana. A pesquisa indica também que o café sombreado pode
conservar mais água no solo. Em uma situação de estiagem, o desempenho do café
sombreado seria melhor do que o café em pleno sol, uma vez que o teor de
umidade do solo é um fator fundamental para a qualidade e produtividade do
café”, afirmou Taques.
Produtividade e análise econômica
A
pesquisa avaliou a produtividade e analisou economicamente o cultivo agroflorestal
dos cafés sombreados com gliricídia, banana, ingá e pupunha. Foi indicado que a
produtividade do café pode ser influenciada pela espécie de árvore utilizada no
sombreamento, como explicou o coordenador do projeto e pesquisador do Incaper,
João Araújo.
"Os
cafés com bananeira e gliricídia não se diferenciam do café solteiro e
apresentaram produtividades iguais. Já o café com pupunha e com ingá
produziram 32% a mais que o café solteiro, indicando que a pupunha e a árvore
de ingá são plantas companheiras para o café nessa situação de cultivo do
cafeeiro conilon não irrigado", descreveu Araújo.
O
cultivo de café sombreado ajuda a diversificar a produção nas propriedades
agrícolas. Além disso, as sombras das árvores associadas a café ajudam a
diminuir o mato nas entrelinhas, reduzindo a necessidade de mão de obra
para capina e minimizando, assim, os custos de produção.
Outro ponto relevante destacado na pesquisa é que as sombras das árvores
oferecem maior conforto térmico para o produtor rural.
Análise de qualidade
Um dos
projetos da pesquisa, coordenado pelo professor do Ifes, Wanderson Romão,
realizou a análise da qualidade do café cultivado a pleno
sol, comparado ao cultivo sombreado. A pesquisa utilizou equipamentos de
ponta para análise dos cafés, cujos resultados foram comparados com a
metodologia de análise sensorial padrão, realizada por degustadores de
café.
As
amostras de café consorciadas com gliricídia obtiveram as notas mais elevadas e
os melhores resultados. Todas as amostras foram caracterizadas quimicamente
pelas técnicas analíticas utilizadas. Os cafés cultivados a pleno sol, de modo
tradicional, foram os que obtiveram as menores notas de qualidade. A incidência
direta da radiação solar faz com que haja uma maior temperatura no ambiente, o que
afeta tanto a maturação quanto a frutificação dos grãos, além da qualidade.
Árvores com potencial econômico
As
culturas associadas no plantio de café sombreado podem contribuir
economicamente, gerando uma alternativa de renda para o agricultor, como
indicou um dos projetos da pesquisa. O cultivo de café sombreado também
apresenta uma alternativa para diminuir as perdas na produção em tempos de
secas prolongadas e altas temperaturas.
A produção
de café consorciada gera madeira, frutos, óleos, resinas e outros produtos que
oferecem maior valor agregado e podem ser comercializados. A pesquisa sobre
espécies arbóreas para composição de café sombreado, coordenada pela professora
da UVV, Denise Endringer, avaliou, ainda, a gliricídia como fonte de
produtos bioativos, que podem ser utilizados na composição de cosméticos.
A
série de vídeos sobre café sombreado será divulgada, ao longo do
mês de janeiro e fevereiro, nos canais do Incaper no Instagram, Facebook e YouTube. Os cafeicultores interessados
em plantar café sombreado podem buscar auxílio técnico nas unidades
do Incaper.
Assessoria de Comunicação do
Incaper