A
Secretaria da Saúde (Sesa), por meio do Laboratório Central de Saúde Pública do
Espírito Santo (Lacen/ES), realizou um estudo em que foi detectada a
presença de anticorpos IgG, específicos para SARS-CoV-2, em amostras
de infecções por arboviroses (Dengue e Chikungunya) de dezembro de
2019.
Com a
Portaria n°153-R, de 11 de agosto de 2020, que determinou a obrigatoriedade da
testagem de amostras presentes em sorotecas para a infecção pelo novo
Coronavirus (Covid-19), foi realizada a investigação que permitiu a
produção do estudo intitulado “Casos ocultos de Síndrome de
Respiração Aguda Grave Coronavírus 2: um perigo desconhecido, mas presente em
regiões endêmicas para Dengue e Chikungunya”. A pesquisa contou com o apoio do
Núcleo de Doenças Infecciosas, da Universidade Federal do Espírito
Santo (Ufes) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da
Universidade de Nova Lisboa (Portugal).
Foram
analisadas 7.370 amostras de soro de pacientes suspeitos de infeção pelas
arboviroses. Dessas, 210 amostras foram positivas para presença
de anticorpos IgG, específicos para SARS-COV-2, sendo que, desses, 16
pacientes tiveram coleta de sangue anteriores ao dia 26 de fevereiro, data do
primeiro caso identificado pela metodologia RT-PCR no Brasil. Com o estudo, há
evidencias de que a primeira amostra positiva para IgG anti-SARS-CoV-2 no
Espírito Santo data de 18 de dezembro de 2019.
Em
pronunciamento, na manhã desta terça-feira (12), o secretário de Estado da
Saúde, Nésio Fernandes, junto ao coordenador-geral do Lacen/ES, Rodrigo Ribeiro
Rodrigues, explicou que a iniciativa da pesquisa partiu do interesse de compreender
melhor o comportamento da Covid-19 no território capixaba e no Brasil.
“A
doença foi se espalhando ao longo do primeiro semestre de 2020 e tivemos um
comportamento da concomitância das endemias de Dengue e Chikungunya no Estado,
em especial na Grande Vitória. São doenças que transcorrem com síndromes
febris, também características da evolução da Covid-19, o que nos levou a
levantar algumas hipóteses no que diz respeito à possibilidade de que os casos
de arboviroses poderiam ser do novo Coronavírus”, explicou o secretário Nésio
Fernandes.
Segundo
o coordenador-geral do Lacen/ES, o estudo também levantou a questão
de que os surtos concomitantes de arboviroses podem dificultar o diagnóstico
para a Covid-19. “Isso traz uma contribuição importante ao Sistema Único de
Saúde, uma vez que independentemente da existência do diagnóstico positivo para
a arboviroses, deve-se sempre ser considerada, em especial no ano que se passou
e neste que se inicia, a infecção pelo SARS-CoV-2, uma vez que ambas as doenças
apresentam sinais e sintomas semelhantes”, destacou Rodrigues.
Ainda
de acordo com o secretário Nésio Fernandes, o estudo desenvolvido pelo Lacen/ES
poderá suscitar novas etapas para o desenvolvimento da investigação dos casos
da Covid-19 no Brasil. “Estabelecemos uma comunicação junto ao Ministério da
Saúde com um grupo de trabalho para acompanhar as próximas etapas de
investigação. Com a identificação dos anticorpos confirmados pelos testes,
agora iremos para novas etapas, como a retestagem dos pacientes por meio desse
trabalho conjunto”, disse.
A
partir destes achados, serão realizadas investigações epidemiológicas de
campo e laboratoriais, junto ao Ministério da Saúde,
visando a reanalisar os 210 pacientes positivos, por meio de
inquérito epidemiológico dos casos, índices e contatos, bem como realizar
análises de cinética e neutralização de anticorpos.
Para
acessar o pronunciamento, clique
aqui.
Hipóteses e justificativa da pesquisa
A
observação do comportamento sazonal de alta de casos de arboviroses (Dengue e
Chikungunya) em bairros populares de Vitória, sucedido a um aumento
abrupto de casos da Covid-19, quando passaram a ser notificados nessas
regiões, suscitou a análise por parte da Secretaria da Saúde.
De
acordo com Nésio Fernandes, a crescente de notificações de Dengue e Chikungunya
e a alta letalidade da Covid-19 em bairros como Santo Antônio e São Pedro, em
Vitória, comparado a outros bairros da cidade, poderiam sugerir uma baixa
testagem.
“Eram
regiões que viviam o aumento de casos de arboviroses, com comportamento sazonal
esperado para a época do ano, mas que tiveram o início do diagnóstico mais
sustentado para a Covid-19 tardio. O interesse da pesquisa partiu deste ponto,
em identificar qual poderia ser a frequência e a concomitância, e algo que
pudesse sugerir a circulação anterior do vírus aos primeiros casos
notificados”, pontuou o secretário.
Metodologia da pesquisa
O
estudo intitulado “Casos ocultos de Síndrome de Respiração Aguda Grave
Coronavírus 2: um perigo desconhecido, mas presente em regiões endêmicas para
Dengue e Chikungunya”, analisou 7.370 amostras de soros previamente testados
para a dengue e chikungunya no Espírito Santo, pelo Lacen/ES, no período de
primeiro de dezembro de 2019 a 30 de junho de 2020.
Dentre
as amostras testadas, 210 (2,85%) casos ocultos da Covid-19 foram
identificados, por meio do ensaio de quimioluminescência por
micropartículas, que detectou a presença de imunoglobulinas G (IgG)
específicas para a nucleoproteína “N” do SARS-CoV-2.
O
coordenador-geral do Lacen/ES, Rodrigo Rodrigues, salientou que
a técnica possui alta sensibilidade e alta especificidade, permitindo a
detecção de anticorpos (IgG) específicos para o novo Coronavírus, mesmo
quando presentes em baixa concentração. “O que permitiu a detecção destes
anticorpos e, portanto, os dados obtidos sugerem que o SARS-CoV-2 já circulava
em solo capixaba no último mês de 2019”, frisou.
Estudo publicado em revista
internacional
O
Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/ES) deu início à
pesquisa em junho de 2020, quando se iniciou as primeiras discussões sobre as
possíveis relações entre doenças endêmicas causadas por arboviroses e
a Covid-19.
Por
determinação da Portaria nº 153-R, o Lacen/ES passou a realizar as testagens
dos soros, com finalização das análises em setembro. Em outubro, a direção
submeteu a publicação da pesquisa para a revista científica PLOS ONE,
com aprovação realizada na última quarta-feira (06).
“Com a
experiência em pesquisas científicas em doenças infecciosas há mais
de 30 anos, passamos a indagar se a presença de uma outra doença febril, de
origem desconhecida, poderia estar alterando o perfil esperado para a epidemia
de Dengue e Chikungunya em 2020. Nossa suspeita é que poderia existir outro
vírus co-circulando e queríamos saber se era o SARS-CoV-2”, destacou o
coordenador-geral do Lacen, Rodrigo Rodrigues.
A
pesquisa está disponível neste link.
Assessoria
de Comunicação da Sesa