Comprar menos e trocar marcas ajuda a frear inflação. Entenda


Ir ao supermercado está ficando cada vez mais caro e trabalhoso para quem precisa adaptar a lista de compras aos rendimentos mensais.

A prévia da inflação de preços no Brasil mostrou que os alimentos e bebidas saltaram 1,38%, alta influenciada principalmente pela alimentação no domicílio, cuja taxa passou de 1,51%, em setembro, para 1,54%, em outubro.

Destaque para:

• Frutas (6,4%);
• Tomate (23,15%);
• Batata-inglesa (8,57%);
• Frango em pedaços (5,11%);
• Café moído (4,34%);
• Frango inteiro (4,20%); e
• Queijo (3,94%).

Os preços que já pareciam fora de controle, devem sofrer mais pressão nos próximos dias com o último aumento de 1,5 ponto percentual na Selic, taxa básica de juros no país, anunciado na última quarta-feira (27).

Quem precisa reduzir os gastos sem afetar a qualidade da alimentação e abrir mão do que gosta – provavelmente por causa do preço – tem de buscar artifícios para driblar a inflação e manter a mesma margem de gastos no supermercado.

Não há uma mágica para isso. É preciso pesquisar preços, buscar marcas alternativas e reduzir o consumo de produtos que estão com preços nas alturas, segundo o economista André Braz, coordenador do IPC do FGV IBRE.

Quem gosta de comer carne, compre em menor quantidade. Não consegue ficar sem consumir algum outro alimento, troque a marca. Há opções com a mesma qualidade, porém de empresa menos famosas, que são mais baratas e podem ajudar a reduzir os custos, diz André Braz.

O economista frisa que ao aderir ao controle melhor dos gastos, pesquisando, substituindo e comprando menos o que estiver mais caro o consumidor ajuda a conter o avanço de preços.

“São comportamentos mais gerais, porém sem veto, que influenciam bastante os preços. Há muita marca boa e que oferece o mesmo produto e com a mesma qualidade por um preço bem menor. O que percebemos que há resistência do brasileiro em fazer a substituição”, conta Braz.

A professora de economia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) Juliana Inhasz acredita que a melhor alternativa para driblar a alta dos preços é a substituição.

O problema da carne é que as substituições que seriam o ovo ou o frango também estão caras. Então, a melhor alternativa é reduzir o consumo, diz Juliana Inhasz.

Uma dica de Braz é ir ao supermercado após o dia 10. “A maioria da população faz suas compras no início do mês. Com isso, os supermercados precisam realizar promoções para manter o fluxo de clientes o ano todo.”

Braz e Juliana também sugerem para o consumidor nunca sair de casa sem uma lista de compras e tentar ser o mais fiel possível a ela, evitando circular por corredores que sabe que não têm os produtos procurados.

Troca de marca pode cortar pela metade gasto com o supermercado, segundo um levantamento feito pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados).

De acordo com a instituição, até pouco tempo atrás, algumas redes trabalhavam com apenas três marcas, no máximo. Agora é possível encontrar de seis a sete marcas do mesmo produto.

Alguns exemplos:

• O pacote 5 kg do arroz tipo 1 pode ser encontrado com preços que variam R$ 16 a R$ 30, dependendo da marca;
• O pacote de 1 kg de feijão (da mesma qualidade) custa entre R$ 5,99 e R$ 8,99, dependendo da marca;
• O preço da dúzia de ovos vai de R$ 7,99 a R$ 12, dependendo da granja;
• O quilo da bisteca suína sai entre R$ 15,90 e R$ 19,99, dependendo do frigorífico; e
• O frango congelado sai de R$ 14,99 a R$ 16,99 o quilo, dependendo da granja.

'Difícil ver povo de grande produtor de gado não comer carne'

Patrícia Costa, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), diz que “é inadmissível ver a população deixando de comer carne e produtos essenciais se considerarmos que o Brasil é um grande produtor agropecuário e agricultor.

“O quilo da carne passou de R$ 25 em 2019 para R$ 44 em 2021. É muito difícil saber em quais condições muitas pessoas estão vivendo. Ver pessoas disputando carcaças de animais na rua morando num dos maiores produtores de gado do mundo.”

A economista também frisa que falta ao país uma política mais protecionista para priorizar o consumo interno de tudo o que é produzido no país.

É o mote do capitalismo. Enquanto o câmbio estiver favorável, se a China quiser comprar, o produtor vai vender. Estamos enviando nosso melhor alimento para fora e deixando nossa população comer carcaça, diz Patrícia Costa.

Patrícia pontua, ainda, que, com a crise, grande parte da população está morando nas ruas e não tem condições nem mesmo de fazer substituições.

São famílias que realmente não têm dinheiro para nada. Quem ganha um salário mínimo hoje [R$ 1.100] está comemorando porque há famílias vivendo abaixo da linha da miséria. Patrícia Costa

Carne será um item cada vez mais raro na mesa do pobre

Para o sociólogo Fabio Mariano, se não tivermos uma intervenção no cenário econômico do país, a carne será cada vez mais rara na mesa de boa parte da população.

“E vou dizer mais, não será só a carne que faltará na casa da população de baixa renda. Não haverá energia elétrica e gás. São três itens que sofreram aumento substancioso e que causaram grande impacto no orçamento das famílias.”

Mariano ainda diz que itens importantes na cesta de consumo da população de baixa renda tiveram os preços elevados, mas o rendimento continua o mesmo ou foi perdido durante a crise gerada pela pandemia.

“Se a renda não acompanha os custos da cesta de consumo, essas famílias vão precisar cortar gastos. Por mais que elas tentem aumentar o rendimento, buscando alternativas para ter uma renda extra, não podemos esquecer que o desemprego ainda é grande.”

Fonte: R7


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