Alta da gasolina e do diesel tem sido impulsionada pelo real desvalorizado. Moeda brasileira sofre com as incertezas dos investidores em relação ao rumo da política econômica do governo.
Os brasileiros estão pagando cada vez mais para
encher o tanque do carro. A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (8) que
vai reajustar o preço da gasolina e do gás de cozinha (GLP) para as suas
distribuidoras a partir deste sábado (9). O aumento será de 7,2% em cada
produto.
No acumulado deste ano até setembro, o preço
da gasolina já avançou 39,6% no país e o botijão de gás avançou 34,67%, segundo
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Nos postos do país, a escalada nos preços é
evidente. Levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) mostrou que o preço médio da gasolina comum nas
bombas atingiu R$ 6,092 por litro na última semana de setembro — na 8ª
alta semanal consecutiva.
Mas,
afinal, por que os preços dos combustíveis não param de subir?
Formação
de preços
Primeiro, é preciso entender como os preços da
gasolina e do diesel são definidos. A formação do preço dos combustíveis é
composta pelo preço exercido pela Petrobras nas refinarias, mais tributos
federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide) e estadual (ICMS), além do custo de
distribuição e revenda.
Há ainda o custo do etanol anidro na gasolina,
e o diesel tem a incidência do biodiesel. As variações de todos esses itens são
o que determina o quanto o combustível vai custar nas bombas.
Dólar
em alta
O principal 'motor' das altas da gasolina e do
diesel vem sendo o real desvalorizado. Até esta sexta-feira (8), o dólar –
moeda à qual o valor do petróleo é atrelado – acumulava alta de 6,32% sobre o
real este ano. Em setembro, essa valorização chegou a 5,34%.
"Eu destacaria que o principal culpado
para a alta do preço do combustível é o câmbio, de longe. O petróleo já esteve
num valor acima do atual, e o combustível não custava o que custa hoje",
afirma Walter de Vitto, analista da consultoria Tendências.
Incerteza
política
O que dá força para esse movimento de perda de
valor da moeda brasileira são as várias incertezas dos investidores com relação
ao rumo da política econômica do governo Jair Bolsonaro.
As falas de caráter golpista do presidente nas
manifestações de 7 de setembro elevaram o grau de incerteza na economia e
bagunçaram os indicadores. Além de elevar o dólar, crises políticas como essa
diminuem a probabilidade da aprovação de políticas públicas no Congresso.
"A questão fiscal precisa ser atacada,
agora tem a questão política. Esses fatores geram essa incerteza, e o câmbio
reflete tudo isso", diz de Vitto, da Tendências. "A demanda por real
diminui, a demanda por dólar aumenta, e a moeda brasileira se
desvaloriza."
Preço
do petróleo no mercado externo
Há ainda um fator adicional de pressão. O valor
do combustível também é influenciado pela recuperação da cotação do petróleo no
mercado internacional. Depois do choque provocado pela pandemia de coronavírus,
a economia global deve ter um crescimento robusto neste ano, o que aumenta a
busca pela commodity e, consequentemente, ajuda a puxar os preços para cima.
"Com essa alta do preço (do petróleo) no
mercado internacional, o preço do combustível fica mais alto logo na
partida", diz Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em
economia no Insper.
Política
de preços da Petrobras
No governo Michel Temer, a Petrobras alterou
a sua política de preços de combustíveis para seguir a paridade com o mercado
internacional.
Os preços de venda dos combustíveis praticados
pela estatal passaram a seguir o valor do petróleo no mercado internacional e a
variação cambial. Dessa forma, uma cotação mais elevada da commodity e/ou
uma desvalorização do real têm potencial para contribuir com uma alta de preços
no Brasil, por exemplo.
A Petrobras é dominante no mercado. E,
portanto, qualquer mudança adotada pela estatal tem capacidade para produzir um
impacto em toda a cadeia.
No final de setembro, a Petrobras informou
que é responsável por apenas R$ 2 na composição de preços da gasolina e
que o aumento de preços do combustível é de responsabilidade do governo.
A estatal fez a declaração após o presidente
Bolsonaro se referir ao aumento do combustível com a frase: "Nada não
está tão ruim que não possa piorar."
Tributação
Uma das principais acusações correntes sobre a
alta de preços está relacionada ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços – o ICMS. O imposto estadual, de fato, tem grande peso sobre o valor
na bomba. A alíquota varia entre os estados: no caso da gasolina, chega a 30%
em alguns locais.
No fim de agosto, Bolsonaro chegou a afirmar em
entrevista que a alta dos combustíveis se devia à "ganância dos
governadores".
O valor nominal do ICMS pago por litro de
combustível cresceu porque seu custo, usado como base para o cálculo, está
maior.
As alíquotas, no entanto, são as mesmas
cobradas antes da atual crise: tanto em maio do ano passado, quando a gasolina
custava, em média, R$ 4, quanto em setembro, com o preço a R$ 6. O percentual
cobrado em São Paulo, por exemplo, continua em 25%.
Por
que seguir a paridade internacional?
Na administração Dilma Rousseff, para
evitar uma escalada da inflação, o governo evitava a reajustar os preços
administrados, como os da energia elétrica e dos combustíveis. A medida
não era bem aceita pelos investidores por ser considerada uma intervenção do
estado na economia.
"O governo Dilma usou a Petrobras como uma
forma de absorver os impactos de preços, evitando o repasse para o consumidor
final", afirma Juliana, do Insper. "Mas o aumento de preços tem de
acontecer porque, caso o contrário, o governo arca com essa alta."
Durante o governo Temer, a mudança de preços
chegou a ser diária e acabou desembocando na greve dos caminheiros. A
manifestação custou o cargo de Pedro Parente, então presidente da
Petrobras.
Na gestão atual, a Petrobras ainda diz manter a
paridade do preço dos combustíveis, mas os reajustes acontecem numa frequência
menor - o último foi anunciado nesta quinta-feira (8).
Bolsonaro já reclamou publicamente da alta dos
preços e tirou Roberto Castelo Branco do comando da estatal no início
deste ano. Ele foi substituído pelo general Joaquim Luna Silva.
Com
Informações G1 Globo