GIGANTES DA AMAZÔNIA: Expedição mapeia santuário com castanheiras e angelins-vermelhos


Elas se erguem muito acima da média do dossel da floresta. Como conseguem crescer tanto e não quebrar é algo que sempre intrigou estudiosos. 

Angelim Vermelho de 85 metros, visitado no Amapá — Foto: Equipe da expedição do projeto Árvores Gigantes coordenado pelo Instituto Federal do Amapá (Ifap)

Busca no Sul do Amapá identificou três árvores de 66 metros e um angelim-vermelho de quase 80 metros. Projeto levou moradores da região para que possam guiar futuras expedições e gerar renda para as comunidades.

Uma nova expedição levou pesquisadores a 4 novas árvores gigantes na Amazônia. Desta vez, o grupo conseguiu localizar as maiores castanheiras já registradas no Amapá e angelins-vermelhos (um de 66 metros e outro de 79,19 metros) em reserva sustentável no Sul do estado, mapeando um novo santuário.

Essa não é a primeira vez que especialistas encaram a mata fechada da floresta amazônica em busca das maiores árvores da região. Em 2019, o mundo viu o registro da maior árvore da Amazônia, com 88 metros de altura, dentro uma reserva de conservação de uso sustentável, na divisa do Amapá com o Pará. Com o achado, os pesquisadores passaram a apostar na identificação de outras gigantes.


Desta vez, a nova expedição científica aconteceu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, região conhecida como Médio Jari, entre os dias 18 e 23 de janeiro. O projeto chegou a ser suspenso em março de 2020, devido à pandemia da Covid-19, mas foi retomado em outubro com um trabalho voltado para moradores da região.

Antes de iniciar a busca na floresta, os pesquisadores já sabiam a localização aproximada das 4 árvores gigantes, mas desconfiavam que seriam somente exemplares de Dinizia excelsa ducke, espécie mais conhecida como angelim-vermelho.

O doutor em ciências florestais e professor do Instituto Federal do Amapá (Ifap) em Laranjal do Jari, Diego Armando Silva, que coordena o estudo, com colaboração de outros pesquisadores amapaenses, destacou que uma das surpresas foi identificar castanheiras de 66,66 metros e 8,90 metros de circunferências.

“Até então, na literatura o maior registro em altura é de castanheiras de 50 metros. São as maiores castanheiras que a gente encontrou ali naquela região e que deixou a gente muito feliz porque a castanheira para as comunidades daquela região é símbolo de desenvolvimento regional e do extrativismo”, pontuou.

O trabalho contou com auxílio desde instrumentos utilizados há séculos, como a bússola, até os mais tecnológicos como o drone. As alturas das árvores foram confirmadas ainda através de escalada.

A expedição ocorreu com participação de 6 moradores de comunidades próximas ao novo santuário, representantes da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Setec), e ainda do Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap), e da Fundação Jari.

Para que serve o mapeamento?
Armando cita que a descoberta valoriza ainda mais a unidade de conservação e demonstra a importância de mantê-la preservada. Como é de uso sustentável, a ideia é proporcionar que moradores dos arredores do santuário também possam usufruir da floresta.

O projeto também qualificou moradores das comunidades Rio Iratapuru e São Francisco do Iratapuru, para que possam se tornarem guias e realizarem outros trabalhos não madeireiros para a geração de renda para onde habitam.

“A gente consegue, com pesquisa científica, abrir um leque muito grande tanto para o turismo de base comunitária, turismo ecológico, científico, como para o desenvolvimento regional e valorização daquela unidade de conservação. Agora é um mundo de pesquisas que pode ser executado e a gente acredita muito no potencial daquela região”, definiu o professor do Ifap.

O projeto recebeu R$ 60 mil do Fundo Natura para Desenvolvimento Sustentável das Comunidades (Fundo Iratapuru). O professor destacou que o Ifap e mais de 30 pesquisadores buscam receber também outro financiamento que visa o monitoramento dessas árvores nos próximos quatro anos.

"As árvores maiores da Amazônia provavelmente são angelins-vermelhos, até então, e elas correspondem hoje a 80% do manejo da exploração madeireira feito na região do Amapá. Então, as unidades de conservação estão fazendo o papel essencial de preservar as grandes árvores da Amazônia", acrescentou Armando.

Áreas de 'árvores gigantes'
Tudo partiu de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificou árvores com alturas muito acima do normal nesta região do estado.

Antes de encarar a viagem pelo rio Jari, pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira. A busca por terra validou o que já havia sido identificado por satélites.

O estudo, realizado por diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil e exterior, começou em 2016, foi financiado pelo Fundo da Amazônia, e resultou na expedição Jari-Paru: em busca da árvore gigante.

Usando uma espécie de "radar laser" que faz sensoriamento remoto, os pesquisadores identificaram 7 regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros.

Seis dessas coleções estavam na região do Rio Jari, entre os estados do Amapá e Pará, incluindo a gigante mor.

Para se ter uma ideia da dimensão da descoberta, as maiores árvores do mundo são as sequoias-gigantes, que podem medir de 85 a 110 metros e são naturais do hemisfério norte.

Fonte: G1 Amapá




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