Após reclamação da CNBB, deputado que xingou arcebispo e papa de 'vagabundos' é alvo de quatro representações na Alesp

Deputado estadual Frederico D'Avila (PSL-SP), apoiador de Bolsonaro e ligado ao agronegócio - Foto: Mauricio Garcia de Souza / Divulgação/Alesp

O deputado estadual Frederico D'Ávila (PSL-SP) foi alvo de quatro representações por quebra de decoro na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta segunda-feira (18). No último dia 14, o parlamentar foi à tribuna da Alesp para fazer um discurso contra o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, que, por sua vez, havia criticado o presidente Jair Bolsonaro. D'Ávila chamou Brandes de "canalha" e "safado" e disse que o papa Francisco é "vagabundo". A comissão ainda analisa se vai abrir a representação. Também nesta segunda, o deputado pediu desculpas "pelas palavras e exagero".

No domingo, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma carta à Alesp em que cobra da assembleia punição ao deputado."As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem", diz o texto. Segundo a CNBB, D'Ávila também será acionado judicialmente.

— Falar para o arcebispo dom Orlando Brandes, seu vagabundo, seu safado. Safado da CNBB. Dando recadinho para o presidente e para a população brasileira que 'pátria amada não é pátria armada'. Pátria armada é a pátria que não se submete a essa gentalha — declarou o parlamentar no dia 14. — (Brandes), que se submete a esse papa vagabundo também. A CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil — completou o deputado.

O discurso de D'Ávila ocorreu dois dias após a celebração do Dia de Nossa Senhora Aparecida, quando Dom Brandes fez, durante a missa em homenagem à Padroeira, um discurso que citava o governo Bolsonaro indiretamente. O religioso afirmou que “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”, fazendo referência a um slogan do governo federal. Afirmou também que o Brasil não precisa de “mentira e fake news”.

As representações feitas contra D'Ávila até agora ao Conselho de Ética são assinadas pelos deputados Carla Morando (PSDB), Emídio de Souza (PT), Luiz Fernando Teixeira (PT) e Paulo Fiorilo (PT).

— Os pedidos serão encaminhados a todos os integrantes da Conselho de Ética o deputado Frederico D’Avila será notificado para apresentar defesa em até cinco sessões — disse a deputada Maria Lucia Amary, presidente do colegiado, formado por mais oito parlamentares.

Após a apresentação da defesa, o conselho marca uma reunião para votar se as representações serão ou não aceitas e, só aí, tem início um processo por quebra de decoro.

Em carta publicada nesta segunda-feira, D´Ávila admitiu que seu pronunciamento foi "inapropriado e exagerado pelo calor do momento", mas manteve que respondeu a "líderes religiosos que ultrapassam os limites da propagação da fé e da espiritualidade para fazer proselitismo político".

"Não tive a intenção de desrespeitar o Papa Francisco, líder sacrossanto e chefe de Estado, minha fala foi no sentido de divergir sobre ideias e posicionamentos, tão só. Inserir o Papa em minha fala foi um erro, pelo qual humildemente peço desculpas", afirmou o deputado do PSL, na carta. "Reitero que desculpo-me pelas palavras e exagero".

Apoiador de Bolsonaro e ligado ao agronegócio, D'Ávila foi eleito pela primeira vez para o cargo de deputado estadual em 2018, com apoio da Sociedade Rural Brasileira, entidade da qual foi conselheiro até 2020. Em 2019, ele se envolveu em outra polêmica ao apresentar um projeto de lei para homenagear o ditador chileno Augusto Pinochet — o tributo foi barrado pelo então presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB).

Ao dar início à sessão desta segunda-feira, o presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari (PSDB) discursou no plenário, pediu desculpas publicamente ao papa Francisco e ao dom Brandes e fez um apelo contra extremismos:

— Repudio todo e qualquer uso da palavra que vá além da crítica e que se constitua em ataques, extrapolando os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar, concedida aos representantes públicos eleitos — afirmou Pignatari, que continuou: — Todo deputado estadual tem o dever de representar o povo, ouvir as pessoas e fazer valer seu compromisso com São Paulo. Mas vir a tribuna, lugar mais importante desta assembleia, para proferir ofensas é algo que não pode ser aceito.

Fonte: O Globo


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