Gripe: vacina não cobre nova cepa, mas ajuda a evitar casos graves


O aumento significativo do número de casos de gripe causados pelo vírus Influenza no Espírito Santo e em outros estados brasileiros expôs a necessidade de a população procurar se vacinar também contra a doença.

Muitos especialistas atribuem essa recente epidemia de gripe à baixa adesão da população à campanha de vacinação contra a Influenza. Em meio à pandemia da covid-19, as pessoas acabaram priorizando a imunização contra o coronavírus, deixando de lado outras vacinas.

"A gripe, ou Influenza, é uma doença que, a princípio, é prevenível, seja com a vacina, com o distanciamento ou com o uso de máscara. O fato é que, com a cobertura vacinal cada vez mais baixa para a Influenza, com o enfraquecimento das medidas de uso de máscara e de álcool em gel, e com a retomada das aglomerações, o que a gente vai ver é um aumento no número de casos", destacou o infectologista Bill Bassetti, à reportagem da TV Vitória/Record TV.

No entanto, especialistas também reconhecem que a vacina contra a gripe oferecida atualmente, tanto no sistema público quanto no sistema particular, não cobre totalmente a nova versão da variante H3N2, da Influenza A.

A chamada "variante Darwin" do vírus tem circulado em estados como Rio de Janeiro e São Paulo e aumentado significativamente o número de casos de gripe nessas regiões.

O professor Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Botucatu, disse ao portal R7 que as vacinas usadas hoje no mundo ainda não conferem proteção completa contra este tipo específico de H3N2.

"O H3N2 que está circulando é o que a gente chama de variante Darwin, não é o H3N2 que está na vacina da gripe atual. A vacina atual talvez dê uma imunidade cruzada baixa ou moderada. Então, isso explica porque quem foi vacinado pode, eventualmente, ter quadros de gripe por esta cepa", disse.

Ainda segundo o especialista, mesmo não oferecendo proteção completa contra o novo vírus, é fundamental receber a vacina contra influenza. "Os não vacinados ainda têm mais chance de se infectar e ter quadros graves. Tivemos um índice muito baixo de vacinação contra influenza", explicou.

"O fato é que, mesmo com novas cepas circulando, a gente ainda tem o H1N1. então melhorar a cobertura vacinal, ao longo desses dias, provavelmente vai prevenir com que novos casos, e casos graves, apareçam. Então, além do tratamento e além da prevenção em relação a distanciamento social e uso de máscaras, também vai ser muito importante melhorar a cobertura vacinal", ressaltou Bill Bassetti.

Já o epidemiologista Daniel Gomes explicou à reportagem do jornal online Folha Vitória que as vacinas contra a gripe são atualizadas todos os anos, justamente para cobrir essas novas cepas que eventualmente aparecem.

"A vacina da gripe é anual. Todo ano há uma reformulação dos componentes dela, utilizando aquelas variantes da Influenza que estão circulantes naquele ano. Então, nesse sentido, todo ano ela muda para tentar cobrir aquele vírus predominante do ano", explica.

"Esse vírus circulante do momento tem alguns componentes que não estavam presentes na campanha anterior de vacinação", completou.

Daniel Gomes, no entanto, também concorda que, mesmo sem essa cobertura total da nova cepa, a vacinação é sim a melhor alternativa do momento para evitar que os sintomas da gripe evoluam para casos mais graves.

"A vacina é a melhor alternativa de prevenção para qualquer doença, inclusive a Influenza. Mesmo ela sendo uma doença sazonal e uma doença na qual a gente tem uma reformulação das vacinas, é necessário que o indivíduo se vacine, iniciando nos grupos prioritários e depois ampliando para o restante da população", frisou.

O epidemiologista esclarece ainda que a nova versão da Influenza não necessariamente é mais agressiva que as outras variações do vírus.

"Dizer que o vírus seja mais perigoso, não acho que é o termo correto. A vacina das campanhas anteriores não cobre, ou não estimula o sistema imunológico para se proteger da melhor maneira contra esse vírus e, por isso, ele vai causar gripe. Mas não significa que ele seja mais poderoso, ele só é um organismo diferente", disse o doutor em epidemiologia, Daniel Gomes.

Vacina protege contra três cepas do vírus Influenza

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) ressaltou que a vacina contra a Influenza é segura e é considerada uma das medidas mais eficazes para evitar casos graves e óbitos por gripe. 

Foto: Divulgação

De acordo com a secretaria, para a 23ª Campanha Nacional de Vacinação, o imunizante utilizado protege contra três cepas do vírus Influenza: Influenza A (H1N1), Influenza A (H3N2) e Influenza B.

Em relação à cobertura vacinal, segundo dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), foram aplicadas no Estado 1.796.233 doses da vacina contra Influenza, sendo 839.792 nos grupos prioritários com meta.

Desde o início da campanha de vacinação contra a Influenza, em abril deste ano, a cobertura vacinal dos públicos-prioritários está em 78,6%. Entre os grupos, a cobertura é de 85,9% para crianças; 87% para gestantes; 82,2% para puérperas; 67,8% trabalhadores da saúde; 108,1% povos indígenas; 75,9% idosos.

Desta forma, apenas um dos grupos prioritários completou a meta já estabelecida. Entretanto, devido à instabilidade do sistema do Ministério da Saúde na última semana, a Sesa informou que aguarda o restabelecimento do serviço para atualização das coberturas.


Fonte: Folha Vitória


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