Justiça quebra de sigilo de Ciro para investigar suposta corrupção


Após a Justiça Federal do Ceará determinar a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Ciro Gomes (PDT) e de seu irmão, o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT), o pré-candidato à presidência acusou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de perseguir opositores e classificou a ação como "abusiva".

Segundo a Polícia Federal (PF), a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos investigados é medida imprescindível para rasterar possíveis pagamentos de propina que possam ter resultado em acréscimo patrimonial dos investigados.

"Não tenho mais dúvida de que Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade", afirmou Ciro por meio de nota. "O braço do estado policialesco de Bolsonaro, que trata opositores como inimigos a serem destruídos fisicamente, levanta-se novamente contra mim".

A PF cumpriu nesta quarta-feira mandados de busca e apreensão contra os irmãos Gomes para apurar um suposto esquema de corrupção envolvendo as obras da Arena Castelão, que passou por uma reforma para a Copa de 2014.

Ciro afirmou ainda que em seus 40 anos de vida pública nunca foi acusado nem processado por corrupção.

"Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos à minha pré-candidatura à Presidência da República", afirmou o pedetista, completando: "Vou até as últimas consequências legais para processar aqueles que tentam me atacar. Meus inimigos nunca me intimidaram e nunca me intimidarão. Ninguém vai calar minha voz".

A investigação se baseia na delação premiada de executivos da Galvão Engenharia. O GLOBO revelou, em setembro de 2018, que um dos diretores da empreiteira, Jorge Valença, relatou ter feito pagamentos em dinheiro vivo ao grupo de Ciro Gomes em troca da liberação de recursos do governo para a empresa. A PF diz que havia uma associação criminosa entre eles, que criava dificuldades no pagamento de valores devidos pelo governo estadual, para que houvesse a cobrança de propina em troca da liberação dos valores.

As obras do Castelão ocorreram durante a gestão de Cid Gomes no governo cearense. A suspeita da PF é que houve "exigências e pagamentos de propinas a agentes políticos e servidores públicos decorrentes de procedimento de licitação para obras no estádio" entre os anos de 2010 e 2013. A investigação aponta indícios do pagamento de R$ 11 milhões em propina, por meio de dinheiro vivo ou doações oficiais.

Segundo os delatores, os valores de propina eram discutidos entre Jorge Valença e Lúcio Gomes. Mas dois diretores da Galvão Engenharia relataram ter mantido reuniões com Ciro Gomes para tratar da liberação de valores devidos à empreiteira, mesmo ele não tendo responsabilidade direta sobre o assunto. "Ficava claro nos encontros com Ciro e Cid Gomes que Jorge Valença estava conversando com Lúcio Gomes e que a Galvão Engenharia estava à disposição para disponibilizar os recursos que fossem precisos", afirmou Dario de Queiroz Galvão.

Leia a íntegra da nota de Ciro Gomes:

"Até esta manhã, eu imaginava que vivíamos, mesmo com todas imperfeições, em um pais democrático.

Mas depois de a Policia Federal subordinada a Bolsonaro, com ordem judicial abusiva de busca e apreensão, ter vindo à minha casa, não tenho mais dúvida de que Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade.

O pretexto era de recolher supostas provas de um suposto esquema de favorecimento a uma empresa na licitação das obras do Estádio do Castelão para a Copa do Mundo de 2014.

Chega a ser pitoresco. O Brasil todo sabe que o Castelão foi o estádio da Copa com maior concorrência, o primeiro a ser entregue e o mais barato construído para Copas do Mundo desde 2002. Ou seja, foi o estádio mais econômico e transparente já feito para a Copa do Mundo.

Mas não é isso. E sejamos claros. Não tenho nenhuma ligação com os supostos fatos apurados. Não exerci nenhum cargo público relacionados com eles. Nunca mantive nenhum tipo de contato com os delatores. O que, aliás, o próprio delator reconhece quando diz que NUNCA me encontrou.

Tenho 40 anos de vida pública e nunca fui acusado nem processado por corrupção.

Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos à minha pré-candidatura à Presidência da República. Da mesma forma tentaram 15 dias antes do primeiro turno da eleição de 2018.

O braço do estado policialesco de Bolsonaro, que trata opositores como inimigos a serem destruídos fisicamente, levanta-se novamente contra mim.

Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar me intimidar e deter as denúncias que faço todo dia contra esse governo que está dilapidando nosso patrimônio público com esquemas de corrupção de escala inédita.

Nunca me senti um cidadão acima da lei, mas não posso aceitar passivamente ser tratado como um subcidadão abaixo da lei.

Sou um homem do embate, do combate e do Direito. Essa história não ficará assim. Vou até as últimas consequências legais para processar aqueles que tentam me atacar. Meus inimigos nunca me intimidaram e nunca me intimidarão.

NINGUÉM VAI CALAR A MINHA VOZ".

A defesa de Cid Gomes ainda não foi localizada para comentar.

Fonte: O Globo


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