Seis UFs não dispõem de dados atualizados sobre a vacinação. Estados dizem que ataque hacker ao Ministério da Saúde comprometeu sistema
Ou seja, na maior parte do Brasil, os elegíveis para mais uma dose dos imunizantes ainda não compareceram aos postos de vacinação.
Para chegar neste número, o (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, consultou cada um dos vacinômetros e boletins epidemiológicos dos 26 estados e do Distrito Federal.
O levantamento verificou o número de doses de reforços aplicadas em cada estado e a proporção da população local contemplada. Para o cálculo, foi utilizada a mais recente estimativa da população, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além dos baixos índices de retorno aos postos, outro problema também tem contribuído para o número desapontador: em seis estados, dados sobre a Campanha Nacional de Imunização estão desatualizados há mais de um mês. O motivo alegado pelos gestores é a falta de conectividade com o sistema de informações do Ministério da Saúde, que alega ter sofrido um ataque hacker.
Com dados atualizados até 15 de dezembro, Acre, Alagoas, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Tocantins vivem um apagão que os impede de registrar de forma fidedigna a corrida pela terceira dose.
Desde que sofreu uma série de ataques hackers em seus sistemas no dia 10 de dezembro, o Ministério da Saúde não conseguiu solucionar o apagão de dados sobre a Covid causado pela invasão. Com isso, dados epidemiológicos estão fora do ar.
Segundo Rodrigo Cruz, secretário-executivo da pasta, tudo foi apagado da nuvem do ministério durante o ataque. As informações, porém, não estariam perdidas, diz Cruz.
A Paraíba alega que não contabiliza vacinas de reforço, e que isso seria de responsabilidade dos municípios, que informariam ao ministério o montante aplicado. Em sua plataforma de acompanhamento, entretanto, o estado contabiliza primeiras, segundas e doses únicas de imunizantes aplicados.
Veja como está a situação de cada um dos estados do país:
O cenário preocupa especialistas, que veem a alta disseminação da variante Ômicron como um problema que só pode ser solucionado efetivamente com a aplicação do reforço das vacinas na população.
“Para enfrentar a Ômicron, precisamos que todos acima de 18 anos tenham ao menos três doses de vacinas. Isto é o básico”, diz Raquel Stucchi, médica infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Em todo ao país, em cada 100 pessoas, 15 tomaram a dose de reforço, número menor que o registrados pelos países vizinhos. No Chile, o número sobe para 61 vacinados a cada centena, Uruguai, 46, e na Argentina 19 em cada 100 já tomaram a dose de reforço, segundo dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford.
Com o baixo número de vacinados com reforço no Brasil, Stucchi afirma que o país está, mais uma vez, ficando para trás na corrida contra o vírus.
“Estamos atrasados, muito atrasados. Nosso percentual de pessoas já vacinadas com três doses é muito pequeno”, descreve a especialista.
Para o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, o problema da cobertura da terceira dose se soma a um planejamento que, segundo ele, foi mal executado para enfrentamento da Covid.
“Desde o início [da pandemia] não temos planejamento em relação à Covid, que deveria ter sido comandada pelo Ministério da Saúde. Faltou coordenação, e segue faltando até hoje”, critica Ribeiro.
Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem do Metrópoles. O espaço permanece aberto.
Fonte: Site Metrópoles