![]() |
Edifícios residenciais em construção são vistos na Evergrande Cultural Tourism City: nos últimos meses, a Evergrande insistiu que completaria seus projetos inacabados e iria entregá-los aos compradores. Foto: Aly Song / Reuters |
A gigante imobiliária chinesa Evergrande anunciou, nesta segunda-feira, a suspensão da negociação de suas ações na Bolsa de Hong Kong, sem detalhar os motivos para tal decisão.
O anúncio, porém, ocorreu após a mídia local ter informado que a Evergrande foi condenada a demolir, num prazo de dez dias, 39 edifícios na província de Hainan. Autoridades de Hainan disseram que a licença para construir os prédios teria sido obtida de maneira ilegal.
Atolada em dívidas de mais de US$ 300 bilhões, a construtora está em crise financeira desde setembro do ano passado.
- Embora o projeto de Hainan não seja significativo (para a Evergrande), a decisão terá um grande impacto na confiança (dos investidores) - avalia Kenny Ng, estrategista da Everbright Sun Hung Kai Co.
Com a crise da Evergrande, o setor imobiliário chinês sofreu um baque. As vendas de imóveis caíram 26% em dezembro, em relação ao mesmo mês de 2020, segundo levatamento feito pelo Citigroup com dados de imobiliárias listadas em Bolsa.
Na Evergrande, as vendas caíram 99%. A Shimao, outra gigante do setor, viu suas vendas caírem 25% em relação a novembro.
A notícia sobre a determinação da demolição em Hainan afetou as ações do setor imobiliário na China. Um índice que reúne esses papéis fechou em queda de 1,7% na Bolsa de Hong Kong.
O endividamento das incorporadoras é fonte de preocupação. Apenas em janeiro, as empresas precisam levantar US$ 197 bilhões em recursos para cumprir suas obrigações de dívidas.
As ações da Evergrande caíram 89% no ano passado, em meio a dificuldades crescentes da empresa para pagar credores. Em dezembro, a incorporadora passou a ser categorizada como em ''default'' (inadimplente) pelas agências de classificação de risco, depois de ficar inadimplente.
A empresa foi ainda alvo de protestos de clientes, que fizeram manifestações em frente a sede do grupo, em Shenzen. Muitos projetos do grupo tiveram as obras suspensas, e clientes e empreiteiros temem ficar sem receber seus imóveis e pagamentos.
A empresa tem 200 mil funcionários e, neste momento, está com US$ 1,2 bilhão em pagamentos suspensos. O grupo tentou vender ativos e ações de outras empresas, e seu presidente, Hui Ka Yan usou parte de sua fortuna pessoal para pagar um montante da dívida.
Há um temor de que a crise no setor imobiliário afete o crescimento econômico chinês. Em dezembro, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu suas previsões de crescimento do país para 2022 para 5,1%.
Além das dificuldades do setor imobiliário, que representa 25% de seu Produto Interno Bruto (PIB), a China enfrenta o impacto da pandemia de Covid-19 e as atuais dificuldades de abastecimento da cadeia de produção mundial.
No setor de construção, "os acontecimentos recentes evidenciaram os riscos persistentes no mercado imobiliário chinês, com potenciais efeitos importantes entre setores e além das fronteiras", advertiu a OCDE.
Fonte: O Globo