Mais de duas mil pessoas vivem dentro de uma 'muralha' em cidade do Canadá


Que os ventos e o inverno podem ser extremamente cruéis em algumas regiões canadenses já sabemos. Não é nada raro diferentes destinos do país chegarem a marcar 30 graus negativos no inverno, principalmente nas maiores latitudes. Mas uma cidadezinha da província franco-canadense de Québec, quase na fronteira com Labrador, resolveu fazer do limão uma limonada e colocou mais de 2 mil pessoas para viver dentro de uma gigantesca muralha.

É isso mesmo: a cidade de Fermont, onde os fortes ventos chegam a soprar com sensação térmica de -50ºC, construiu uma verdadeira muralha com edifícios — com até 50 metros de altura em alguns trechos — para tornar o destino humanamente habitável mesmo durante os rigorosos invernos da região acima do paralelo 52N. Dentro da muralha, existem hoje confortáveis apartamentos para mais de 400 famílias, além de bares, restaurantes, escola, lojas, piscina e até pista de hockey e uma pequena prisão com três celas.


Inspiração sueca, execução canadense
Tudo começou no final da década de 60, quando a companhia de mineração Québec Cartier resolveu abrir uma mina na remota e isolada Fermont, rica em minério de ferro (o nome da cidade, Fer-mont, vem do francês "montanha de ferro"). Com clima sub-ártico, tem invernos naturalmente muito longos e rigorosos, como a Sibéria. Não seria nada simples convencer mineradores a se mudarem para o gélido fim do mundo com suas famílias para trabalhar por lá.

A solução encontrada pela mineradora foi investir em duas frentes: oferecer polpudos salários (até hoje, Fermont tem uma das mais altas rendas per capita de todo o Canadá) e criar uma maneira de oferecer moradia e vida cotidiana confortável, mesmo nos meses mais terrivelmente gelados. A segunda parte foi delegada a uma equipe de arquitetos e engenheiros, encarregados de criar uma construção forte o suficiente para "barrar" os cruéis ventos regionais e garantir boa qualidade de vida aos mineradores.

Em uma época em que ainda nem se falava direito sobre edifícios sustentáveis e inteligentes, a equipe responsável (liderada por Maurice Desnoyers e Norbert Schoenauer) se inspirou em projetos do arquiteto sueco Ralph Erskine dos anos 50 para criar uma barreira física ao vento que também servisse como verticalização da própria cidade de Fermont. Afinal, o município teria que ser capaz de receber centenas de famílias de trabalhadores. Com a cidade estabelecida em 1972, foi criada uma muralha de impressionante 1,3 quilômetro com alturas de até 50 metros, dependendo do trecho do muro.

The Wall, como a construção é chamada localmente, não apenas barra os ventos cortantes que sopram do Ártico para o restante da cidade (há vida fora dela, incluindo algumas centenas de casas e até a única igreja local) como também hospeda moradias, ensino, entretenimento e serviços em geral para a população. Seis meses de autossuficiência para moradores Pouco a pouco, os primeiros trabalhadores começaram a chegar com suas famílias para trabalhar na mina do monte Wright. A estrutura, que segue firme e forte mesmo diante das emergências climáticas, foi concluída em 1974.

oje, são 440 famílias literalmente vivendo dentro da muralha: moram em confortáveis apartamentos internos e o gigantesco edifício ainda guarda lojas, restaurantes, centro de saúde, Prefeitura, todos os serviços municipais, escolas, creches, a estação de rádio local, supermercado, bares, piscina pública, pista de hockey, um pequeno hotel e até uma pequena prisão (geralmente utilizada para resolver brigas de bar).


Os espaços são todos acessíveis através de engenhosos corredores internos com iluminação artificial, de maneira mais ou menos semelhante aos shopping centers mais modernos — e com proteção total das intempéries climáticas do exterior, independente da estação do ano. A construção foi tão bem sucedida e completa que os moradores podem, de fato, passar todo o longo e rigoroso inverno (que costuma durar pelo menos seis meses) sem nem sair dali para absolutamente nada.

Os espaços são todos acessíveis através de engenhosos corredores internos com iluminação artificial, de maneira mais ou menos semelhante aos shopping centers mais modernos — e com proteção total das intempéries climáticas do exterior, independente da estação do ano. A construção foi tão bem sucedida e completa que os moradores podem, de fato, passar todo o longo e rigoroso inverno (que costuma durar pelo menos seis meses) sem nem sair dali para absolutamente nada.

Como a maioria das cidades focadas em mineração, adolescentes costumam deixar a cidade quando chegam à idade universitária e os funcionários da mineradora também se mudam definitivamente dali com suas famílias quando se aposentam, em busca de um modo de vida considerado nacionalmente mais "normal".

Fermont não tem aeroporto próprio, mas é acessível por duas estradas canadenses (rotas 389 e 500), facilmente conectadas ao aeroporto de Wabush, o mais próximo. Foi a primeira cidade canadense especialmente projetada para proporcionar conforto e proteção suficientes para a sobrevivência humana em condições sub-árticas.

Fonte: Uol


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