'Arranco madeira de sofá velho para cozinhar e ter o que comer', diz mulher

Eliane improvisou fogão no quintal de casa — Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

No quintal de casa, na Ocupação Vitória, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a faxineira Eliane César, de 47 anos, usa pedaços de madeira de um sofá velho para cozinhar em um fogão a lenha improvisado. Essa é uma tentativa de economizar, já que, sem dinheiro, a família ficou sem gás de cozinha por um mês.

Um novo reajuste no preço do gás passa a valer nesta sexta-feira (11). O preço médio de venda do GLP da Petrobras para as distribuidoras foi reajustado em 16,1%, e passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg, equivalente a R$ 58,21 por 13kg.

O botijão de 13 kg custa atualmente no país, em média, R$ 102,64, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

"A situação é muito difícil, às vezes falta comida. Esta semana consegui um óleo com a irmã da igreja. Este mês, meu marido fez um 'bico' e conseguimos comprar o gás por R$ 110. Mas mês passado não teve como, fiquei um mês sem gás. Arranco madeira de sofá velho para cozinhar e ter o que comer", desabafou Eliane.

Eliane mora com o marido, três filhos e um neto de 3 anos em uma casa com um quarto, uma cozinha e um banheiro.

Duas das filhas e a criança dormem em uma beliche na cozinha. A renda familiar vem de um benefício do filho dela que tem autismo e também do Programa Bolsa Família.

"Agora com esse novo aumento fica cada vez pior para quem é mais humilde, como que eu vou conseguir construir pagando mais de R$ 100 em um gás? Às vezes fico no meu canto, choro. O jeito vai ser preparar as madeiras mais uma vez e deixar de prontidão", afirmou.

Família passa 15 dias comendo macarrão de micro-ondas

Em Betim, outra cidade da Grande BH, a dona de casa Sheila Aparecida Ribeiro, de 39 anos, mora em um apartamento do "Programa Minha Casa, Minha Vida", de cinco cômodos, com o marido e sete filhos.

Por lá, a família também chegou a ficar sem gás e preparou as refeições no micro-ondas: 15 dias fazendo macarrão instantâneo e alternando com arroz.

"Aqui não tem espaço para fogão a lenha, então, quando faltou o gás, usamos o micro-ondas para fazer o macarrão, arroz, às vezes, um peito de frango. Como é muita gente, tinha que fazer de duas vezes. O feijão fiz no ebulidor junto com a beterraba", contou.


Sem gás, Sheila usou microondas para fazer comida — Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

O último gás foi adquirido pela família por R$ 120. Com a alta no preço, Sheila não sabe se vai conseguir comprar no próximo mês.

"Vamos voltar a usar o micro-ondas e ainda tenho que olhar se o ebulidor está funcionando. O meu filho mais velho começou a trabalhar há nove meses, mas entrou na faculdade privada este ano, no curso de educação física. Ele tenta ajudar em casa, mas fico sem graça de pedir dinheiro. Meu orgulho ele ter começado a estudar mesmo com tanta dificuldade. Eu tenho sonho de uma vida melhor", finalizou.

Fonte: G1


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