Estudante de São Gabriel da Palha é aprovada em medicina; estudava com livros que mãe encontrava nas ruas


Estudante da rede pública em São Gabriel da Palha, no Noroeste do Espírito Santo, Débora Sousa foi aprovada em universidades da Bahia e do Rio Grande do Sul.


Uma estudante da rede pública no Espírito Santo foi aprovada no curso de medicina em duas universidades públicas após passar anos estudando nos livros que a mãe encontrava nas ruas.

Débora Sousa Rocha, que vive em São Gabriel da Palha, no Noroeste do estado, conseguiu pontuação necessária para ser aprovada em universidades no estado da Bahia e no Rio Grande do Sul.

Algumas dificuldades apareceram. Com a pandemia e a necessidade de acompanhar as aulas do ensino médio de forma remota, Débora contava apenas com um telefone com a tela quebrada para continuar estudando.

Ela mora com a família em uma casa simples. Os pais não tinham dinheiro para matriculá-la em cursos particulares ou comprar um computador para a filha estudar. O sinal de internet também não chega no terreno onde vivem, o que impossibilitava que o modelo online fosse seguido pela capixaba.

Essas dificuldades, porém, não impossibilitaram Débora de prosseguir com o sonho de estudar para ser médica.

Para isso ela contou com ajuda da mãe, a catadora de material reciclável Maria Miracena, que dividia o foco nos produtos recicláveis com a busca por livros que pudessem ajudar Débora a conquistar a entrada na universidade.

Das ruas, os livros iam parar na mesa de casa. E era lá onde Débora se debruçava sobre os estudos até altas horas da noite.

"Tinha que conciliar os estudos do Enem com meu estudo na escola. E eu não consegui passar no primeiro ano. Depois que não passei na primeira vez, e no segundo ano eu comecei a trabalhar de meio período e fui estudar na parte da tarde. E aí estudava logo após chegar do trabalho até mais ou menos 23h", afirmou Débora.

Os professores da escola onde Débora estudava no interior do ES também a auxiliaram durante o período longe da sala de aula por conta da pandemia.

"A gente fazia um material com a lista de conteúdo, com atividades para ela fazer. Ela pegava esse material, com todas as matérias, levava para casa, fazia, levava para corrigirmos, e fazíamos um novo material", contou a professora Elaine Cristina Moreira.

Com tanto esforço, a recompensa chegou. Na segunda tentativa no Enem, veio a tão esperada nota para ingressar na faculdade de medicina. E duas. Uma em Feira de Santana, na Bahia, e outra em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Mobilização para custear despesas

Por ser mais perto de casa, Débora escolheu estudar na Bahia, estado vizinho do Espírito Santo, mas ainda assim precisa da colaboração financeira para pagar as despesas da viagem. A escola criou uma campanha para isso.

"A escola se mobilizou para ajudar a gente a fazer uma vaquinha. Tanto para a ida, porque eu preciso ir duas vezes para lá, tanto para ficar de vez, no modelo presencial de ensino. Apesar de lá ter auxílio de permanência estudantil, não é rápido, e eu tenho que estar lá estudando para isso. E eu preciso ter um dinheiro inicial para estar lá".

A primeira da família

A mãe de Débora também tinha o sonho de ser médica. Não teve condições para seguir na carreira, mas agora vê a filha sendo a primeira da família a ingressar em um curso superior e trilhar o caminho do curso que sempre quis.

"Meu coração está pulando de alegria. Saltando para fora. Eu estou muito emocionada. Vou ser a primeira paciente dela porque eu sou fã dela. Eu não tive essa oportunidade, e por isso que eu quis que ela tivesse essa oportunidade. Fiz de tudo e lutei para ela conseguir"


Maria Miracena contou que para colocar crédito no celular em que Débora estudava, chegou até mesmo a tirar dinheiro da carne e de outros itens essenciais para a casa.

Novo sonho

Agora na universidade, Débora mira o novo objetivo: se especializar em cirurgia cardiovascular após se formar.

"Quero fazer cirurgia cardiovascular. Desde que vi uma cirurgia no coração, me apaixonei de verdade. Quero seguir isso para sempre. É um plano de vida", salientou Débora.


Maria Miracena, mãe de Débora, dividia o foco entre materiais recicláveis e livros enquanto trabalhava como catadora — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Fonte: G1 ES



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