Funcionários da 'rainha do reboque', que deve mais de R$ 5 milhões ao RJ, comiam no chão


Colaborador da Rebocar, empresa de Priscilla Santos, contou que às vezes não tinha nem água para beber. Com mais de 400 mil seguidores numa rede social, 'rainha do reboque' coleciona dívidas.

'Rainha do reboque' é acusada de dar calote em muita gente — Foto: Reprodução/TV Globo

Funcionários de Priscilla Santos, a influencer conhecida como "rainha do reboque", afirmaram ao RJ2 que costumavam comer no chão. Os colaboradores disseram que a cena era comum na empresa da empresária. Um deles contou que acontecia diariamente e as condições eram insalubres.

"A gente almoçava no chão. Tinha vezes que não tinha água para beber e, muitas das vezes, a parte da gerência ia comprar coisas básicas em cima da hora. Então, sempre estava faltando alguma coisa. Tipo papel higiênico, tipo água, mesmo, itens para lavar a mão", contou um funcionário.

Além disso, o salário não era pago em dia. Um funcionário contou que ficou cinco meses sem receber. O colaborador também não teve as férias pagas e precisou entrar com uma rescisão unilateral para poder deixar a empresa. Ele também não conseguiu dar baixa na carteira de trabalho.

Quem é a 'rainha do reboque'?

São milhares de seguidores e muita ostentação de uma vida de luxo. Por trás das fotos super produzidas, Priscilla Santos tem um histórico de não pagar funcionários, conta de luz e nem o terreno do pátio onde ficam os carros rebocados pela companhia que ela está à frente.

Só com o Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro), a dívida é de mais de R$ 5 milhões. O valor é referente ao dinheiro de leilões de carros que jamais foi repassado ao governo do estado.

Bem sucedida, vaidosa, influencer e empresária. É assim que Priscilla Santos se apresenta. Ela não esconde o sucesso num negócio majoritariamente dominado por homens: o de reboques.

Nas redes sociais, ela tem mais de 400 mil seguidores, que estão sempre de olho nas dicas da mulher de negócios.

Destaque também para a vida de muito luxo da mulher: um glamour que esconde uma série de golpes, que tiram dinheiro dos cofres públicos e de muitos proprietários de veículos do Rio.

"Eu arrematei dois veículos e eles nunca me entregaram. Somados, dá mais de sete mil reais", conta Antônia de Freitas da Silva.

Caminhão de dívidas

O serviço público de reboque de veículos apreendidos é concedido pelo estado. Mas a Rebocar, empresa contratada há três anos pelo Detro, arrasta um caminhão de dívidas.

"Ela deve para pessoas físicas, ela deve para pessoas jurídicas. É para muita, muita gente mesmo. Água, luz, internet, aluguel de computadores, aluguel de impressora, celular. Tudo! Ela deve todo mundo", diz uma pessoa que pediu para não ser identificada.

A Rebocar Remoção e Guarda de Veículos, com sede em Guarapari, no Espírito Santo, tinha um contrato com o Detro para prestar serviços de reboque, guarda e leilão de veículos apreendidos.

Assinado em janeiro de 2019, o contato tem valor estimado de mais de R$ 25 milhões para o lote 1, que contempla as cidades do Rio, Niterói e São Gonçalo.

Pátio fechado há 8 meses

Um dos pátios da Rebocar fica em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio. O RJ2 encontrou apenas um funcionário no local. Ele contou que a operação no pátio está parada há aproximadamente 8 meses.

"Só sei que a gente, funcionário, estamos um bom tempo sem o nosso salário. Então, está funcionando só o pessoal da noite e pessoal do dia tomando conta, abrindo e fechando portão", afirmou Édio Canuto, que é auxiliar-mecânico.

Numa entrevista publicada pela Rede Vida, em janeiro, Priscilla Santos conta sobre sua história de empresária.

"Hoje, nós temos 146 funcionários registrados e, atualmente, eu não sei numa proporção exata, mas acredito que temos cerca de 100 parceiros, fora os nossos fornecedores. Temos, hoje, pátio no Espírito Santo, temos pátios no Rio em várias regiões", contou a "rainha do reboque".

Calotes em todos

No Rio, a empresária não deu calote apenas nos funcionários. A Rebocar também era responsável pelos leilões dos carros que não eram recuperados nos pátios. E essa parte do contrato ela cumpriu bem. Vendeu todos eles, mas não repassou nada.

Assim, o estado também ficou sem ver a cor do dinheiro. A empresa também era responsável pelos leilões dos carros. E cumpriu parte do contrato: preparou, organizou e leiloou os veículos, mas não repassou todos os valores, e o Estado do Rio também ficou sem ver a cor do dinheiro.

Priscilla Santos — Foto: Reprodução/TV Globo

O contrato entre a Rebocar e o Detro tem várias obrigações que a empresa precisa cumprir. Uma delas estabelece o recolhimento aos cofres do Detro dos valores referentes aos saldos dos leilões, "sob pena de serem descontadas dos pagamentos das notas fiscais".

Mas de acordo com o Detro, a Rebocar não fez os repasses que devia e ficou com o dinheiro. Ainda segundo o departamento, a empresa não entregou documentos que comprovassem regularidade junto ao Ministério do Trabalho.

Em dezembro, o Detro desfez unilateralmente o contrato com a Rebocar, alegando que a empresa de Priscilla Santos deixou de repassar mais de R$ 5 milhões. Ela vendeu os carros e ficou com o dinheiro.

O que diz a defesa de Priscilla

Priscilla Santos não aceitou o pedido de entrevista feito pelo RJ2.

Os advogados de defesa dela enviaram uma nota dizendo que a Rebocar "está trabalhando junto ao Detro para que sejam solucionadas todas as pendências decorrentes de conflitos contratuais - administrativos ou judiciais".

E acrescentou que a companhia espera a relação do Detro nos próximos dias para começar a liberar os veículos que estão nos pátios da empresa. O texto diz que a empresa "reafirma ter o compromisso em solucionar todos as questões no menor tempo possível".

Fonte: G1



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