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O jovem que acordou com um corte profundo na barriga e parte do intestino exposto na Praia do Ermitão, em Guarapari, no Espírito Santo, no dia 16 de janeiro, falou sobre o caso pela primeira vez.
Em um vídeo publicado neste domingo (1º) em uma rede social, Gabriel Muniz disse que a namorada não é a autora das agressões e que ambos foram roubados no dia. Embora tenha sido publicado no domingo, o jovem fala no vídeo que está gravando no dia 27 de abril. última quarta-feira.
"É óbvio que minha namorada não tem nada a ver com isso, ela assim como eu é vítima desse acontecimento e fica claro que tinha uma terceira pessoa ali que fez isso com nós dois [...] A gente foi roubado, isso é óbvio, é um fato, infelizmente isso parece que não foi nem levado em conta, foi roubado de mim um celular e uma caixinha de som, e a minha namorada tinha na bolsa dela R$ 80, que foram deixados eu acho R$ 4 ou R$ 6 espalhados na areia", disse o jovem no vídeo.
O relatório final do inquérito policial decidiu pelo indiciamento da namorada. Com base nas conclusões apresentadas pela Polícia Civil, a Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público, no dia 19 deste mês, tornando Lívia Lima Simões Paiva Pedra, de 20 anos, ré.
De acordo com o jovem, os ferimentos da namorada, que, segundo a Polícia Civil, ajudaram os investigadores a concluírem que ela foi a agressora, mostram na verdade que ela também foi vítima.
O estudante contou também que há uma parte do Parque Morro da Pescaria em que é possível sair sem ser registrado por câmeras. O jovem argumentou que a pessoa que atacou o casal fugiu por esse parte.
"Lá é um parque aberto, com entradas pela região da mata e das pedras, além de uma portaria, que foi por onde a gente entrou, que conta com duas câmeras que ficam só no início. Estão mostrando nas reportagens que é como se fosse o único acesso, mas não estão levando em conta outras possibilidades, que abrange a que provavelmente a terceira pessoa fugiu. Lá é tão de fácil acesso que, no próprio dia, entrando no morro, demos de cara com três ou quatro pescadores. As pessoas vão lá com liberdade e facilmente quem fez isso fugiu pelas pedras ou pela mata", explicou.
No vídeo, ele não fala em uso de drogas, mas tanto o jovem quanto a namorada relataram o uso em seus depoimentos à Polícia Civil.
O universitário falou que uma lembrança do dia permanece e esclarece que a namorada não foi a agressora. Ele disse no vídeo que lembra de estar sendo golpeado e ao mesmo vendo a namorada deitada na canga, a cerca de 10 metros dele.
"Isso para mim mata tudo. Fora que o cirurgião facial que me operou disse que não era possível ter aquelas lesões no rosto que tivessem sido causadas por uma pessoa de 1,60m e 48kg, mas apenas por um objeto contundente e com os punhos. Quem fez as lesões provavelmente foi uma pessoa canhota, já que elas se concentram na parte direita do rosto", disse.
O rapaz mostrou no vídeo um laudo comprobatório das fraturas na face.
Lívia é ré em ação penal — Foto: Reprodução/TV Gazeta |
Investigação
As versões da denúncia do MP e a apresentada pelo casal diferem. O casal diz que foi atacado.
Os detalhes da investigação da Polícia Civil foram divulgados na última semana.
"Uma investigação difícil para a Polícia Civil. Tratava-se de um casal, um local ermo, de madrugada, não tinha testemunha, outras informações, a não ser o casal. Foi dificultada em relação a isso, mas o delegado reuniu informações para indiciar a moça por ela apresentar lesões nas mãos e o rapaz ter tido um corte grotesco. Chega a conclusão que possivelmente foi a moça, utilizando de elemento cortante, que retirou o intestino do rapaz", disse o delegado-geral da Polícia Civil do ES, José Darcy Santos Arruda.
Ele adicionou que "o ferimento que ela apresenta nas mãos, o corte, e ter somente os dois, leva a autoridade policial a entender que foi ela que praticou".
O delegado responsável pela investigação, Franco Malini, falou sobre os elementos que levaram ao indiciamento da jovem. Segundo ele, o corte deve ter sido feito com um caco de vidro.
"Um dos elementos que nos levaram a concluir é uma ligação que ela fez com a própria mãe. Tinha combinado um horário, porem não retornou. A partir de então a família começou a procurá-la. Somente 2h20 da manhã a mãe conseguiu contato com ela, ela atendeu, e foi quando a mãe relata que escutou a voz da filha, apenas, durante 50 minutos de ligação, e em alguns momentos escuta o rapaz falar 'Praia do Ermitão' e deduziu onde estavam", explicou.
O delegado explicou que os cortes que a namorada apresentava nas mãos indicam um ataque dela contra alguém.
"Essa investigação não poderia se basear em provas testemunhais. Apenas duas pessoas estavam no local e, de acordo com a legislação, devem colaborar com as investigações. Ambos dizem não se lembrar do que ocorreu. A nossa conclusão foi que só estavam eles. O segundo ponto são as lesões que a menina apresenta na mão, lesões típicas de corte. Ela possivelmente deu soco no rosto do rapaz e fez o corte na barriga, por conta do corte que tem na mão", relatou.
Ainda de acordo com o delegado, ambos confirmaram o uso de "quadradinho", que seria LSD, e disseram não se lembrar o que houve após terem alucinações. Só se recordam de acordar e ele estar com a barriga aberta.
Mochila, cacos de vidro e pedaços de órgão foram achados na praia — Foto: Reprodução/TV Gazeta |
Denúncia do MP
A denúncia que acompanha o indiciamento feito pela Polícia Civil foi entregue à Justiça no final de março. O documento diz que Lívia agiu "por motivação desconhecida e impulsionada pelo uso de drogas".
Ela foi denunciada por lesão corporal grave, mas não foi solicitada sua prisão e ela deve responder em liberdade. Caso seja condenada pelo crime, a pena é de prisão de dois a oito anos.
"A denunciada, utilizando objeto cortante, golpeou a barriga do réu e o rosto dele, causando-lhe as lesões gravíssimas estampadas nas fotos e vídeos juntadas aos autos, bem como no prontuário médico, que determinaram a debilidade permanente do intestino delgado da vítima, deformidade permanente e fratura da cavidade nasal e seio maxilar", diz um dos trechos do documento.
Por conta dos ferimentos, o estudante chegou a ser internado duas vezes.
Versão do casal
O advogado contratado pelas famílias dos jovens disse que o casal foi vítima de um ataque praticado por terceiros.
O advogado Lécio Machado disse que o casal fazia um luau na praia quando foi vítima do ataque.
A imagem de uma conversa do rapaz em um grupo passou a circular na internet e teve a veracidade confirmada pelo advogado da família. Nela, o rapaz também diz que ele e sua companheira foram vítimas de um ataque.
O casal continua junto, de acordo com o depoimento da vítima à polícia.
Advogado confirmou a veracidade de uma imagem que circula nas redes social e mostra o estudante falando em um grupo sobre o ataque — Foto: Reprodução/TV Gazeta |
Relembre o caso
O rapaz e a namorada passavam parte da noite no local entre 15 e 16 de janeiro. A Praia do Ermitão fica dentro de um parque ambiental no município e é necessário passar por uma trilha para chegar. Durante a noite o caminho é fechado, mas não impediu que eles entrassem de forma irregular.
Segundo o comandante do batalhão da Polícia Militar da região de Guarapari, na madrugada do dia 16 os policiais receberam uma informação de uma confusão na Praia do Ermitão, e que uma pessoa estava ferida.
Uma equipe foi até o local, mas encontrou apenas uma bolsa, que foi entregue na delegacia. No dia seguinte, a PM soube que havia um rapaz ferido naquela região, que foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Na ocasião, o advogado contratado pela família do rapaz e de sua namorada, Lécio Machado, disse que o casal fazia um luau na praia quando foi vítima de um ataque praticado por terceiros.
'Apagaram' após uso de droga
Em depoimento à Polícia Civil, a jovem que estava com o rapaz ferido contou que o casal usou drogas e álcool no local. Segundo ela, os dois "apagaram" depois de usar os entorpecentes.
Ela confirmou que os fatos aconteceram na praia e que ela pediu ajuda aos vigias do parque no qual a praia é localizada por volta das 2h. Um vídeo mostra o jovem sendo resgatado já ferido, na manhã do dia 16.
Mesmo ferido, o jovem conseguiu dizer onde estava para a mãe da namorada.
Segundo o laudo médico, o rapaz tinha lesões no rosto (boca, orelha e sobrancelha) e fratura no nariz, além do ferimento na barriga.
Fonte: G1