Ator de 'Além da Ilusão' lembra venda de quentinhas na pandemia: 'Foi o que segurou'

Matheus Dias (Foto: Divulgação / TV Globo)

Matheus Dias viu em Bento, seu papel em Além da Ilusão, o tipo de personagem que ele mesmo queria assistir na tela. “Um herói preto”, diz o mineiro de 23 anos, sobre o sensível escritor que se alista na Segunda Guerra Mundial em apoio ao melhor amigo, Lorenzo (Guilherme Prates). Mas, quando ele fica ferido e forja a própria morte para a mulher, Letícia (Larissa Nunes), o trabalho ficou ainda mais interessante para o ator. "Ele passa a ser um personagem com uma história ainda mais rica, própria, com destaque", explica.

"Essa é uma luta de muito tempo com nomes como seu Milton Gonçalves, Taís Araújo, Lázaro Ramos, de atores mais novos, e é uma luta minha também porque consegui chegar nesse lugar de personagem grande com destaque e trama. Essa é uma batalha nossa para que seja cada vez mais recorrente e normal", diz Matheus. "Vivemos em um país onde mais da metade da população é preta, mas normalmente só 20% do elenco é de negros”, diz o ator. “Temos que melhorar muito nesse sentido. Ator preto tem aos montes precisando de trabalho, basta que abram as portam e deixem entrar que vão se surpreender com muita gente boa”, avisa.

Matheus lembra que casais pretos não são comuns na televisão brasileira, ainda mais da forma como Bento e Larissa foram apresentados: ela é professora e ele escritor, e o público pode acompanhar todo o romance desde o começo. “Eles não estão em uma posição de servidão. Não é problema ter personagem de porteiro e empregada, mas ali a gente tem uma história para contar”, aponta.

Matheus Dias e Larissa Nunes (Foto: Divulgação / TV Globo)

O ator também destaca o valor da relação entre Bento e Abílio (Luciano Quirino), seu pai. Na trama, ele criou o filho sozinho, após a morte da mulher, e as cenas dos dois sempre foram repletas de carinho. “É muito importante mostrar o afeto entre esse pai e esse filho porque é difícil ver isso na tela [devido à ausência de famílias negras]”, diz Matheus que ficou amigo de Quirino. “Conseguimos construir algo muito legal em cena, e ele me ajuda muito a passar o texto. Quirino me adotou como um pai, me manda mensagem cedo... Isso é bacana porque essa amorosidade também é uma caraterística muito do Abílio e do Bento na novela”, diz ele.

Na vida real, Matheus não teve a mesma presença paterna. O ator não tem contato com o pai desde os 5 anos, e foi criado pela mãe, a manicure Giselane, de 42 anos, e a avó, Wilma, de 65. A figura masculina na vida dele e do irmão, Carlos, de 25, acabou sendo o padrasto, o fuzileiro Bruno - Matheus tem dois meios-irmãos, Bruno, de 12, e Alice, de 5.

“Sempre fui muito responsável, o Bruno ficava comigo quando a minha mãe ia trabalhar e a gente não tinha aula. Aprendi a cozinhar, sempre arrumei a casa, acabei criando uma maturidade desde cedo”, lembra ele. Matheus, que nasceu em São João del-Rei, vinha sempre ao Rio. Aos 12 mudou de vez de Minas, e foi em Realengo, bairro na Zona Oeste carioca, que teve o primeiro contato com o teatro, em um curso na escola pública em que estudou.

Ao terminar o ensino médio, Matheus, que chegou a se apresentar em um teatro do Rio, procurou uma produtora e fez um vídeobook, mandando para várias agências. Os testes foram acontecendo e a estreia na televisão veio em 2016 com Malhação - Pro Dia Nascer Feliz. Em 2018 fez uma breve participação em Cidade dos Homens e, na sequência, os curtas-metragens Memórias do Rio e Pássaro de Quintal.

“Mas depois de Malhação foram praticamente cinco anos sem trabalhar”, lembra ele, que na pandemia vendeu quentinhas com a mãe. “Ela abriu um delivery e foi o que segurou (as contas)”, diz Matheus, que ajudou Giselane com de tudo um pouco: “Cozinhava, atendia pedidos, entregava, cuidava da contabilidade...”. Ele nunca parou, no entanto, de investir na profissão. Fazia cursos e oficina de atores – na última percebeu que talvez estivesse sendo cogitado para alguma produção ao ser selecionado para fazer cenas com atores mais experientes como Renata Sorrah e Eliane Giardiani.

Ao ser convidado para Além da Ilusão (“me perguntaram se eu estaria livre por seis meses”), Matheus agarrou a oportunidade. O amor entre Larissa e Bento caiu nas graças do público, mas as atitudes dele, indo para a guerra pelo grande amigo e depois fingindo a própria morte ao perder o movimento das pernas, geraram revolta. A aproximação de Silvana (Thayla Luz) tem deixado os fãs divididos, mas o ator tenta não julgar o personagem.

“A novela se passa em uma outra época. Bento acreditou que ia ficar paraplégico permanentemente; era um outro entendimento da deficiência e a forma de encarar a situação. As pessoas não tinham o conhecimento que temos hoje de como seguir a vida com certas limitações. Além disso, Bento passou por um trauma muito grande, que afetou sua saúde mental. Por isso ele mentiu, causando dor não só à mulher, mas também ao pai”, explica o ator. Matheus lembra que a confusão rendeu a bela cena de Quirino recebendo uma medalha pelo filho.

Para a fase difícil do personagem, o ator conversou com um produtor da novela, que perdeu uma perna em um acidente de moto. “Ele me contou como foi sua reação, como chegou a falar para a esposa que ela não precisava continuar com ele... Existiam muitos pontos em comum que me ajudaram ali”, lembra. Com Bento voltando a andar e a novela entrando na reta final, o ator torce para o personagem ter uma redenção – com quem ele não dá spoiler.

Por enquanto, Matheus ainda não tem planos para quando Além da Ilusão terminar em agosto. Ele pretender descansar um pouco e continuar investindo na carreira - Giselana encerrou o delivery de comida e o ator não ajuda mais a mãe dessa forma. Também quer fazer uma viagem, provavelmente sozinho. “Estou solteiro. A gente sempre está conhecendo alguém, mas no momento estou quietinho no meu canto”, diz.

Fonte: Quem


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