ALERTA: Laudo aponta que não é seguro consumir peixe do Rio Doce no ES

Rio Doce em Colatina: 42 município afetados por rejeitos de minério, no Espírito Santo e em Minas Gerais, fizeram parte da perícia. . Crédito: Foto: Imagem TV Gazeta


Os primeiros resultados do laudo da perícia judicial que analisa a qualidade dos peixes do Rio Doce, após os impactos dos rejeitos de minério que foram despejados com o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, apontam que os animais estão contaminados com metais pesados e que não é seguro o consumo dos pescados, tanto do rio quanto do mar nas regiões afetadas.

No total, 42 municípios afetados fizeram parte da perícia. No Espírito Santo, foram analisados dados e amostras dos municípios de Aracruz, Baixo Guandu, Colatina, Linhares, Marilândia e São Mateus. O laudo foi feito para o processo que corre na 12ª Vara Federal Cível e Agrária da Seção Judiciária de Minas Gerais, que cuida da reparação e compensação dos danos advindos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).
 
“O consumo do pescado oriundo da região da bacia do Rio Doce, foz e região marítima no Espírito Santo atingida pelo rompimento da barragem de Fundão apresenta preocupação para os altos consumidores de pescado da bacia do Rio Doce e para as crianças consumidoras dos valores médios (média do consumo na bacia do Rio Doce)”, afirma o laudo.

Para o presidente da Colônia de Pescadores de Linhares, Milton Jorge, o resultado da pesquisa confirma as preocupações e demandas que a comunidade tem há 7 anos, desde que o rompimento da barragem ocorreu.

"Nós recebemos esse laudo com muita preocupação. Porque muitas pessoas ainda continuam consumindo os peixes. Nós estamos pedindo há anos que a pesca seja proibida e, mais recentemente, entramos com um pedido no Ministério Público do Espírito Santo (MPES), mas, infelizmente, a Justiça ainda não atendeu esse pedido", disse Milton Jorge, Presidente da Colônia de Pescadores de Linhares.

RISCOS DOS METAIS ENCONTRADOS

Segundo o laudo, os peixes estão contaminados, principalmente, com mercúrio, metilmercúrio, arsênio inorgânico e as bifenilas policloradas (PCB). Segundo o especialista em Biologia da Conservação, Elber Tesch, os metais encontrados são alguns dos piores para a saúde humana.

“O ferro e o alumínio, por exemplo, fazem parte do nosso organismo e, em pequenas quantidades, podem ser benéficos. Mas esses metais encontrados não fazem parte do nosso organismo e são alguns dos mais agressivos, então, mesmo em pequenas quantidades, trazem riscos”, afirma o biólogo.

O laudo aponta as quantidades dos metais presentes nos peixes, maiores do que o limite permitido de acordo com a legislação brasileira ou europeia, no caso das substâncias em que não há limite estabelecido no país.. Veja o trecho:

“Para o arsênio total foi observada a extrapolação do limite máximo tolerado em 0,25% das amostras de peixes analisadas provenientes da região dulcícola (água doce), 7,50% da região estuarina e 53,06% da região marinha. Para o cádmio total, a extrapolação do limite máximo tolerado ocorreu em 2,37% das amostras de peixes analisadas na região dulcícola."

"Para o mercúrio total, foi observada extrapolação do limite máximo tolerado para peixes predadores em 0,93% das amostras provenientes da região dulcícola (água doce) e em 2,08% das amostras oriundas da região marinha. Também foi observada a extrapolação do limite máximo tolerado de 1,92% das amostras de crustáceos provenientes da região marinha.”

A perícia ainda apontou o nexo de causalidade, ou seja, que os metais encontrados nos animais têm relação com os rejeitos que foram despejados no Rio Doce com o desastre ambiental.

O documento afirma ainda que não é seguro consumir os pescados da região devido aos “perigos crônicos e agudos” que podem tornar os alimentos prejudiciais à saúde do consumidor.

“O consumo pode causar problemas neurológicos, dermatológicos, multinacionais e até risco de câncer. Mulheres grávidas podem ter problemas gestacionais ou resultar na má formação do bebê”, afirma o biólogo.

Os resultados não comprovam o início da toxicidade em qualquer população exposta observada. No entanto, de acordo com o laudo, quanto mais frequente estes níveis forem excedidos, maior a probabilidade de ocorrência de alguma manifestação tóxica

Segundo o biólogo Elber Tesch, mesmo que o peixe seja consumido em pequenas quantidades ainda pode haver risco. “Um ribeirinho que come peixe quase todos os dias, mesmo em pequenas quantidades, pode sofrer com isso. Esses metais são elementos aculmulativos, ou seja, com o passar do tempo é que os danos podem começar a aparecer”, explica.

A Fundação Renova, entidade criada para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem, foi procurada para comentar o laudo e disse, em nota, que "não se manifestará acerca do conteúdo e da conclusão do Laudo sobre o pescado, pois o referido tema se encontra judicializado".

Fonte: A Gazeta



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