Adolescentes são acusados de furtarem álbum de figurinhas e denunciam discriminação em shopping

Fachada do Boulevard Shopping Vila Velha — Foto: Boulevard Shopping/Divulgação

Um casal de adolescentes, de 16 e 17 anos, registrou um boletim de ocorrência após terem sido intimados por funcionários e seguranças a provar que não furtaram um álbum de figurinhas da Loja Amaricanas, no Boulevard Shopping Vila Velha, na Grande Vitória.

O caso aconteceu na quarta-feira (14). Segundo consta no boletim de ocorrência, David Soares Lima, de 16 anos — que é negro — teve a bolsa revistada e precisou levantar a camisa para mostrar que o álbum não estava com ele. Já Thatyana Tomaz Roger, de 17 anos - que é branca- não teve seus pertences revistados.

Quando chegaram em casa, os adolescentes contaram aos seus responsáveis sobre o ocorrido no shopping. As mães registraram boletim de ocorrência na Delegacia Regional de Vila Velha, que vai investigar o caso.

Questionada sobre o caso, a assessoria do shopping Boulevard informou que repudia todo tipo de discriminação e lamenta a experiência dos jovens.

"Este tipo de postura não condiz com as orientações de atendimento ao público. O shopping esclarece que solicitou providências junto ao lojista para treinamento de seus colaboradores", disse a nota do shopping.

A Americanas foi procurada sobre o assunto, mas até o fechamento desse texto não respondeu a reportagem.

Entenda

Em entrevista ao g1ES, autorizada pela mãe do adolescente, Letícia Pimenta Soares, de 41 anos, David disse que frequenta a academia localizada dentro do shopping. No dia da ocorrido (14), após o treino, o adolescente a a namorada decidiram procurar pelo álbum de figurinhas da Copa do Mundo.

"Eu fui até à Loja Americanas e perguntei se tinha o álbum de figurinhas da Copa do Mundo a uma funcionária. Uma outra funcionária escutou e disse que tinha, foi lá e pegou para a gente. Mas eu queria o de capa dura, e ela até me orientou a verificar se tinha em outra loja. Eu peguei o álbum que ela me entrou e deixei em cima das prateleiras dos cadernas e saí da Americanas", disse.

Álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2022 — Foto: Divulgação/Panini

Segundo o adolescente, ele não encontrou o álbum na outra loja também, então tomou um sorvete junto com Thatyana, desistindo da compra.

"A gente decidiu ir embora. Fomos para o ponto de ônibus. Estava eu, Thatyana e um amigo, quando as duas funcionárias chegaram e perguntaram para a gente onde tínhamos deixado o álbum. Eu respondi que era na prateleiras e elas saíram. Mas, cerca de um minuto depois, fomos abordados por um funcionário da Americanas e um segurança do shopping. Eles pediram que a gente acompanhasse eles até uma sala. Foi constrangedor, não dava para recusar."

O menino disse à reportagem que os dois foram direcionados a uma sala, sozinhos, junto com os dois profissionais.

"Quando chegamos na sala o segurança logo perguntou 'o que eles roubaram?', e eu respondi que nada. Eles pediram a nossa identidade, tiraram fotos e pediram para revistar as nossas coisas. Eu tinha uma mochila e Thatyana duas bolsas. Eles olharam só a minha. Pediram também que eu levantasse a camisa para mostrar que eu não tinha nada na cintura e eu fiz isso", disse o adolescente.

Em seguida, o adolescente conta que as funcionárias que atenderam os adolescentes na Americanas foram até a sala também.

"A funcionária que me atendeu chegou na sala e disse que tinha entregado o álbum nas minhas mãos, como se tivesse me acusando. O segurança então pediu que a gente fosse com eles até a loja e mostrasse onde estava o produto. Nós fomos, praticamente escoltados, com todo mundo olhando", disse David.

Segundo o menino, o próprio segurança encontrou o álbum de figurinhas no local indicado pelos adolescentes.

"Nós voltamos para a sala para pegar nossas coisas, o segurança apagou a foto das nossas identidades e fomos liberados. Eles nem desculpas pediram", disse o menino.

Mães acreditam que adolescentes sofreram discriminação

Para as mães de David e de Tathyana, os adolescentes foram vítimas de discriminação, o que motivou o registro do boletim de ocorrência para a apuração dos fatos.

Segundo Michella Albuquerque, de 47 anos, mãe de Tathyana, logo que sobre a experiência vivida pelos adolescentes, ela disse que era uma situação inadmissível.

"Quando ela relatou o que aconteceu, eu disse que foi racismo. Minha filha é branca, mas o namorado dela é negro. Liguei para o 190, contei todo o ocorrido e fui orientada a ir para a delegacia a fazer o boletim de ocorrência. Acredito que foi um ato racista. Minha filha estava com duas bolsas, e não foi revistadas, apenas o do seu namorado dela", disse.

Para a mãe, outro fato constrangedor é o fato de dois funcionários terem levado os adolescentes para uma sala fechada, sozinhos.

"Levaram a minha filha, menor de idade, para um sala fecha, e perguntaram o que eles tinham roubado. É absurdo isso", falou a Michella.

Letícia, mãe de David, disse que o filho é um menino tranquilo e que não merecia ter passado por esse constrangimento.

"Quando o meu filho me contou o que aconteceu, fiquei revoltada. No dia seguinte, registramos o boletim de ocorrência. Eu também fui à Americanas e conversei com a funcionária que atendeu o David, que, por sua vez, é gerente da loja. Mesmo depois de tudo, a todo momento ela queria culpar o meu filho ,dizendo que confiou nas mãos dele o álbum de figurinhas. Ela disse que olhou nas câmeras de segurança, mas que não viu mais o álbum. O que eu percebi é que ela não queria achar o álbum, mas acusar o meu filho. Isso é inadmissível", disse.

O que diz a Polícia

Questionada sobre o caso, a Polícia Civil informou por meio de nota que os responsáveis pelos adolescentes registraram boletim de ocorrência por calúnia e difamação.

A corporação também informou a ocorrência foi registrada na 4ª Delegacia Regional de Cariacica e será encaminhada ao Distrito de Polícia de Vila Velha, que atende a região onde aconteceu o fato, para apuração e diligências que o fato requer.

Fonte: G1


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