Agência dos EUA alerta sobre risco de câncer com todos os modelos de prótese de mama

Autoridade americana defende que mulheres que têm implantes mamários ou pretendem colocá-los devem estar cientes dos riscos envolvidos

Todos os modelos de prótese de mama pode estar associado ao câncer, alerta agência dos EUA. FreePik

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, alertou mulheres que têm implantes de mama, ou que estão pensando em obtê-los, que certos tipos de câncer podem se desenvolver no tecido da cicatriz que se forma ao redor do local. Os casos são raros, mas têm sido associados a implantes de todos os tipos, incluindo os com superfícies texturizadas ou lisas, e aqueles preenchidos com soro fisiológico ou silicone.

Os cientistas já haviam associado um câncer incomum, chamado linfoma anaplásico de grandes células (LAGC), principalmente a implantes texturizados, cujos exteriores ásperos provavelmente causam mais inflamação do que os modelos lisos. O linfoma é um câncer que se desenvolve no sistema imunológico. A FDA confirmou esse vínculo há mais de uma década, mas os implantes texturizados, que eram fabricados pela empresa Allergan, continuaram no mercado até 2019. Depois de 600 casos de câncer ligados ao item, e 33 mortes, o produto foi recolhido inclusive do Brasil, um dos países em que era comercializado.

A oncologista do comitê de tumores mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Laura Testa, explica que o risco para o tipo de linfoma já era de fato conhecido, mas que o alerta da FDA é importante para que a informação alcance as pessoas que avaliam colocar um implante.


— Temos visto há alguns anos casos relacionados às próteses, inclusive reportados no Brasil. O risco está principalmente associado a esse tipo muito raro de linfoma. A colocação da FDA é muito importante pois muitas vezes essa informação fica restrita a centros acadêmicos e a divulgações científicas. Quando temos um alerta de uma autoridade gera uma repercussão necessária, que leva as mulheres a buscarem se informar mais. Mas não é algo para causar alarme, é extremamente raro — avalia Laura, que é também chefe do grupo de câncer de mama do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).

O novo alerta da FDA chama a atenção ainda para outro tipo de câncer, chamado carcinoma espinocelular, e também para outros tipos de linfoma além do LAGC que podem estar relacionados aos implantes. Mas existem poucos casos documentados: a agência informou estar ciente de menos de 20 carcinomas e menos de 30 linfomas inesperados, ambos no tecido cicatricial (cápsula) que se acumula ao redor do implante mamário.

— Como é muito raro, pode acontecer em qualquer tipo de cirurgia, não tem relação com a técnica, o procedimento ou o material especificamente. A principal mensagem é, se a mulher tem um implante há um tempo e vai fazer um exame de imagem e surge um líquido, isso precisa ser investigado. Não significa que seja um diagnóstico, mas é preciso um acompanhamento — orienta a especialista.

Apesar dos poucos casos, dada a história dos implantes e o uso generalizado, as autoridades federais de Saúde dos EUA sentiram que a preocupação era justificada. Em alguns casos, as mulheres foram diagnosticadas após anos do procedimento. Entre os sintomas, estavam inchaço, dor, caroços e alterações na pele. "Os profissionais de saúde e as pessoas que têm ou estão considerando implantes mamários devem estar cientes de que os casos foram relatados à FDA e na literatura (científica)”, afirma a agência.

Uma porta-voz da FDA, Audra Harrison, diz que os relatos de novos cânceres eram um “sinal de segurança emergente que estamos vendo com implantes sobre os quais estaremos nos comunicando, separados do LAGC”, o câncer previamente documentado.

O professor de cirurgia plástica da Universidade do Texas, Mark Clemens, no entanto, destaca que linfomas que não são LAGC em mulheres com implantes mamários já haviam sido relatados por cerca de uma década.

— (Mas) se o LAGC já é incomum, estes (outro) são muito raros — explica o professor. Ele destaca que há muito se sabe que o tecido cicatricial, como resultante da cirurgia de implante mamário, pode produzir carcinoma de células escamosas, por exemplo, outro tipo de tumor.

— Esse carcinoma pode aparecer em qualquer tecido cicatricial. Quando temos um tecido que está cicatrizando significa que houve uma agressão ao local e que nossas células estão reparando aquela área. Então em várias situações, como lesões solares, lesões no pulmão pelo tabagismo, essas células estão trabalhando continuamente para reparar os tecidos, o que leva ao risco para o desenvolvimento de um câncer aumentado. Mas é raro em casos como a cicatriz da prótese — explica a oncologista Laura Testa.

Brasil realiza 13% de todos os implantes

O alerta chama atenção no contexto em que o implante mamário é o procedimento operatório mais realizado por cirurgiões plásticos no mundo, segundo a última edição do monitoramento global da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica. De acordo com a instituição, em 2020 foram 1.624.281 próteses colocadas, o que representou 16% do total de 10.129.528 cirurgias realizadas.

O ritmo, no entanto, parece ter parado de crescer. Em comparação com os números de 2016, por exemplo, houve uma queda de 1,5% nos procedimentos. Os Estados Unidos lideram as cirurgias plásticas no geral, e foram responsáveis por 25% dos implantes de mama realizados em 2020, com 371.997 próteses. Já o Brasil, que antes vinha em primeiro na lista, agora aparece em segundo lugar em todas as operações, e com 13,3% do número referente às próteses mamárias, um total de 172.485 operações.

Por outro lado, a quantidade de cirurgias para remover o implante aumenta. No mundo, este foi o 15º procedimento mais realizado em 2020, com 206.826 retiradas, enquanto em 2010 a opção sequer aparecia na lista. No Brasil, foram 25.475 remoções.

Porém, a FDA não recomendou que as mulheres removessem os implantes mamários por causa do novo aviso. A agência aconselha que os implantes sejam monitorados e que um profissional da saúde seja consultado se foram notadas quaisquer alterações anormais.

— O que as pacientes devem entender é que existe um risco aumentado de ter um corpo estranho em nosso corpo, mas como tudo na vida temos que pensar em risco benefício. Esse implante pode estar relacionado a benefícios como reconstrução da mama, aumento da autoestima. Então é uma balança. Não existe uma recomendação de se retirar o implante por conta desse risco, nem de deixar de fazer o procedimento. A questão é que todas estejam cientes dos riscos envolvidos e que estejam em dia com o acompanhamento médico — orienta Laura.

Mudança nos rótulos

No ano passado, a FDA alterou os rótulos dos implantes mamários nos EUA, alertando sobre a ligação a uma série de condições médicas crônicas, incluindo doenças autoimunes, dores nas articulações, confusão mental, dores musculares e fadiga crônica, bem como o linfoma.

Entre aquelas com maior risco de desenvolver doenças posteriores, estão as pacientes com câncer de mama que fizeram ou planejam se submeter a tratamentos de quimioterapia ou radioterapia – que representam uma grande porcentagem das mulheres que são encorajadas a fazer reconstrução mamária com implantes. Fumantes e mulheres que têm lúpus ou diabetes também correm maior risco de complicações, segundo a FDA.

Um terço das mulheres que têm implantes mamários sentirá dor na mama, perda de sensibilidade na região ou assimetria. Metade experimentará um aperto doloroso do tecido cicatricial ao redor do implante, e um terço terá implantes que rompem ou vazam, de acordo com o alerta da agência. Quase 60% precisarão de outra operação para resolver problemas com as próteses.

Fonte: Globo


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