Bilionário que doará empresa para causa ambiental não tem nem celular

O fundador da marca Patagonia, Yvon Chouinard, em foto de 1992 (Foto: Jacques Pavlovsky/Sygma/CORBIS/Sygma via Getty Images)

Yvon Chouinard, o dono da Patagonia que anunciou que está doando a empresa para um fundo e uma organização voltados à causa ambiental, tem uma história de vida peculiar.

Antes de criar a Patagonia, marca de roupas e equipamentos para a prática de esportes ao ar livre, em 1973, Chouinard era alpinista profissional no vale de Yosemite, na Califórnia. Na época, ele morava em seu carro e comia latas danificadas de comida de gato que custavam US$ 0,05 cada, segundo o jornal The New York Times.SAIBA MAIS

Em seu livro "Let My People Go Surfing: The Education of a Reluctant Businessman" (Deixe Meu Povo Surfar: A Educação de Um Empresário Relutante), lançado em 2005, o empresário e surfista, que hoje tem 83 anos, revelou que conseguia dinheiro para gasolina “mergulhando em latas de lixo e resgatando garrafas de refrigerante”.

Segundo a Forbes, Chouinard contou também que passava mais de seis meses por ano viajando pela América do Norte e pelos Alpes na Europa, pegando esquilos para comer e, às vezes, vivendo com apenas US$ 0,50 por dia. Na época, ganhava a vida comercializando equipamentos de escalada em seu carro. Mais tarde, começou a importar e vender camisas, luvas, chapéus e shorts.

Sua empresa, a Patagonia, hoje tem vendas anuais de mais de US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5,2 bilhões), com lucros de US$ 100 milhões (R$ 520 milhões), e está avaliada em mais ou menos US$ 3 bilhões (R$ 15,6 bilhões). Apesar disso, ele usa roupas velhas, dirige um Subaru simples e tem apenas duas casas modestas, uma na Califórnia e outra em Wyoming. Ele sequer possui computador ou celular.

“Eu estava listado como bilionário na revista Forbes, o que realmente me irritou”, disse ao The New York Times. “Não tenho US$ 1 bilhão no banco. Não dirijo Lexus.” A Forbes estimou que ele valia cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,2 bilhões) antes de desistir do controle da empresa.

Empresa do sistema B

Segundo o portal Business Insider, Chouinard é um ávido ambientalista, e levou esses valores para a sua empresa. “À medida que começamos a testemunhar a extensão do aquecimento global, da destruição ecológica e a nossa própria contribuição para isso, a Patagonia se comprometeu a mudar a forma como os negócios eram feitos. Se pudéssemos fazer a coisa certa e ganhar o suficiente para pagar as contas, poderíamos influenciar os clientes e outros negócios e talvez mudar o sistema ao longo do caminho”, escreveu o empresário na carta em que anuncia a doação da marca.

A Patagonia é hoje uma companhia B certificada, foi uma das primeiras a adotar o algodão orgânico e destina 1% das vendas à preservação e restauração do meio ambiente.
Doação para fundo ambiental

Com a decisão de doar a empresa de vestuário e acessórios esportivos, 100% do seu capital votante está sendo transferido para o Patagonia Purpose Trust, fundo criado para proteger os valores da empresa; e 100% das ações sem direito a voto vão para o Holdfast Collective, uma organização sem fins lucrativos dedicada a combater a crise ambiental e defender a natureza.

“O financiamento virá da Patagônia: a cada ano, o dinheiro que ganhamos após o reinvestimento no negócio será distribuído como dividendo para ajudar a combater a crise ambiental”, relatou Chouinard na carta aberta.

“Já se passaram quase 50 anos desde que começamos nossa experiência em negócios responsáveis, e estamos apenas começando. Se tivermos alguma esperança de um planeta próspero daqui a 50 anos, todos nós teremos que fazer o que pudermos com os recursos que temos. Essa é mais uma forma que encontramos de fazer a nossa parte”, acrescentou o empresário.

Fonte: Negócios


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