Uma dose de álcool já pode modificar permanentemente o cérebro, diz estudo

A administração única de álcool altera permanentemente a morfologia dos neurônios (Foto: Reprodução/Pixabay)

Como o cérebro reage após a ingestão de álcool? Que mudanças ocorrem no órgão que acompanham a transição do consumo esporádico para o alcoolismo? Buscando entender essas questões, cientistas das universidades de Colônia, Mannheim e Heidelberg, na Alemanha, descobriram em um novo estudo que ingerir substâncias etílicas uma única vez altera permanentemente a morfologia dos neurônios.

Os achados, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mostram que as estruturas das sinapses (região entre os neurônios onde agem os neurotransmissores) bem como a dinâmica das mitocôndrias são influenciadas pelo álcool.

Segundo Henrike Scholz, pesquisador do Instituto de Zoologia da Universidade de Colônia e coautor do estudo, a pesquisa propõe uma nova abordagem na investigação dos efeitos do álcool, identificando efeitos distintos da exposição única ao etanol em nível molecular, celular e comportamental.

Segundo ele, muitos estudos focavam nos efeitos do consumo crônico de álcool apenas no hipocampo, centro de controle do cérebro. "Nós nos propusemos a descobrir alterações moleculares dependentes de etanol. Estas, por sua vez, fornecem a base para alterações celulares permanentes após uma única intoxicação aguda por álcool”, explica Scholz, em comunicado.

Equilíbrio perturbado

A hipótese dos autores era que, assim como a formação da memória após uma aula, o consumo de etanol formaria uma associação positiva com o álcool no cérebro. Usando o sistema de modelo genético da mosca da fruta Drosophila melanogaster e modelos de camundongos, o professor Scholz e os membros de sua equipe encontraram mudanças induzidas em duas áreas: dinâmica mitocondrial e equilíbrio entre as sinapses nos neurônios.

As mitocôndrias fornecem energia às células, em especial às nervosas. Para entregar a energia de forma otimizada, as mitocôndrias se movem. No entanto, após a administração do etanol em algumas células, o movimento mitocondrial foi alterado.

O equilíbrio químico entre certas sinapses também foi perturbado. Em modelos animais, essas alterações permaneceram e foram confirmadas por mudanças comportamentais. A equipe concluiu que as mudanças na migração das mitocôndrias nas sinapses reduzem o efeito recompensador do álcool.

Alterações morfológicas

De acordo com o estudo, a mesma área do cérebro que é responsável pelo aprendizado e a memória (os mecanismos de plasticidade celular) também está no centro da formação de memórias associativas para recompensas relacionadas a drogas. Daí porque o cérebro pode ser modificado com apenas uma dose de bebida alcoólica.

Os pesquisadores especulam que essas mudanças celulares relacionadas ao etanol são fundamentais para o desenvolvimento de comportamentos viciantes. Ambos os mecanismos observados podem explicar observações feitas em camundongos de que uma única experiência de intoxicação pode aumentar o consumo de álcool e a recaída ao longo da vida.

“Esses mecanismos podem até ser relevantes para a observação em humanos de que a primeira intoxicação alcoólica em idade precoce é um fator de risco crítico para a intoxicação alcoólica posterior e o desenvolvimento da dependência do álcool”, alerta Scholz. "Isso significa que identificar mudanças duradouras dependentes de etanol é um primeiro passo importante para entender como o consumo agudo pode se transformar em abuso crônico de álcool."

Fonte: Galileu


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