Pesquisa da Unicamp identifica proteína que queima gordura após exercícios e abre caminho para controle da obesidade

Estudo identificou que o fenômeno do afterburn é causado no músculo e no cérebro; pesquisador aponta possibilidade de desenvolvimento futuro de medicamento que acelere o metabolismo, mas alerta para a importância do exercício em vários outros aspectos de saúde.

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp conseguiram, pela primeira vez, detalhar a causa do fenômeno conhecido como afterburnig, que faz com que o corpo continue queimando gordura horas após a prática de atividades físicas. Pesquisador que coordenou o estudo, Eduardo Ropelle aponta que a descoberta traz a possibilidade avanços para a saúde, como no controle da obesidade.

O afterburn está diretamente relacionado às particularidades da sessão de exercício. "Quanto mais intenso o exercício, maior é a magnitude do afterburn. Além da intensidade, quanto mais tempo de exercício o indivíduo faz, esse afterburn tende a ser aumentado também", explica, Ropelle.

Apesar de se tratar de um fenômeno conhecido há anos pela comunidade científica e por profissionais de educação física, somente agora foi possível saber a sua causa: a proteína interleucina-6 (IL-6).

"A pesquisa vem para dizer que tem uma proteína produzida pelo exercício que coordena isso. Então, quando a gente faz exercício, nós produzimos uma proteína chamada interleucina-6 e ela é responsável por coordenar esse aumento do nosso metabolismo nesse gasto energético", aponta o professor.

Pesquisador manipula amostra no LaBMEx: achados são resultado de trabalho multidisciplinar iniciado em 2013 — Foto: Antonio Scarpinetti

A descoberta foi realizada pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Biologia Molecular do Exercício (LaBMEx), coordenado por Ropelle e pelo também docente José Rodrigo Pauli, e contou com a participação de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Também integraram o estudo, iniciado em 2013, cientistas da Universidade de São Paulo, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, e da Escola Politécnica de Lausanne, na Suíça.

"A literatura já mostrava que ao realizar contrações musculares a gente produz essa IL-6. Mas o que o artigo nos mostra é que, ao fazer exercício, a IL-6 também é produzida no cérebro, em uma região chamada hipotálamo. Então, pode haver as duas coisas: tem uma produção que é muscular e pode ter uma produção que é no sistema nervoso central [...] Tanto ela pode partir do músculo para chegar no cérebro como ela pode ser produzida diretamente dentro do cérebro em resposta do exercício", detalha.

Em experimentos de laboratório, foi observado que o efeito da queima de gordura permaneceu após três horas da realização do exercício. Os resultados foram descritos em um artigo publicado recentemente na revista Science Advances.

"Saber que uma proteína que age no hipotálamo controla o metabolismo muscular abre portas e perspectivas para uma série de situações como, por exemplo, o controle da obesidade, controle do metabolismo muscular", revela Ropelle.

Segundo ele, um dos grupos estudados no trabalho é o de pessoas com artrite reumatoide.

"Uma parte do estudo, sim, foi feita a partir de amostras de seres humanos e o próximo passo é investigar se esse afterburn também acontece no ser humano mediado pela IL-6. O próximo passo é avaliar em alguns pacientes com artrite reumatoide, que é o público que nós estamos avaliando, se a IL-6 participa do afterburn da mesma forma que nós observamos nos camundongos", aponta o pesquisador.

Carlos Katashisma (à esq.) e Eduardo Ropelle: estudo do grupo Laboratório de Biologia Molecular do Exercício foi publicado na Science Advances — Foto: Antonio Scarpinetti

Pílula do exercício?

Questionado se a pesquisa pode abrir caminho para a criação de uma pílula que substitua o exercício físico, o coordenador do estudo explica que a primeira dificuldade seria conseguir dirigir um medicamento para fazer com que a IL-6 aja apenas no neurônio do hipotálamo e não cause efeitos indesejados em outras áreas.

"Se futuramente nós conseguirmos, e em algumas situações isso já é possível, fazer um tratamento dirigido especificamente, sem dúvida que isso pode vir a acontecer".

Por outro lado, ele alerta que o exercício físico não trata apenas de gasto energético e queima de gordura.

"Esse é um dos efeitos do exercício. O exercício físico vai trazer repercussões importantes para o sistema vascular, para o sistema ósseo, para o sistema cognitivo - para nossas emoções -, então, o exercício físico tem um espectro muito mais amplo que só gasto de energia. E é por isso que é tão difícil de falar de uma pílula, porque os efeitos [do exercício] são sistêmicos e são múltiplos. Então, é importante que as pessoas continuem fazendo exercício".

Fonte: G1

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