Ao contrário do que muitos pensam, o leite pode ter efeitos anti-inflamatórios; entenda

Leite pode ser indigesto para alguns, mas não para todos - Pexels

Respondo diariamente a essa pergunta, seja nas redes sociais, nas consultas, ou nas rodas de conversas com parentes e amigos.

O leite e o glúten — presente no pão, no macarrão e nos derivados de trigo — se tornaram os principais vilões da alimentação, pelo menos é o que dizem nos corredores das academias, Instagram, Tiktok ou nos grupos de WhatsApp. Há uma explosão de marcas e produtos sem glúten e sem lactose (ou leite), ao mesmo tempo em que cresce o número de pessoas que excluíram o consumo do leite sem qualquer justificativa.

Antes da resposta, vale desmistificar alguns conceitos em relação ao leite.

O leite é uma secreção produzida pelas glândulas mamárias dos mamíferos e se caracteriza por sua coloração esbranquiçada e constituída de diferentes nutrientes, como carboidratos, lipídios, proteínas, sais minerais e vitaminas, sendo a principal fonte de cálcio na alimentação, mineral responsável pelo crescimento e fortalecimento dos ossos, além de ajudar na prevenção da síndrome metabólica, do diabetes tipo 2 e da osteoporose e auxiliar na redução da pressão arterial.

Ao contrário do que muitos pensam, há diversos estudos afirmando exatamente o contrário do que se propaga: o leite, por sua composição, pode ter efeitos anti-inflamatórios. Numa revisão realizada em 2020 com 52 estudos clínicos que investigaram a relação dos lácteos com inflamação, 32 apresentaram efeito anti-inflamatório, 19, efeito pró-inflamatório e 27, trabalhos sem evidência de efeito.

É importante saber que algumas pessoas podem sentir desconforto quando consomem leite por apresentarem alguma sensibilidade aos componentes do alimento, que normalmente é a intolerância à lactose, caracterizada pelo desenvolvimento de sintomas abdominais devido a uma má absorção da lactose (principal carboidrato do leite). Essa má absorção está relacionada à redução da capacidade do organismo de quebrar a lactose em razão da diminuição da atividade da enzima lactase.

As causas da intolerância à lactose são variadas, podendo ocorrer, por exemplo, em função de um polimorfismo genético, doenças intestinais ou até mesmo da diminuição da produção da lactase em decorrência do envelhecimento. Os principais sintomas são: dores abdominais, diarreia, náuseas, desconforto e gases.

A alergia à proteína do leite de vaca é outro problema relacionado à sua ingestão. Caracteriza-se pela reação do sistema imunológico do indivíduo às proteínas do leite, em especial, à caseína, e às proteínas do soro. A pessoa com esse tipo de alergia, pode apresentar sintomas como vômitos, diarreia e má absorção, além de manifestações respiratórias e dermatológicas, como urticária, broncoespasmo e dermatite.

Ter um intestino permeável e com alteração na composição das bactérias, conhecida como disbiose intestinal, pode resultar em uma sensibilidade ao leite, tornando-o inflamatório nessas condições.

É muito importante levar em conta que um único alimento não deve ser considerado vilão ou mocinho, mas sim o conjunto alimentação e estilo de vida, e como o organismo está preparado para receber tais alimentos, que irão desencadear em desfechos positivos ou negativos.

Tenho pacientes que relatam melhora considerável na qualidade de vida com a retirada do alimento, outros não sentem nenhuma mudança. Portanto, a resposta de milhões é: depende!

De nada adianta excluir o leite e optar por bebidas vegetais (sim, porque não são leite) cheias de corantes, adoçantes, aromatizantes, continuar consumindo álcool, fumar, dormir mal, ser sedentário e estressado e esperar a saúde melhorar porque resolveu condenar um alimento. Por isso, venho aqui mais uma vez dizer que não existe fórmula ou alimento mágico, alimentação equilibrada aliada a hábitos saudáveis é o que traz bem- estar.

Fonte: O Globo


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