Gabriela Ribeiro fala sobre ataques que sofreu após entrevista viral com Richarlison: 'Me chamaram de burra'

A repórter Gabriela Ribeiro relata as dificuldades de ser uma mulher no esporte Reprodução/Instagram

Repórter com mais de 10 anos de experiência e, agora, cobrindo a Copa do Mundo do Catar pela TV Globo, Gabriela Ribeiro sofreu ataques nas redes sociais por causa de uma pergunta feita ao jogador Richarlison, da seleção brasileira. Em vídeo que circulou fora de contexto, após o Brasil ganhar o jogo contra a Coréia do Sul por 4 a 1, ela perguntou a ele se "o Brasil precisava dessa vitória?”, no sentido de recuperar a confiança após perder a partida contra Camarões.

Richarlison, então, respondeu: “Ah, claro, né? Mata-mata, e é isso que o professor nos pediu, foco total desde o primeiro minuto”. No entanto, apenas os quatro primeiros segundos viralizaram, fazendo com que internautas ridicularizassem o conhecimento de Gabriela sobre o esporte.

"Eu sou uma profissional de 30 anos, uma jornalista e que merece respeito. Não é possível que a gente perdeu a humanidade a ponto de as pessoas acharem que podem vir no meu foro privado e me atacar.", falou em exclusiva à ELA. O ocorrido fez a jornalista da TV Globo trancar seus comentários no Instagram.

"Um vídeo cortado de um momento de trabalho comum fez com que eu parecesse despreparada. Pessoas vieram ao meu perfil falar que sou burra. Com a repercussão, o próprio jogador me mandou mensagem pra saber como eu estava e se desculpar. Ninguém imagina como uma "brincadeira" pode ferir alguém".

Essa, no entanto, não foi a primeira vez que Gabriela sofreu com represálias de seguidores, principalmente homens. Em outubro, ela recebeu críticas ao compartilhar uma foto entrevistando o jogador Endrick, do Palmeiras. Entre os ataques, xingamentos como "Maria chuteira" e que ela queria aparecer mais do que o jogador. No Twitter, a jornalista desabafou.

"O caso ganhou repercussão e quis chamar atenção para o fato, e não para mim, porque a gente não pode ser tratada desta forma, nenhuma pessoa, principalmente uma repórter de esportes que estava fazendo o trabalho dela. Não me arrependo de ter falado porque as plataformas digitais não são seguras para as mulheres, em especial para aquelas que são jornalistas".

Segundo Gabriela, as pessoas precisam ser responsabilizadas pelo que falam na internet. "É importante a gente levantar a voz e entender a proporção daquilo que falamos. E é, sempre, por todas nós, mulheres, que devemos nos sentir seguras fazendo o nosso trabalho".

Apaixonada por esportes desde pequena, a jornalista conta que sempre contou com a parceria do pai para ir ao estádio e também conferir outras modalidades de esporte. "Ele sempre me incentivou e nunca teve atitudes machistas. Acabei sendo sua parceira no esporte porque ele me permitia isso. É muito importante falar sobre o assunto porque para as meninas e adolescentes, a cultura esportiva é negada", afirma.

Nosso dia a dia é de muito trabalho. É até engraçado porque as pessoas têm uma percepção diferente e acham que a gente consegue conhecer muito o país, ir aos pontos turísticos e, na verdade, a gente tenta encaixar isso no tempinho que dá. Eu ainda nem consegui ir ao Souq Waqif, que é o principal mercado e ponto turístico de Doha porque, depois da cobertura da preparação da Seleção Brasileira em Turim, chegamos ao Catar no mesmo dia do Brasil. Nossa rotina tem sido o centro de treinamento da Seleção, os estádios onde são os jogos do Brasil, o hotel onde a equipe está hospedada e a nossa redação. Quando sobre um tempo, pela manhã – e quando não vamos dormir muito tarde, consigo dar uma volta e ver um pouco do Catar. Acho importante para viver, de fato, essa experiência e ter uma percepção do país. Não posso falar que eu tive uma experiência ruim em relação a ser mulher aqui ainda, mas acho que é importante pontuar algumas coisas: eu não saio com roupa curta e não mostro muito meu corpo. Isso faz diferença para não chamar atenção. Conversando com as colegas aqui é que existe um estranhamento porque a gente não cobra os nossos cabelos, porque a gente está sempre rodeada de muitos homens, que são nossos colegas de trabalho. A gente percebe que há um estranhamento das pessoas, principalmente de outras culturas, por haver tantas mulheres envolvidas em uma Copa do Mundo. Isso é fato. Se você entra num elevador e só tem homens, eles estranham. Eu passei por uma experiência curiosa: tive de ir sozinha, com um carro de aplicativo, para um local que iria acontecer uma entrevista. Percebi que o motorista ficou muito constrangido pelo fato de eu ser mulher e estar trabalhando. Ele ficava olhando o tempo inteiro pelo retrovisor, como se ele tivesse em choque ou meio assustado. Essa é a maior percepção que eu tive até agora e em relação a esse choque de cultura que se tem por mulheres estarem presentes aqui na Copa do Mundo.

Fonte: O Globo


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