'Herdeiro do terror': filho de bin Laden diz que viu práticas da Al-Qaeda e hoje sofre crises de pânico

Omar viveu com o pais por cinco anos no Afeganistão, onde aprendeu a atirar e dirigir veículos de guerra Reprodução/The Sun

Mais de uma década após a morte de Osama bin Laden, o filho do "cérebro" por trás do 11 de setembro deu detalhes da convivência com o saudita durante a infância e abriu o coração sobre traumas gerados pelo parentesco com o fundador da organização terrorista Al-Qaeda. Em entrevista ao site de notícias britânico "The Sun", Omar bin Laden, de 41 anos, relatou que a sombra do pai ainda paira sobre ele nos recorrentes episódios de estresse e crise de pânico, e que se tornou pintor na tentativa de esquecer o passado no Afeganistão.

Ao jornal do Reino Unido, Omar contou ser o filho que bin Laden gostaria que continuasse seu legado no Oriente Médio, em uma espécie de "herdeiro do terror".

— Estive no Afeganistão por cinco anos. Meu pai nunca me pediu para ingressar na Al-Qaeda, mas ele me disse que eu era o filho escolhido para continuar seu trabalho. Ele ficou desapontado quando eu disse que não era adequado para aquela vida — recorda.

Fruto da relação de Osama com a primeira mulher, Najwa Al Ghanem, Omar nasceu na Arábia Saudita. Quarto filho do terrorista, ele lembra que o pai o ensinou, ainda adolescente, a disparar um fuzil AK-47 em campos de treinamento de terroristas e a dirigir um tanque russo, veículo blindado de combate usado em guerras.

Depois de passar a infância em Tora Bora, no leste afegão, ele decidiu se mudar para o Catar em abril de 2001, quando tinha 20 anos. A mudança se deu cinco meses antes do ataque às Torres Gêmeas em Nova York, nos Estados Unidos. O atentado, que matou quase três mil pessoas, é o maior da história do século XXI.

Omar Bin Laden e sua esposa mostram quadros em exposição na França - Foto: Jean-François MONIER / AFP


Uso de armas químicas em animais

Além disso, o agora artista narra ter presenciado cenas de maus-tratos a animais, usados para testes de armas químicas. Em um deles, os capangas de Osama usaram os cachorros de estimação da família, na presença dele, para realizar os experimentos.

— Eu apenas tento esquecer todos os momentos ruins o máximo que posso. É muito difícil. Você sofre o tempo todo — desabafa. — Estive no Afeganistão por cinco anos. Meu pai nunca me pediu para ingressar na Al-Qaeda, mas ele me disse que eu era o filho escolhido para continuar seu trabalho. Ele ficou desapontado quando eu disse que não era adequado para aquela vida — relembra.

Hoje casado com Zaina bin Laden, de 67 anos, ele pinta quadros que chegam a custar até £ 8,5 mil. No Brasil, as obras saem a mais de R$ 54 mil. Para o artista, a profissão escolhida é como uma terapia. Em julho, ele realizou sua segunda exposição de pinturas na França, onde vive com a esposa.

— Meu tema favorito são as montanhas depois de viver no Afeganistão por cinco anos. Elas me dão sensação de segurança, como se eu fosse intocável — revela.

Apesar de levar uma vida completamente diferente da que viveu o pai, a mulher de Omar afirma que o marido tem "traumas muitos graves", além de ter crises de pânico. Omar já teve entrada negada na Grã-Bretanha.

— Omar ama e odeia Osama ao mesmo tempo. Ele o ama porque é seu pai, mas odeia o que ele fez — conta Zaina, responsável por levá-lo a consultas com terapeutas para a prescrição de medicamentos controlados.

Embora tenha tido uma criação antiamericana, Omar se considera "outra vítima" de Osama e assume que adora McDonald's, KFC e filmes do cineasta Clint Eastwood. Amante da Inglaterra, ele sonha em viver no país e deu entrada no visto britânico.

Quando soube do falecimento do pai, morto por agentes da Marinha americana em uma operação no Paquistão, o pintor não chorou. A última vez que os dois haviam se falado foi quando ele deixou o Afeganistão, dez anos antes do falecimento do saudita.

— Não sei o que fizeram com ele. Dizem que o jogaram no oceano, mas não acredito nisso — declara. — Achei que estava tudo acabado e que não ia mais sofrer. E eu me enganei, porque as pessoas ainda me julgam hoje — finaliza.

Fonte: O Globo


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