Irmãs presas suspeitas de recrutar meninas para prostituição em garimpos na Terra Yanomami são levadas à cadeia

Irmãs Francisca de Fátima Guimarães Gomes (à esquerda) e Marilene Guimarães Gomes (à direita) foram presas pela PF por suspeita de exploração sexual de mulheres na Terra Yanomami — Foto: Reprodução

Investigadas pela Polícia Federal por exploração sexual de meninas e mulheres em garimpos na Terra Indígena Yanomami, as irmãs Francisca de Fátima Guimarães Gomes, de 40 anos, e Marilene Guimarães Gomes, de 44 anos, foram levadas à Cadeia Pública Feminina, em Boa Vista, após serem presas nesse sábado (18) na operação Palácios.

Atraídas pelas redes sociais com promessas de falsos trabalhos e salários irreais, as vítimas são levadas ao território com dívida inicial de R$ 10 mil e lá, são obrigadas a se prostituir em cabarés à serviço da atividade ilegal, de acordo com investigação da PF.

Além das irmãs presas nesse sábado, a PF também investiga no esquema Márcio Conceição Vieira, que é marido de Marilene, e Thaliny Nascimento Andrade – os dois também tiveram as prisões decretadas, mas não foram encontrados pelos agentes federais e estão foragidos.

O g1 teve acesso às fotos das irmãs presas na operação da PF. Nas imagens, feitas logo após elas serem fichadas pela polícia, as duas aparecem vestidas com o uniforme laranja usado por presas que ficam custodiadas na cadeia (veja acima). A prisão temporária delas é válida por 30 dias.

A reportagem tenta contato com as defesas das irmãs presas e demais investigados.

O resgate de uma menina de 15 anos submetida à exploração sexual na Terra Yanomami fez com que a PF chegasse aos quatro suspeitos. A adolescente passou cerca de 30 dias numa área de garimpo e relatou ao Conselho Tutelar que fazia até 16 programas por noite. Ela foi encontrada por agentes federais numa base de fiscalização que aborda barcos de invasores na região de Walopali.

Responsável pelo procedimento de resgate da menina, o delegado Marco Bontempo afirmou que esta foi a primeira vez que ficou tão evidente a logística utilizada para exploração sexual na Terra Yanomami.

"A PF já tinha conhecimento de 'cabarés' no garimpo, mas essa é a primeira vez que identificam uma logística tão estruturada, e que é uma das logísticas que mantém o garimpo", disse à Rede Amazônica.

Na base de Walopali, agentes da PF, Ibama, Força Nacional, Funai e Polícia Rodoviária Federal abordam barcos de garimpeiros que trafegam pelo rio Mucajaí para entrar ou sair da Terra Yanomami. Na região, há dezenas de garimpos estruturados no meio da floresta Amazônica para a exploração de ouro e cassiterita.

O esquema

A Polícia Federal afirma que os criminosos usam perfis falsos nas redes sociais para entrar em contato com as vítimas. A investigada Francisca de Fátima se apresenta na internet como "Sandra Guimarães" – ela é apontada como a principal líder do esquema criminoso.

Já a suspeita Thaliny Nascimento, que está foragida, usa o codinome "Paloma Gomes" – foi ela quem entrou em contato com a adolescente resgatada.

Investigada pela PF, Francisca de Fátima se apresenta na internet como "Sandra Guimarães" para recrutar meninas e mulhes — Foto: Reprodução/Jornal Nacional/Globo

Com o resgate da menina, a PF identificou as pessoas que estariam envolvidas na logística e na operacionalização do esquema criminoso, que envolve o envio de mulheres e de adolescentes para serem exploradas sexualmente em regiões de garimpo, inclusive mediante o engano delas.

Foi identificado que os aliciadores atraem as vítimas pelas redes sociais com promessas de ganhos irreais – isso aconteceu com a adolescente resgatada. Ela foi chamada para trabalhar na cozinha do garimpo e ganhar até R$ 5.800 em um mês, mas, ao chegar ao local, descobriu que teria de se prostituir.

"Por meio de perfis falsos em redes sociais, os aliciadores fariam o contato com mulheres e adolescentes, ofertando a possibilidade de trabalharem no garimpo nas mais variadas áreas (inclusive na prostituição) com promessa de ganhos irreais", detalha a PF.

"Após serem convencidas, um motorista à serviço do grupo criminoso buscaria as vítimas aliciadas, levando-as até uma pista clandestina, onde eram transportadas por avião até a área do garimpo. Lá chegando, em condições de extrema precariedade, as vítimas eram informadas e cobradas pelos custos do transporte, que custaria até R$ 10.000,00 gerando, a partir daí, uma dívida inicial com os gerentes do grupo criminoso."

Todo o sustento das vítimas, da alimentação até a moradia, era cobrado pelos aliciadores, de modo que a impedi-las de saírem de lá enquanto não quitassem a dívida.

Na tentativa de quitar dívidas cada vez maiores, "as vítimas chegavam a realizar até 15 programas por noite, além de sofrerem ameaças caso não quisessem se prostituir".

As prisões

Após o resgate da menina, a PF abriu inquérito e investiga o esquema criminoso. Com a identificação dos quatro suspeitos, a prisão foi decretada pelo juiz substituto Thiago Russi Rodrigues, da Vara de Crimes contra Vulneráveis da Justiça Estadual de Roraima.

Francisca de Fátima, a "Sandra Guimarães", foi presa pela PF em casa, no bairro Silvio Leite, zona Oeste de Boa Vista, logo na manhã de sábado. A irmã dela, Marilene, também foi presa em casa, no Santa Tereza.

Além das prisões, o juiz também deu ordem para que os agentes fizessem busca e apreensão de tudo que estivesse relacionado ao inquérito na casa dos investigados, como celulares, equipamentos eletrônicos, dinheiro em espécie, carros de luxo.

Na casa de uma das irmãs, policiais encontraram joias e ouro.

PF encontra joias e ouro na casa de investigado por exploração sexual de meninas e mulheres em garimpos na Terra Indígena Yanomami — Foto: PF/Divulgação

Fonte: G1


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