'Carne verde', hortaliças e legumes orgânicos cultivados por detentos alimentam famílias carentes no ES

Detento trabalhando em horta de presídio no ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Milho, aipim, cenoura, alface, ora-pro-nobis, conhecida como "carne verde", e outros legumes e hortaliças orgânicos cultivados por detentos da Penitenciária de Segurança Média I, de Viana, na Grande Vitória, têm ajudado alimentar famílias carentes do município.

Os presos não só plantam como também preparam a terra, cuidam e colhem os produtos entregues a famílias em vulnerabilidade social cadastradas em Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do município.

Ailton Rodrigues de Jesus está desempregado e recebe doações de verduras e legumes cultivados por detentos de Viana, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O morador Ailton Rodrigues de Jesus está desempregado e é um dos beneficiados pelo projeto. Segundo ele, a cesta verde é uma ajuda a mais para pessoas que como ele não tem uma renda fixa.

"Principalmente agora que estou desempregado, isso me ajuda muito. A gente quando está desempregado tem que fazer biscate ali e outro aqui, então não é uma renda certa. Vindo essas verduras pra gente já tem um dinheirinho extra pra comprar remédio e outras coisas", falou.

"Pra nós é gratificante e pra eles também sabendo que eles tão fazendo alguma coisa pra sociedade aqui fora e nós sabendo que vem das mãos deles gera esperança", disse o morador.

A iniciativa faz parte de um projeto da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) e da Prefeitura de Viana.

Magno Antônio Rizzi, um dos presos que trabalha na horta, disse que, além da oportunidade de ressocialização e remição da pena, tem sido gratificante trabalhar com o cultivo de orgânicos.

"A gente fica o dia todo cuidando. É gratificante, é muito bom porque diminui o tempo que a gente vai ficar aqui. Quando a gente faz bem pra alguém, a gente também fica bem. Se tiver espaço podemos plantar mais pra doar mais", disse o detento.

O detento também destacou a importância dos orgânicos para a natureza e disse que aplica na horta o conhecimento adquirido na roça.

"Esse conhecimento vem de família. Nasci na roça, sou rural e amo a natureza. O orgânico não é importante só pra planta e pra quem consome o alimento, ele é importante para o solo porque ele é o filtro da nossa água, dos lençóis freáticos, da nossa natureza. A gente quando não usa agrotóxico não está pensando só na planta, está pensando no solo, onde a gente pisa", contou o detento.

Detentos trabalhando em horta orgânica de presídio em Viana, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Ao todo, a plantação do presídio ocupa cerca de 20 mil metros quadrados da unidade prisional e conta com 10 mil pés de milho, 9 mil pés de aipim, 1 mil de ora-pro-nobis e 400 de quiabo.

Wescley Alves Frizzera, diretor da unidade, contou que no começo a horta era bem menor.

"A horta era artesanal, o objetivo era simplesmente atender servidores da unidade. O servidor ajudava e a manter a horta e toda sexta-feira levava um kit de verdura pra casa e também era utilizado para fazer pequenas doações. Há aproximadamente seis, sete meses, o município de Viana virou nosso parceiro. A partir dessa parceria foi possível trazer máquinas, aumentou o número de sementes e composto orgânico para as plantas", contou o diretor.

Atualmente, todas as etapas de produção são feitas dentro do presídio e o adubo é substituído por um pré-composto.

"A gente tem uma usina aqui em Viana que produz café e esse pré-composto, feito de palha e cinza de café, substitui o adubo e chega nessa qualidade de produto 100% orgânico", contou o diretor da penitenciária.

A expectativa é expandir o projeto e também construir uma granja que deve abrigar inicialmente cerca de 300 galinhas com ciclo totalmente sustentável.

Horta recebe recursos com o apoio do Ministério Público

Detentos trabalham em horta dentro de presídio no ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

A promotora Isabela de Deus informou que o Ministério Público também atua na manutenção do projeto.

De acordo com ela, quem comete algum tipo de crime ambiental pode ter como pena o pagamento em dinheiro e e essa quantia pode ser revertida para a plantação.

"Esses recursos vão para o fundo e o próprio conselho delibera 'olha esses recursos vão ser encaminhados para Secretaria de Justiça'. Nesse caso, esse recurso pode servir para aquisição de canos, caixa d 'água, das próprias sementes orgânicas que vão dar origens às cestas verdes e contribuir com outras necessidades", detalhou a promotora.

Fonte: G1    


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