Mulher que não sente dor é considerada chave para desenvolvimento de analgésicos mais eficazes

A escocesa Jo Cameron não sente nenhum tipo de dor Reprodução

Uma escocesa é considerada uma figura chave no desenvolvimento de analgésicos mais eficazes, sugere uma nova pesquisa. Jo Cameron nunca sentiu a necessidade de analgésicos. Ela é uma das duas únicas pessoas conhecidas (a outra é um paquistanês) em todo o mundo que carregam um gene único que lhe permite viver sem ansiedade, medo ou desconforto físico. Agora, os cientistas começaram a desvendar os mecanismos dessa rara mutação, fomentando a esperança na criação de analgésicos aprimorados.

"A descoberta inicial da raiz genética do fenótipo único de Jo Cameron foi um momento eureca e extremamente emocionante, mas essas descobertas atuais são onde as coisas realmente começam a ficar interessantes", disse o professor James Cox, da University College London Medical School, o principal responsável pelo estudo, em comunicado à imprensa.

"Ao entender precisamente o que está acontecendo em nível molecular, podemos começar a entender a biologia envolvida e isso abre possibilidades para a descoberta de medicamentos que podem um dia ter impactos positivos de longo alcance para os pacientes", completou ele.

Morando em Whitebridge, perto de Inverness (Escócia), com o marido Jim, a mulher de 74 anos, que tem dois filhos, descobriu sua singularidade apenas uma década atrás. Após cirurgias no quadril e uma das mãos, os seus médicos notaram sua ausência de dor, uma resposta incomum a tais procedimentos. Apesar de ter sido diagnosticada com degeneração articular grave no quadril, Jo não sentiu dor.

"Eu sabia que era uma pessoa despreocupada, mas não sabia que era diferente. Achei que era só eu", compartilha Cameron. "Eu não sabia que nada estranho estava acontecendo até os 65 anos", acrescentou a escocesa, que vive perto do famoso Lago Ness.

Sua insensibilidade à dor foi diagnosticada pelo Dr. Devjit Srivastava, consultor do NHS (serviço de saúde pública do Reino Unido) em anestesia e analgésicos. Em 2013, uma equipe da University College London identificou a variante do gene, chamada "FAAH-OUT". Essa variante desativa a versão normal e afeta outras vias moleculares relacionadas à cicatrização de feridas e ao humor.

"O gene FAAH-OUT é apenas um pequeno canto de um vasto continente, que este estudo começou a mapear", explicou Andrei Okorokov, que também participa da pesquisa, cujos resultados foram publicado na revista científica "Brain". "Como cientistas, é nosso dever explorar e acredito que essas descobertas terão implicações importantes para áreas de pesquisa como cicatrização de feridas, depressão e muito mais", emendou ele.

A escocesa Jo Cameron não sente nenhum tipo de dor — Foto: Reprodução

A condição médica, conhecida como analgesia congênita, pode ser perigosa porque a dor serve como um sinal de alerta. No entanto, os médicos especulam que Jo pode se curar mais rapidamente do que a média das pessoas. Sua combinação genética única também a torna menos ansiosa e um tanto esquecida.

"Não tenho adrenalina. As pessoas deveriam ter esse alerta, faz parte do ser humano. Mas eu não mudaria (a sua condição)", declarou Jo.

Anteriormente, pensava-se que a área do genoma contendo FAAH-OUT era DNA-lixo (DNA que parece não ter função). No entanto, descobriu-se que ele controla a expressão do FAAH, um gene que faz parte do sistema endocanabioide que regula as sensações de dor, estresse e emoções.

Fonte: Extra


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