Obesidade: médicos pedem a proibição do uso do termo, entenda


Especialistas sugerem que o excesso de peso seja chamado de ‘Desregulação Crônica do Apetite’ para remover o estigma da condição

Aumento do sobrepeso e obesidade aumenta urgência no combate a alimentos ultraprocessados Pixabay

Cientistas de ao menos duas universidades da Irlanda pedem para que a obesidade troque de nome para evitar e remover o estigma e refletir sobre as causas e consequências da condição. Segundo eles, medidas, como o IMC, deixam as pessoas confusas sobre o verdadeiro significado por trás da palavra e que o nome vai muito além do “ser muito gordo”.

Os especialistas sugerem que a doença seja rebatizada de "Desregulação Crônica do Apetite” para encorajar aqueles com sintomas a receberem tratamento. Os cientistas identificaram genes que poderiam aumentar o risco de obesidade. Segundo eles, mutações levariam a mudanças nas partes do cérebro que regulam o apetite, levando alguns a comer demais e ganhar peso.

Ao dar um novo nome a obesidade, os pesquisadores acreditam que abriria o caminho para pacientes que mais precisam acessar tratamentos, como as famosas injeções de Ozempic, que trata obesidade, mas está sendo utilizada para perda de peso, após ganhar espaço nas redes sociais.

Margaret Steele, professora e pesquisadora da Escola de Saúde Pública da University College Cork, é uma das defensoras do novo nome e diz que esforços devem ser feitos para “separar” a saúde pública e os significados médicos da obesidade, além de “reconhecer o fato de que estamos realmente falando sobre duas coisas diferentes”.

“Nosso ambiente joga muita comida em nós, mas algumas pessoas parecem ser capazes de resistir à tentação e parar de comer quando já comem o suficiente para manter o peso. No entanto, para outras pessoas isso simplesmente não parece funcionar – há algo acontecendo no cérebro, algo no nível de hormônios. Não é questão de força de vontade, não é questão de tomar decisões. Está em um nível muito, muito mais profundo sobre o qual não temos controle total”, afirma Steele.

Embora a mensagem de saúde pública se concentre no IMC para diagnosticar a obesidade, os profissionais médicos tendem a observar os processos fisiológicos de uma pessoa, como sua capacidade de armazenar excesso de energia como gordura, lidar com insulina e açúcar na dieta e quão bem alguém é capaz de funcionar metabolicamente.

Trabalhando ao lado da Universidade de Galway, os cientistas concluíram que o excesso de adiposidade (ou gordura) por si só não era suficiente para ser considerado uma doença. Em vez disso, aqueles com problemas fisiológicos que os impedem de regular o apetite devem ser diagnosticados com uma doença, mas deve receber um nome alternativo para obesidade.

"Precisamos pensar na doença como sendo separada da categoria de IMC porque há uma relação entre eles, mas não são a mesma coisa. Nem todos os gordos têm a doença – pode ser apenas que seu peso nominal seja maior, mas não há nada patológico acontecendo. Da mesma forma, você pode ser magro e ter a doença também”, diz a pesquisadora.

Os críticos dizem que medicalizar a obesidade, enquadrando-a como uma doença, e não como uma consequência do comportamento, pode ser contraproducente. Segundo especialistas, é o mesmo que tirar a responsabilidade do paciente e colocar nos médicos. Outros dizem que é transformar comportamentos ou escolhas em uma doença.

“As pessoas que estão acima do peso e querem perder peso devem ser recebidas com compaixão e apoio. Mas podemos ser gentis e atenciosos com as pessoas que estão lutando sem alegar que têm uma doença. Assim como fumar não é considerado uma doença, a obesidade também não deve ser”, diz Max Pemberton, psiquiatra e colunista do Daily Mail.

Fonte: O Globo


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