Fotos: vazante histórica deixa trecho do Rio Negro totalmente seco

O trecho, por onde grandes embarcações trafegavam, se transformou em chão repleto de rachaduras. Agora, é possível fazer o trajeto a pé.

Parte do Rio Negro secou próximo ao Cacau Pirêra. — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica

A vazante histórica que o Amazonas vem enfrentando deixou parte do Rio Negro seco e com uma extensa faixa de terra onde antes era água. O rio, que atualmente está medindo 15,29 metros, banha Manaus e é a segunda maior bacia do Amazonas.

Desde o dia 17 de junho, o Rio Negro vem descendo continuamente. No início, as águas baixavam uma média de 1cm a 2 cm por dia. Atualmente, o rio desce de 20 cm a 30 cm diariamente.

Trecho do Rio Negro antes da seca de 2023. — Foto: Rede Amazônica

Imagens que mostram o antes e depois, dão a dimensão de como o cenário mudou. Enquanto na época de cheia, o rio chegava até as margens do Distrito de Cacau Pirêra, em Iranduba, na seca, o paisagem dar lugar a uma faixa de terra gigante e com resquícios do que antes era o rio.

O trecho, por onde grandes embarcações trafegavam, se transformou em chão repleto de rachaduras. Agora, é possível fazer o trajeto a pé.

Balsa e rebocador ficaram encalhados onde antes era o Rio Negro. — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica

Inclusive, uma balsa e um rebocador estão encalhados na faixa de terra. A embarcação tentou passar pelo local quando ainda havia um trecho de água, mas acabou encalhando na areia.

Onde antes era o Rio Negro, há uma grande faixa de terra devido a seca. — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica

A típica coloração escura, uma das principais características do Rio Negro, também sumiu na área. No lugar, agora há um córrego, com uma cor barrenta.

Rio Negro secou em Manaus. — Foto: Michel Castro/Rede Globo

O biológo Guillermo Estupiñán, que é especialista em recursos pesqueiros e paisagens aquáticas da Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil, explicou que o Rio Negro perdeu a coloração nesse trecho por causa da vazante.

A cor escura do rio é atribuída à química da água, formada, em parte, pela decomposição de folhas que caem das árvores. Como o rio está distante da margem, e não entra em contato com as folhas, perde a cor escura.

"Ele tem essa coloração por conta de processos químicos, por conta das folhas da árvores da floresta. Ao longo do seu curso, o rio acaba tendo várias colorações devido ao ambiente que é formado. [...] ele também sofre alteração na sua cor devido à concentração de água. Atualmente, por conta da seca, ele está perdendo vazão [volume]. Está dessa cor", disse o especialista.

De acordo com o especialista, o comportamento da seca deste ano indica que esta será a maior vazante da história, superando a de 2010, quando o Rio Negro baixou para 13,63 metros.

"Falta menos de 2 metros para que o rio alcance a maior seca registrada no Rio Negro. Considerando que ainda falta um mês para o rio secar e que as previsões são de chuvas não muito fortes esse ano, então a gente, pode sim, superar o recorde negativo da maior seca", afirmou o biológo.

O Rio Negro

Rio Negro. — Foto: g1 AM

Com a nascente na Colômbia, o Rio Negro tem um percurso 2.500 km de extensão e é a terceiro maior da Amazônia, em tamanho.

Além disso, é a segunda maior sub-bacia do Amazonas, com um pouco mais de 10% da drenagem da bacia do Amazonas. O primeiro é o Solimões.

Juntos, Rio Negro e Solimões, formam o fenômeno natural "Encontro das Águas", um dos principais atrativos turísticos do Amazonas.

Com uma fauna diversa, o Rio Negro é lar de mamíferos, aves, botos e mais de 1.100 espécies de peixes que compartilham o espaço com uma extensa flora.

"O Rio Negro abriga uma fauna e uma flora muito diversa, tanto por mamíferos, aves. Abriga muitas espécies ameaçadas, como as antas, onça, peixe-boi, os botos. A bacia do Rio Negro tem mais ou menos 1.100 espécies de peixes, o que torna ela a segunda bacia mais diversa em fauna. Isso se deve a grande variedade de ambientes, corredeiras, de praia, a própria água que muda", explicou o especialista da WSC Brasil.

Além disso, a bacia banha Manaus, a capital do Amazonas, e exerce um importante papel na navegação do estado.

"Em termos de locomoção é o mais importante para o estado, porque o transporte entre carga e passageiros ocorre entre as cidades. Não se compara à navegação no Rio Amazonas e Rio Madeira, que nessa seca, por exemplo, traz problemas mais complexos para economia em geral", disse o especialista.

No entanto, para o turismo do Amazonas a bacia ganha relevância. Muitos passeios turísticos na região metropolitana de Manaus envolvem o Rio Negro. Com a seca, o setor começa a ser afetado.

"O Rio Negro é muito importante para o turismo, então, isso sim vai acabar afetando muitas pessoas que dependem dessa atividade", disse Guillermo.

O g1 entrou em contato com a Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur) para obter dados sobre os efeitos da seca no turismo no estado, e aguarda retorno.

Fonte: G1

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