Presidente argentino, que chamou pontífice de 'imbecil que defende a justiça social' durante campanha, teve encontro privado com Francisco nesta segunda (12) no Vaticano. Milei, que tem minoria no Congresso, tenta aproximação com base conservadora católica argentina.
O presidente argentino, Javier Milei, cumprimenta o papa Francisco na chega de audiência no Vaticano, em 12 de fevereiro de 2024. — Foto: Vaticano via Reuters
O presidente da Argentina, Javier Milei, manteve nesta segunda-feira (12) um encontro privado com o papa Francisco no Vaticano. No encontro, Milei presenteou o pontífice, seu compatriota, com alfajores e biscoitos argentinos e pediu desculpa por críticas que fez a Francisco.
Durante a campanha eleitoral da Argentina no ano passado, Javier Milei chamou o papa de “imbecil que defende a justiça social”. No entanto, nas últimas semanas o presidente, que tenta reforçar o apoio da sua base católica conservadora, mudou o tom.
Segundo um boletim do Vaticano, Francisco e Milei conversaram por cerca de uma hora. O presidente argentino chegou atrasado ao encontro após parar para cumprimentar um grupo de argentinos.
Eles se reuniram em um momento em que a Argentina enfrenta a pior crise econômica em décadas, com uma inflação superior a 200%. Milei também enfrenta dificuldades no Congresso após a rejeição parlamentar da sua chamada Lei 'Ómnibus', que chegou a ser aprovada pela Câmara de Deputados mas foi devolvida a uma comissão e voltou à estaca zero.
O presidente discutiu “o programa do novo governo (argentino) para combater a crise econômica”, entre outros tópicos, durante conversações separadas com o segundo em comando do Vaticano, o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, disse um comunicado do Vaticano.
Antes da reunião, quando questionado sobre os insultos passados, o chefe do escritório de doutrina do Vaticano disse: “O papa é uma pessoa que tem muito carinho por todos, por isso não há qualquer dúvida de que ele tenha qualquer animosidade”.
O papa considerou os comentários anteriores “como uma estratégia de campanha”, disse aos jornalistas o cardeal Victor Manuel Fernandez, que também é argentino. Mesmo que o papa não goste de “algumas tendências políticas e ideológicas” na Argentina, “ele sempre se preocupará com aqueles que sofrem”, acrescentou.
Milei levou alfajores de doce de leite e biscoitos de limão de uma marca argentina que o papa gosta na segunda-feira, disse o porta-voz presidencial da Argentina, Manuel Adorni.
No domingo (11), eles conversaram ao final de uma missa de canonização na Basílica de São Pedro para a primeira santa argentina, María Antonia de Paz y Figueroa, uma leiga consagrada do século XVIII, mais conhecida como "Mama Antula".
Francisco, que tem 87 anos e dificuldade para andar, estava em uma cadeira de rodas quando foi cumprimentar Milei após o culto. Ele sorriu, estendeu a mão e lhe disse: "Você cortou o cabelo!"
Milei, que ainda usa o cabelo longo de forma não convencional para um político, brincou sobre o fato de ter arrumado sua aparência e perguntou se poderia abraçar e beijar o papa. Um Francisco sorridente respondeu: "Sim, filho, sim".
Milei disse que o o papa é "o argentino mais importante da história".
Visita à Argentina em foco
Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, irritou alguns de seus compatriotas por não visitar sua terra natal desde que se tornou papa em 2013.
Ele disse que poderá finalmente viajar para a “sofrida” Argentina no segundo semestre deste ano -- embora o cardeal Fernández tenha dito nesta segunda-feira que não está claro se a viagem papal acontecerá “porque depende de muitas coisas”.
Garantir a visita poderia ser um grande impulso para Milei, que busca agradar seus apoiadores católicos conservadores.
Francisco já disse anteriormente que não queria ser explorado politicamente por políticos argentinos. Na sexta-feira, ele disse que o "individualismo radical" permeia a sociedade como um "vírus", em palavras que podem chocar os instintos radicais de livre mercado de Milei.
Fonte: g1