Há muito tempo os agricultores utilizam produtos químicos para proteger as colheitas das pragas. Recentemente, muitos passaram a aderir aos defensivos agrícolas naturais. Mas, como funcionam esses produtos?Desde o princípio da agricultura, os fazendeiros lutam para encontrar meios de proteger as plantações de pragas e pestes.
Na antiga Pérsia (atual Irã), o inseticida natural piretrina, produzido a partir de crisântemos secos, era utilizado para paralisar insetos que atacavam plantas comestíveis e, mais tarde, para matar piolhos.
No final do século 20, as monoculturas de larga escala empregavam produtos químicos contendo arsênico, enxofre ou cobre para proteger frutas, cereais e vegetais das pragas.
Todos esses pesticidas químicos tiveram impacto profundo nos ecossistemas e na saúde humana, o que levou alguns países a proibi-los. A União Europeia (UE) há muito vem tentando, sem sucesso, banir o glifosato, um herbicida que ameaça a biodiversidade e está associado ao surgimento de casos de câncer.
Mas, qual seriam as alternativas a esses agrotóxicos?
Produção de pesticidas naturais
Assine nossa newsletter:Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mailCadastre-se
Os pesticidas orgânicos criados a partir de plantas, como a piretrina, óleos essenciais de neem ou determinadas espécies de fungos que agem contra os patógenos, se tornam cada vez mais populares em todo o mundo, à medida em que os fazendeiros evitam os pesticidas químicos.
As árvores neem, bastante comuns na Índia, contém uma quantidade de limonóides – normalmente encontrados em plantas cítricas conhecidas por suas propriedades inseticidas – que repelem os insetos quando aplicados na forma de óleo essencial.
Esse pesticida natural é eficaz, por exemplo, no controle de gafanhotos, ao impedi-los de formarem suas nuvens ou enxames capazes de causar enorme destruição.
O óleo essencial de alecrim também se comprovou altamente eficaz em repelir pulgões que atrofiam e deformam várias espécies de cereais ou vegetais.
Ao mesmo tempo, um fazendeiro em Tamil Nadul, no sul da Índia, substituiu pesticidas químicos que faziam mal à sua saúde por um spray feito por ele próprio com urina de vaca e alho-poró cultivado em sua região. Como resultado, suas colheitas orgânicas estão florescendo.
Como funcionam
Um estudo de pesquisadores australianos publicado em dezembro passado demonstrou como os pulgões verdes se tornam resistentes aos agrotóxicos, como parte de uma tendência global. Contra isso, os autores recomendaram alternativas de controle não-químico de pragas, incluindo o emprego de "inimigos naturais", como joaninhas e vespas parasitoides.
Outra opção, segundo o estudo, seriam novas bactérias utilizadas com êxito no controle de doenças transmitidas por mosquitos. Ao invés de depender dos pesticidas químicos, o ideal seria empregar soluções especificas de cada região para o controle das pragas.
O Brasil, o maior exportador mundial de soja, vem obtendo avanços na criação de pesticidas naturais com a utilização de fungos e bactérias.
A aplicação desses microrganismos naturais vem se provando bastante benéfica, ao permitir que as plantações de soja possam florescer e, ao mesmo tempo, resistir a pragas e doenças.
O Brasil, que também é um dos maiores exportadores de milho e algodão, é o principal consumidor global de agrotóxicos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Contudo, mesmo com o aumento contínuo do uso dos pesticidas químicos, as vendas de defensores agrícolas orgânicos mais do que dobraram no país – de 4% do total das vendas em 2020 a 9% em 2022.
Vantagens dos pesticidas orgânicos
Os chamados pesticidas microbiais consistem em microrganismos, como bactérias e fungos, capazes de controlar uma ampla variedade de pestes, segundo afirma uma avaliação da Autoridade de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.
Os mais utilizados são algumas variedades da bactéria Bacillus thuringiensis que produz uma mistura de proteínas capaz de matar diversas espécies de larvas de insetos.
Esses pesticidas não apenas são menos tóxicos do que os convencionais, mas também limitam seu impacto às "pragas visadas e organismos proximamente associados", diz a EPA.
Essa aplicação localizada contrasta com os pesticidas convencionais que afetam vários outros organismos, como espécies de aves, insetos e mamíferos.
Os pesticidas orgânicos também são eficazes se aplicados em pequenas quantidades, diz a agência americana. Além disso, eles se decompõem rapidamente, o que reduz a exposição ambiental e a poluição associadas aos defensivos agrícolas convencionais.
Os pesticidas naturais também resultam em colheitas substanciais. Resta saber, no entanto, como as mudanças climáticas e o aumento do CO2 na atmosfera vão modificar a dinâmica entre certos tipos de plantas e as pragas.
Fonte: Isto É