Homem que enganou traficantes ao se passar por PM e foi morto junto com a família: veja perguntas e respostas

Filipe Rodrigues, Rayssa Santos e o bebê Miguel Filipe estavam em um carro quando criminosos abriram fogo. Qual foi a motivação para o ataque contra a família? Por que Filipe foi até o local do crime? Os criminosos conheciam as vítimas?

Filipe Rodrigues, a mulher, Rayssa Santos, e Lucas Lopes da Silva, o Naíba — Foto: Reprodução/TV Globo

Homem morto ao lado da família disse ao tráfico que era PM ‘demolidor do batalhão’

O motorista de aplicativo Filipe Rodrigues, de 24 anos, sua esposa Rayssa Santos, de 23, e o filho do casal, Miguel Filipe, de 7 meses, foram assassinados na noite do dia 17 de março, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

O carro onde a família estava foi atingido por mais de 20 disparos, segundo o delegado Willians Batista, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. De acordo com a perícia, 14 tiros acertaram os três, sendo dois diretos no bebê.

Inicialmente, os parentes das vítimas não encontraram explicações para o crime bárbaro. Contudo, a investigação da Polícia Civil revelou um roteiro surpreendente.

Em 17 dias, os agentes prenderam um dos suspeitos de planejar a morte de Filipe e descobriram que o motorista de aplicativo se passava por policial e fez acordo com traficantes para entregar um suposto informante.


Veja perguntas e respostas sobre o caso:
  • Filipe era policial militar?
  • Qual era a ligação de Filipe com o tráfico da comunidade do Castro?
  • Qual era o acordo entre Filipe e os traficantes?
  • Como a polícia confirmou que Filipe mantinha contatos com os traficantes?
  • Os traficantes desconfiaram de Filipe?
  • O que aconteceu com o suposto informante que Filipe queria entregar?
  • O que aconteceu no dia do crime?
  • Quem já foi preso por suspeita de envolvimento no crime?
  • O que a polícia ainda falta esclarecer?

1. Filipe era policial militar?

Filipe Rodrigues trabalhava como motorista de aplicativo e gesseiro. Ele nunca foi policial militar e nem agente de nenhuma das forças de segurança do Rio de Janeiro.


2. Qual era a ligação de Filipe com o tráfico da comunidade do Castro?

De acordo com as investigações da Polícia Civil, Filipe entrou em contato com Lucas Lopes da Silva, o Naíba, apontado como chefe do tráfico do Castro, comunidade de Niterói.

No primeiro contato entre eles, Filipe se apresentou como Demolidor, e se identificou como soldado do 7º BPM (São Gonçalo).

Na ocasião, Filipe disse que teria informações sobre uma pessoa que seria informante da polícia na favela. Ele ofereceu aos traficantes a possibilidade de entregar a localização do informante em troca de uma recompensa financeira.


3. Qual era o acordo entre Filipe e os traficantes?

Logo após trocar mensagens com o chefe do tráfico na favela e falar sobre o suposto informante, Filipe pediu que Naíba pensasse em um valor para oferecer pela localização do "x9".

Alguns minutos depois, Naíba ofereceu R$ 50 mil pela emboscada ao x-9. Filipe aceitou, mas reclamou do valor, alegando que outros PMs do 7º BPM também estavam no esquema.
  • Naíba: Fala tu
  • Filipe: Vs [visão]
  • Naíba: 50 k
  • Filipe: Calma ai
  • Naíba: Pra fica bom pros 2 lado
  • Filipe: Vê se o pessoal aqui tá de acordo. 50k e uma peça [uma arma] pra quando a gente precisar fazer uma ocorrência aqui pode ser? Eles queriam 70 pq estamos em 7 aqui mas desenrolei.

4. Como a polícia confirmou que Filipe mantinha contatos com os traficantes?

A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí apurou que Filipe exigiu R$ 50 mil para identificar e entregar um suposto informante. Pelo menos R$ 11 mil foram pagos. Segundo as investigações, no meio da negociação, os traficantes descobriram que Filipe nunca tinha sido policial e decidiram matá-lo.

Os investigadores chegaram a essa conclusão depois de interceptarem trocas de mensagens no telefone de Filipe, onde ele tratava sobre o assunto com dois traficantes, Naiba e Wesley Pires da Silva Sodré, que foi preso suspeito de envolvimento no crime.

No diálogo com Naíba, Filipe avisou que o alvo estava no Castro.
  • Filipe: Agora fala você, vai querer resolver isso logo hoje? Aproveita que ele tá aí.
  • Naíba: No Castro?
  • Filipe: Separa meu dinheiro aí, vai. Já manda descer que já mando foto. Ainda te falo onde tu vai buscar ele. Você vai separar aí, vai mandar o moto aqui encontrar com o meu moto, assim que tiver lá, eu mando a foto dele e falo onde ele tá caindo. Se você quiser ainda faço melhor, marco como se fosse encontrar ele e você pega ele na boa na pista. Aí é contigo.

5. Os traficantes desconfiaram de Filipe?

Mesmo após oferecerem R$ 50 mil pelas informações que Filipe tinha, os traficantes ainda desconfiavam se ele era mesmo policial. Durante a negociação, Naiba também sugeriu parcelar o valor combinado e propôs um encontro com Filipe.
  • Filipe: Iai jogador?
  • Naíba: Mn o que da pra mim fazer é 10 k toda semana até bater esses 50 k aí. E preciso de áudio dele pra fica uma parada mas concreta. Aqui é papo de homem
  • Filipe: Assim não dá não. Áudio fica difícil, tem a conversa aí, quer mais os 100, que isso? Ia aproveitar que ele tá aí perto já resolvia hj. Já dava logo. Manda separar os 50k aí que vcs tem, você sabe que hj mesmo vcs já pega o X
  • Naíba: Mn aqui é parada de homem. Manda o áudio pra nois resolver. Se quiser tbm da um papo pessoalmente tbm já é pra tu ver que papo é firme.

Em 15 de março, segundo a apuração da delegacia, Filipe armou uma emboscada para o informante, e Wesley participou da captura.

No dia 16 de março, Naíba e Filipe travaram uma conversa em que é possível deduzir que os dois se encontraram e que R$ 11 mil foram entregues ao “Demolidor”.
  • Naíba: Ainda to na dúvida se tu é plc [polícia] mermo
  • Filipe: Mas qual foi?
  • Naíba: Ve se tu entende, vc chega com um ctt [contato] passando umas vz [visões] que e ate verdadeiras... veio aqui botou a cara show troco um pp [papo] bateu ate com o que nos já sabia suas visao
  • Filipe: Sou sdd [soldado] mn, da minha equipe quem é o mas recruta sou eu, quem tem que resolver tudo da guarnição sou eu, a diferença que já fui envolvido em vários bglh, de contravenção, jogo do bicho, maquininha, os cara aqui confia em mim pra lidar com o arrego [propina] nosso (...). Não precisamos de apresentação formal não irmão, o que precisamos é do papo reto um do outro, vou levar o X para vc e você vai seguir os 39 que tá faltando

6. O que aconteceu com o suposto informante que Filipe queria entregar?

A polícia não divulgou o nome da pessoa que, segundo Filipe, era um “x-9” infiltrado no Castro, mas ela consta como desaparecida e provavelmente está morta.


7. O que aconteceu no dia do crime?

Filipe passou o dia 17 de março cobrando Naíba sobre o resto do pagamento. Possivelmente nessa hora o tráfico já tinha descoberto a farsa. Na noite daquele domingo, Wesley orientou Filipe a buscar o dinheiro — mas a emboscada já estava preparada.

Durante o trajeto, Wesley ia mudando o local de entrega e atraía Filipe para cada vez mais perto do Castro. Até que o Voyage onde Filipe estava com a mulher e o filho chegou ao bairro Baldeador, onde foi crivado de balas.


8. Quem já foi preso por suspeita de envolvimento no crime?

Naíba foi alvo de um mandado de prisão nesta quarta-feira (3) e está foragido. Wesley Pires da Silva Sodré foi preso suspeito de envolvimento no crime.
Filipe Rodrigues, Miguel Felipe e Rayssa Santos — Foto: Reprodução


9. O que a polícia ainda falta esclarecer?

A polícia ainda busca informações sobre quem atirou na família.

"Os tiros se concentraram na parte da frente e na lateral, em dois pontos, todos eles direcionados para o motorista [Filipe], como alvo principal. Foram apreendidos estojos de calibre 40 e de fuzil, o que indica ao menos dois atiradores”, acrescentou o delegado Willians Batista.

Fonte: G1



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